Sentadas na luxuosa sala de estar, Maria Helena, Luciana e Maria
Lúcia, saboreavam o chá. Naquela tarde, após a aula, Maria Helena insistira
e Luciana julgara indelicado recusar. Na mesa auxiliar, guloseimas servidas
pela criada impecável.
Maria Helena conversava com Luciana, enquanto que Maria Lúcia permanecia
na postura costumeira. Porém , Luciana percebia que sob aquela atitude de
indiferença, os olhos da moça, de quando em vez, refletiam um interesse que ela
se apressava em esconder.
Conversaram sobre arte e Maria Helena encantou-se com a erudição e
a ponderação de Luciana. Depois, interessou-se pela sua vida
pessoal, perguntando sobre sua avó e seus pais.
Com naturalidade, Luciana contou-lhe em rápidas palavras a morte de sua mãe e
do avô.
— E quanto a seu pai? — inquiriu ela.
— Morreu antes do meu nascimento.
Julgava a curiosidade de Maria Helena inoportuna e delicadamente contou a
história costumeira e que até há pouco julgara verdadeira.
— Ah! Por certo deixou-lhe bens. Vejo que recebeu excelente instrução.
Luciana concordou com a cabeça.
— Minha mãe e também minha avó sempre fizeram questão que eu cursasse
bons colégios e tivesse boa formação. Estudei na Inglaterra, como sabe. — Sei...
Nesse momento, a porta abriu-se e João Henrique entrou acompanhado por dois
amigos. Vendo Luciana, olhou-a admirado.
Maria Helena levantou-se. Seu rosto iluminara-se vendo o filho.
— Que surpresa agradável, meu filho.
O moço beijou a face da mãe que estendeu a mão aos dois rapazes, dizendo:
— Ulisses e Jarbas, que prazer!
Os moços curvaram-se beijando delicadamente a mão que ela lhes estendia.
— Desejo apresentar-lhes a srta. Luciana, professora de Maria Lúcia.
Este é João Henrique e seus colegas de faculdade, Jarbas e Ulisses.
Luciana fez gracioso aceno com a cabeça olhando para os três rapazes.
— Encantado — disse Jarbas.
— Prazer — disse João Henrique.
— Como vai? — disse Ulisses.
Maria Lúcia continuava de olhos baixos sorvendo seu chá. João
Henrique ignorou-a. Os outros dois disseram um “ Como vai, Maria Lúcia?” mais
por hábito, sem esperar nenhuma resposta.
— Chegaram em boa hora — disse Maria Helena. —Acomodem-se e tomem
um chá conosco.
Os rapazes aceitaram de bom grado.
Vendo João Henrique, Luciana compreendeu porque a mãe o admirava tanto.
Sua figura alta, elegante, seu rosto fino e bem-feito, seus cabelos fartos e
naturalmente ondulados de belo tom castanho dourado, eram bela moldura para
seus olhos brilhantes e magnéticos. Deve ter força de vontade e
sempre conseguir o que quer, pensou ela. Era parecido com a mãe, embora os
cabelos se assemelhassem aos do pai.
Jarbas era moreno, alto, cabelos escuros também ondulados, lábios bem-feitos e
sorriso agradável, mostrando dentes alvos e bem distribuídos. Ulisses, estatura
mediana, louro, olhos claros e sonhadores, barba bem cuidada ao redor de seus
lábios rosados.
Os três eram bonitos, elegantes. Conversando alegremente
procuravam disfarçadamente observar Luciana.
De onde viera aquela beldade? Nenhum deles se lembrava de tê-la visto nos
salões ou nos teatros. Onde se escondera?
Luciana continuava calma e discretamente a tomar seu chá. Maria
Helena conduzia a conversação procurando ser agradável. João Henrique
levantou-se e foi sentar-se ao lado de Luciana no sofá.
— Permite?
— Certamente. — disse ela.
— Mamãe tem me falado sobre a srta. Seus métodos são diferentes.
— As pessoas são diferentes umas das outras. Não se pode generalizar.
— As coisas quando são certas e verdadeiras o são para todas as pessoas.
— Se se refere às leis da vida, concordo plenamente, mas não posso deixar de
perceber que a vida, mesmo tendo suas leis básicas as quais obedece, não conduz
as pessoas da mesma maneira. A cada um dá as oportunidades que precisa para
desenvolver-se e aprender.
João Henrique surpreendeu-se. Não esperava essa resposta. Estava habituado
sempre a dizer as coisas e os outros ouvirem. Felizmente não percebeu o brilho
alegre dos olhos dos dois amigos, deliciando-se com a resposta dela.
— Vejo que é observadora, — disse.
Serviu-se de chá e permaneceu silencioso. Luciana terminou seu chá, levantou-
se e dirigindo-se a Maria Helena:
— D. Maria Helena, preciso ir. Agradeço seu convite. O chá estava delicioso.
Aproximou-se de Maria Lúcia que parecia mais apática do que nunca, abraçou-a
delicadamente, beijando-lhe a face com carinho.
— Até outro dia — disse — não se esqueça do que combinamos. — Curvando-se
ligeiramente diante dos rapazes, saiu depois de apanhar sua pasta sob a mesa.
Os rapazes observaram-lhe a figura graciosa que se afastava.
— Que mulher! — disse Jarbas, baixinho.
— Onde se esconde? — indagou Ulisses.
João Henrique olhou-os sério. Maria Helena sorriu:
— Vocês não podem ver uma moça, ficam logo entusiasmados!
— Uma beldade dessas! — tornou Jarbas.
— Uma mulher inteligente. Coisa rara! — disse Ulisses. Notando o olhar de Maria Helena sobre ele, prosseguiu amável: —Um privilégio de D.
Maria Helena, tão bela quanto inteligente.
Maria Helena sorriu maliciosa.
— Vocês são galanteadores. Sentem-se e continuem seu chá.
Os rapazes acomodaram-se e conversaram animadamente. Quando Maria
Helena deixou a sala, eles passaram a falar da companhia de revista, cuja estrela
fazia lotar o teatro todas as noites.
Um pouco corada, Maria Lúcia levantou-se e saiu da sala. João Henrique fez um
gesto de aborrecimento.
— Desculpe, João, esqueci que sua irmã estava na sala —justificou-se Ulisses.
— Puxa! Que gafe! Talvez ela não tenha prestado atenção. Ela nunca se interessa
pelos nossos assuntos.
João Henrique deu de ombros.
— Não faz mal. Nos distraímos. Voltemos ao assunto, agora estamos sós.
— Eu gostei do espetáculo. É uma bela mulher — opinou Jarbas.
— Pois eu prefiro essa professorinha que estava aqui —ajuntou Ulisses.
— Que idéia! — fez João Henrique. — São tão diferentes. Não há termo de
comparação. Uma é artista, cheia de alegria de viver, empolga multidões; a
outra é só uma simples professorinha.
Ulisses suspirou:
— Pois eu a prefiro. O brilho de seus olhos mexeu comigo. Quero voltar a vê-la.
— Se o fizer, que mamãe não saiba.
— Por quê? Tencionava pedir informações a D. Maria Helena.
João Henrique sacudiu a cabeça negativamente.
— Ela não vai gostar. É muito rigorosa com essas coisas. Por certo, despedirá a moça se desconfiar que um de nós está interessado nela.
— Hum! — fez Ulisses, pensativo. — Não faz mal.
— Desistiu? — brincou Jarbas.
— Não. Mas darei outro jeito — respondeu ele.
Maria Lúcia fora para o jardim envergonhada. Os rapazes conversaram sobre
mulheres de forma desrespeitosa — pensou ela. Não se lembraram que ela
estava ali.
Sua mãe lhe dizia que esse tipo de espetáculo não era próprio para mulheres
honestas. Jamais falava sobre isso em sua presença. De repente, ela sentiu o
aroma de jasmim. Era bom sentir esse perfume. Dirigiu-se ao banco onde se
sentara com Luciana e sentou-se. Ela era linda! Vira a admiração no rosto dos
rapazes. Até João Henrique tinha conversado com ela. Ele nunca dirigira a
palavra a D. Eudóxia.
Luciana era forte, pensou, não se intimidava com a presença dos moços nem
com a pose de seu irmão. Sorriu pensando na resposta que ela lhe dera. Logo ele,
tão sabichão! Luciana tornara-se seu ídolo. Em suas fantasias, copiava a moça,
via-se como ela. Ah! se pudesse ser como ela! Mas isso era impossível.
Nunca nenhum moço a olhara como o fizeram para Luciana. Ela era feia e
inútil. Tão inútil que ninguém sequer reparava em sua presença.
Sentiu uma raiva surda brotar dentro do peito. Teve vontade de voltar à sala e ver
se eles continuariam a conversar assuntos proibidos diante dela.
Contudo, ficou ali, trêmula, sentindo as lágrimas rolarem pelas faces e
uma imensa angústia no coração.
Aos poucos, foi passando e ela sentiu-se mais calma. Continuou sentada, sentindo
o cheiro do jasmim. Lembrou-se das palavras de Luciana:
— Veja como é linda a natureza. Sinta esse perfume. Olhe os pássaros como
estão felizes.
Levantou os olhos e olhou ao redor. O céu estava colorido pelos últimos raios do
sol que já se ocultara no horizonte, e os galhos dos arbustos balançavam
docemente. Olhou aquela cena como se a estivesse vendo pela primeira vez. Que
desenhos caprichosos as cores faziam no céu! Era mesmo uma beleza.
— Maria Lúcia!
A moça sobressaltou-se. Ulisses estava no banco a seu lado.
— Desculpe. Não pretendia assustá-la. Você estava tão distraída olhando o céu...
— Ah!
— Preciso de um favor seu. Sua mãe não deve saber.
Amoça ruborizou-se. Ele prosseguiu:
- É sobre a srta. Luciana. Desejo voltar a vê-la. Pode dar-me seu endereço?
— Não o tenho. — disse. — Mamãe é quem sabe. Mas ela vai estar aqui na
quinta-feira.
— Obrigado — disse ele contente. Apanhou a mão de Maria Lúcia e a beijou
com galanteria: — Fez-me um grande favor.
Saiu rápido e Maria Lúcia sentiu seu coração bater forte. Fora a primeira vez que
um moço bonito, elegante, lhe beijara a mão. Levantou o braço e passou as
costas da mão pela face. Sentiu uma onda de calor envolver seu coração. Teve
vontade de cantar. Ficou ali, pensando até que a noite desceu e a criada surgiu
chamando-a para o jantar.
Quando Luciana chegou na quinta-feira, Maria Lúcia esperava-a
ansiosa. Luciana percebeu, mas agiu com naturalidade.
— Hoje, faz um mês que nos conhecemos. — disse. —Vamos ao piano?
Maria Lúcia fez um gesto Contrariado.
— Não gostou da idéia? Escolhi alguns exercícios que Considero bons para nós.
— Está bem — disse a moça com ar desanimado.
Luciana colocou a mão em seu ombro.
— Olhe para mim, Maria Lúcia. Pode ser franca comigo. Não quer estudar
piano?
Não lhe passou despercebido o rápido lampejo dos olhos da moça.
— É isso? — insistiu Luciana.
— É.
— O quê?
— Por que não me disse?
— Não quero que você vá embora.
- Ah! Você sabe que eu estou aqui para ensiná-la a tocar piano e que se eu não o
fizer, terei que ir embora. Certo?
— É.
— Mas você não gosta de piano. Eu diria mesmo que o odeia.
Ela baixou a cabeça e não respondeu. Luciana segurou o seu queixo e levantou-
lhe o rosto.
— Olhe para mim, nos olhos. Somos amigas. Não precisa ter segredos
comigo.Eu não quero deixar de vir aqui, porque eu gosto de você. Quero ensiná-
la a perceber muitas coisas que você não vê e ajudá-la a tornar-se uma
pessoa amada, alegre e feliz. Você quer?
O rosto de Maria Lúcia iluminou-se, e ela atirou-se nos braços de
Luciana chorando convulsivamente. Luciana abraçou-a com carinho e esperou
que ela se acalmasse. Depois, fê-la sentar-se no sofá e sentou-se a seu lado.
— Precisamos conversar seriamente. Você confia em mim e quer mudar?
Maria Lúcia, lábios trêmulos, mãos frias e rosto molhado, respondeu baixinho:
— Quero.
Luciana tornou:
— O que disse?
— Quero — disse ela um pouco mais alto.
— Repita. Não ouvi nada.
— Quero! tornou ela, elevando mais o tom.
—O quê?
— Quero — repetiu quase gritando desta vez.
— Repita várias vezes: Eu quero mudar! Fale forte e alto.
Maria Lúcia obedeceu e repetiu a frase e à medida que o fazia, sua voz tornava-
se mais firme e forte. Seu rosto modificava-se à medida em que falava.
Luciana levantou-se e pegando-a pelo braço disse:
— Venha comigo. Aqui. Olhe no espelho. Veja como você está linda!
Maria Lúcia obedeceu. Olhou-se. Parecia outra pessoa. Não saberia dizer o quê,
mas sentia-se diferente. Luciana continuou:
— Você é uma moça muito bonita. Veja que olhos lindos possui. Sua tez é
delicada, seu rubor a torna mais bela. Sua boca é bem-feita. Seus cabelos são
como os de seu irmão. Por que os prende severamente?
— Ninguém me acha bonita — balbuciou ela.
— Os outros acham aquilo que você acredita. Ë você que precisa gostar de si
mesma, realçar sua beleza.
— Posso ficar horas em uma sala que ninguém repara em mim.
— Você se fecha e não permite que ninguém se aproxime. Sente-se apavorada
quando alguém chega perto.
— Ontem, os moços olharam para você com admiração. Porque você é bonita.
Quando você saiu e mamãe também, falaram coisas impróprias, esqueceram
que eu estava ali.
— Você ficou com raiva.
— Eu saí. Tive vergonha.
— O que fez depois?
— Fui ao jardim. Senti o perfume das flores e sentei naquele banco.
— Só?
— Eu chorei de raiva. Depois, olhei o céu, estava tão lindo, todo cor-de-rosa. Foi
aí que o Ulisses apareceu. Levei um susto.
— E depois?
— Ele queria saber de você. Seu endereço. Eu não sabia e disse-lhe que você viria hoje...
Ela parou um pouco ruborizada e passou as costas da mão pela face.
— Conte o resto.
Ela sacudiu a cabeça negativamente.
— Vamos, o que foi?
— Ele disse obrigado e beijou minha mão.
— Você desejou ser bonita, amada, cortejada!
Maria Lúcia baixou a cabeça sem coragem para confirmar.
— Eu acredito em você — tornou Luciana, — você é bonita, mas falta-
lhe colocar fora a chama interior. Você não permite que ela se expresse.
Impede-a de todas as formas de manifestar-se. A beleza física só é completa
quando vivificada pela força da alma. Éesse algo que atrai, que prende, que
alimenta.
Você quer mudar. Eu quero ajudá-la.
— Eu não sei como! É difícil!
— Não se faça de fraca, coisa que você não é; nem de burra, o que também não
é. Nem de vítima o que não é verdade. É ótimo ficar na posição de vítima, pobre
menina, mal-amada pela mãe, ignorada pelos demais e incapaz de aprender as
coisas. Porque assim, você envergonha sua mãe, arrasa todo mundo que precisa
agüentar sua presença infeliz. Sabe o que eu acho? Que você age assim por
vingança. Maria Lúcia olhava-a, olhos muito abertos, sustendo a respiração.
— Confesse que você atormentava D. Eudóxia errando as lições, e a sua mãe,
aparecendo mal-arrumada e deselegante. Olhe para você. Se vinga deles, mas a
que preço? E a sua felicidade? E o amor? Posso ver através de você como um
livro aberto. E sei que se você não lutar para ser feliz, ninguém a poderá ajudar!
Nem eu, nem Deus!
A surpresa emudeceu Maria Lúcia. Não encontrava nada para dizer.
Luciana calmamente conduziu-a até o sofá, fazendo-a sentar-se.
— Para que eu possa continuar vindo aqui, precisamos ir ao piano, estudar um pouco. Sua mãe não vai me aceitar se não fizermos isso. Quer correr o risco?
— Não, vamos ao piano.
— Sem errar de propósito.
— Está bem.
— Prometo que escolherei peças bonitas e que estudaremos com prazer.
— Concordo.
Maria Helena, ao passar pela porta da sala de música, ficou agradavelmente
surpreendida.
O som do piano se fazia ouvir limpo e sem erros. Teria acontecido um milagre?
Teve vontade de abrir a porta para verificar se realmente quem estava tocando
era Maria Lúcia. Conteve-se. Era melhor não intervir. Aquela professora era
mesmo inteligente. Usara métodos diferentes, mas tinha que reconhecer que
dera bons resultados.
Ao terminarem os exercícios, Luciana tornou satisfeita:
— Ótimo. Você tocou tão bem que podemos passar adiante. Não pensei que
estivesse tão adiantada.
Maria Lúcia corou de prazer. Fora fácil executar aqueles exercícios.
Ao despedir-se, Luciana sentia-se feliz. Fora muito proveitosa a aula, e ela
sentia que a cada dia Maria Lúcia despertava para a realidade. Havia em Maria
Lúcia alguma coisa que a tocava profundamente. Sentia que lhe queria bem
de verdade. Gostaria de poder levá-la para sua casa e estar o tempo todo a
seu lado para transformá-la, ensinando-a a ser feliz. Isso ainda não era
possível. Precisava ser paciente. Contava obter sucesso.
Saiu sobraçando sua pasta de couro e havia andado alguns passos quando alguém
aproximou-se:
— Srta. Luciana!
Ela voltou-se.
- Sr. Ulisses!
— Como vai? — perguntou ele curvando-se com delicadeza.
— Bem. Vai à casa de D. Maria Helena?
— Não. ia passando quando a vi. Posso acompanhá-la?
Luciana sorriu:
— Vou tomar o bonde perto daqui. Não se incomode.
— Absolutamente. Uma dama sozinha pelas ruas, não éprudente. Ainda mais
como a srta.
— Está bem, — disse. — Vamos andando.
Ulisses olhou-a com admiração.
— Quando a vi ontem, tive vontade de conhecê-la melhor. No entanto, não tive
oportunidade. A srta. retirou-se cedo!
— Não costumo abusar da hospitalidade. D. Maria Helena tem sido muito gentil
comigo.
— Ela é muito exigente com suas relações. Seu convite é sempre
um cumprimento. Mas, não me lembro de tê-la visto antes. Não gosta da
vida social?
— Depende do que chama vida social. Sempre me relaciono com pessoas que
aprecio e procuro conviver com elas. Quanto a obrigações, ao relacionamento
meramente ocasional e de contato no dia-a-dia, procuro ser cordial, sem
intimidade.
— Não freqüenta teatros ou reuniões sociais?
— Moro com minha avó e é com ela que tenho saído. Gostamos de concertos,
visitamos museus e confeitarias. Ao teatro, temos ido algumas vezes. Não somos
do Rio e aqui temos nos relacionado pouco.
— Não se sente só?
Luciana, fixando nele os olhos brilhantes, respondeu:
— Nunca. Sinto-me muito bem, sou muito feliz.
— Não fala sério. Na sua idade, os bailes, os jogos de salão...
Estará comprometida com alguém?
Havia nos olhos dela uma ponta de malícia quando disse:
— Não. Não tenho nenhum compromisso.
O moço sorriu com alegria acentuando as covinhas da face.
Quando o bonde chegou, ele ajudou-a a subir e depois subiu e sentou-se a seu
lado. Tentando desviar a atenção de si mesma, perguntou atenciosa:
— O senhor é estudante?
— Sou. Estou na mesma turma de João Henrique. Nos graduaremos ao fim deste
ano.
Foram conversando e Luciana, apesar das maneiras corteses e delicadas de
Ulisses, não pretendia estreitar a amizade com ele. Aliás, desgostava-a mesmo
que ele a houvesse acompanhado. Receava que ele desejasse freqüentar sua
casa, o que poderia vir a tolher a liberdade de seu pai estar com ela. Não queria,
de forma alguma, que alguém descobrisse seu parentesco com José Luiz e com
isso pudesse criar uma situação embaraçosa que viesse a dificultar suas visitas à
Maria Lúcia.
Por mais agradável que ele fosse e por mais interesse que demonstrasse por ela,
não poderia aceitar sua amizade. Por isso, assim que desceram do bonde, ela
estendeu a mão com um sorriso amável dizendo com voz firme:
— Obrigada, senhor Ulisses, por acompanhar-me.
Ele insistiu:
— Por favor. Ficaria mais tranqüilo se a deixasse em casa.
— Não se incomode. Estou perto. Depois, não precisa preocupar-se comigo. Sou
órfã desde muito cedo e habituada a andar sozinha por toda parte.
Ele não se deu por achado:
— Parece que não apreciou minha companhia.
Luciana não gostava de pessoas insistentes. Costumava respeitar a liberdade
alheia e apreciava a sua privacidade. Apesar disso, respondeu delicadamente.
— Não se deprecie, sr. Ulisses. E não insista. Agradeço-lhe a companhia. Passe
muito bem.
Com um sorriso, Luciana estendeu a mão que ele apertou com galanteria.
— Está bem, — disse. — Não vou contrariá-la. Adeus.
Curvou-se e ficou olhando a moça afastar-se até que a viu desaparecer na curva
da esquina. Não se deu por vencido. Ela era arisca, mas isso tornava- a mais
tentadora. Estava habituado a ser requestado pelas mulheres que disputavam-lhe
a companhia. Haveria de dobrá-la por certo. Era apenas questão de tempo.
Colocando o chapéu na cabeça, atravessou a rua para tomar o bonde de volta.
Luciana chegou em casa um pouco preocupada. Egle percebeu assim que a viu.
— O que foi, aconteceu alguma coisa em casa de D. Maria Helena?
Luciana sacudiu a cabeça negativamente.
— Não, vovó. Lá as coisas estão cada dia melhor. Descobri que Maria
Lúcia é uma moça como todas as outras, Que pode vir a ser feliz e amada,
Isso me alegra.
— Ótimo. Mas você chegou preocupada, o que foi?
Amoça contou-lhe o encontro com Ulisses e Egle Concluiu:
— Ele está interessado. Fez muito bem em não aceitar. Já pensou o que poderia
acontecer se ele freqüentasse nossa casa e viesse a encontrar com seu pai? O que
pensaria?
— Poderia por tudo a perder. Isso, eu não vou admitir.
Egle suspirou, depois disse:
É um moço bom? Bonito?
— É, vovó. Bonito, agradável bem-educado e de boa família.
Egle ficou alguns momentos pensativa depois disse:
— Por causa disso você pode estar jogando fora sua felicidade.
Preocupa-me o seu futuro. Gostaria que se casasse e fosse feliz.
Luciana abraçou-a com carinho.
— O que é meu está guardado e quando aparecer, saberei. Não deve temer o
futuro. Onde está sua fé? Deus cuida de tudo e nos protege fazendo sempre o melhor em nosso favor. Precisamos sempre abrir a porta do coração para estar
com ele e permitir que ele se expresse para escolhermos adequadamente nosso
caminho. Sou muito feliz, vovó, e sempre o serei, porque Deus nos criou para a
harmonia e o amor, para que temer? Por que acredita que minha felicidade
esteja só no casamento? O casamento não tem sido para muitas pessoas uma
infelicidade?
— Você é contra o casamento, Luciana?
— De forma alguma. Mas desejo que se um dia eu me casar, o
faça conscientemente e por amor. No entanto, sei que nossa felicidade
independe disso, vovó. É estado de alma, é ter alegria, amar a vida, que é tão
bela e tão rica, usufruir dos bons momentos sentindo a beleza, a bondade, a luz.
Não se sente feliz agora?
Egle abraçou-a comovida:
— Sinto. Tenho você. Todos os dias agradeço a Deus tê-la comigo!
Amoça beijou delicadamente a face da avó.
— É isso, vovó. Eu também estou feliz. Vamos viver o agora, sem medo ou
apreensão do futuro. Deus não tem cuidado de nós até agora?
— Tem razão, minha filha. Sou uma ingrata. — Fez uma pausa, depois sorriu
dizendo: — Mas, eu desejo ter alguns bisnetos. Estarei errada?
— Claro que não, vovó. Quando isso acontecer, quero ver se agüenta o barulho
das crianças e um homem aqui, querendo dar ordens e mudar tudo.
— Que horror! — fez ela, assustada.
Luciana riu gostosamente. Sua avó era metódica e todas as coisas da casa
deviam estar sempre nos devidos lugares. Amava o silêncio e a tranqüilidade.
— Tenho pensado em Maria Lúcia, — tornou Luciana. —Apesar de D. Maria
Helena não interferir, lá, eu não me sinto inteiramente à vontade para trabalhar
com ela. O ambiente é frio, solene, formal.
— Por que não a convida para vir aqui algumas vezes?
— Isso seria maravilhoso. Mas, não sei se D. Maria Helena permitiria. Ela é
muito exigente com as amizades. Me aceitou como professora, mas não sei se concordaria em deixar a filha vir aqui.
— Por que não? — fez Egle, entusiasmada. — Afinal, somos pessoas bem-
educadas. Agora temos uma bela casa, onde poderemos receber à altura.
Luciana abanou a cabeça indecisa:
— Não sei, não.
— Ela convidou-a para um chá. Vindo dela, demonstra que a aprecia.
Faremos o seguinte: escreverei um pequeno convite para D. Maria Helena
vir com a filha tomar um chá conosco no próximo sábado.
— Ela também? Nesse caso, estará presente.
— Sua curiosidade a trará aqui a primeira vez. Se gostar, permitirá que a filha
venha nos visitar de vez em quando.
Luciana beijou o rosto da avó com entusiasmo:
— Fará isso por mim? — indagou feliz.
— Farei por mim. Afinal quero mostrar a essa dama tão requintada como se
recebe em minha terra e dar-lhe um banho de civilização. Depois,
estou morrendo de curiosidade para conhecer Maria Lúcia. Pobre menina.
Luciana riu divertida.
— Ela não é pobre menina, vovó. É uma moça infeliz, porque ainda
não descobriu os tesouros que guarda no coração. Acha que ela aceitará
o Convite?
— Você verá. Fá-lo-ei num daqueles meus papéis especiais, como manda a mais
nobre Lady inglesa, lacre e tudo mais.
- Pelo que conheço de D. Maria Helena, sei que virá. Não resistirá à Curiosidade
— Uma vez aqui, não a pouparei. Verá nosso álbum de família, Conhecerá nosso
lado da nobreza, e tudo quanto temos direito. Sem falar da nossa erudição, dos
nossos diplomas e graduações.
— Vai lhe falar do nosso trabalho fazendo doces para viver?
— Esse lado ficará esquecido. Afinal, quando seu pai morreu, deixou-nos bom dinheiro.
Luciana ficou séria.
Não estamos exagerando vovó?
— Não, minha filha. Se queremos que ela nos respeite e permita que a filha nos
visite, precisamos falar sua linguagem
— Tem razão, vovó, Como sempre. Vamos planejar tudo.
As duas sentaram-se com alegria e entusiasmo para se organizar.
Maria Helena recebeu o pequeno e elegante envelope admirada.
— Vovó pediu para entregar-lhe.
Ela abriu e leu com atenção. Pensou alguns instantes, depois disse:
— Obrigada pelo convite. Terei prazer em conhecer a senhora sua avó.
— Direi a ela. Será uma honra recebê-la em nossa casa com Maria Lúcia.
Maria Helena hesitou alguns instantes depois disse:
— As vezes Penso que você aprecia Maria Lúcia.
— É verdade eu a aprecio — respondeu ela com voz firme.
— Não consigo entender. Vocês são tão diferentes! Custo a acreditar.
— Posso saber por quê?
— Sou sua mãe, mas reconheço que ela não é uma companhia agradável,
sempre tão... calada... sem expressão.
Luciana sorriu levemente.
— Isso é aparência. Na verdade, ela é uma pessoa inteligente, sensível, boa e
apaixonada.
Maria Helena olhou-a tendo no rosto uma expressão indefinível.
— Às vezes eu penso, Luciana, que você é uma moça muito boa, porém muito sonhadora. Não pretendo iludir-me. Já aceitei a incapacidade de Maria
Lúcia. Não é coisa fácil para uma mãe, mas não há nada para fazer. Tive que resignar-me.
— Não há nada neste mundo que não possa mudar com a ajuda de Deus — disse
com voz suave. — Confio nele. Maria Lúcia é uma pessoa normal, está apenas
bloqueada. A senhora ainda perceberá isso.
— Embora não creia, desejo realmente que consiga.
Luciana assentiu satisfeita. Foi para a sala em busca de Maria Lúcia para a aula.
Maria Helena olhou o delicado convite revirando-o entre os dedos finos. Havia
algo em Luciana que a intrigava. Uma moça tão fina, tão bela e de família tão
boa, por que se sujeitaria a dar aulas?
É verdade que ela lhe dissera que não precisava do dinheiro para viver. Talvez
fosse para mostrar erudição. Há pessoas que satisfazem sua vaidade dessa
forma. Mas, com Maria Lúcia? Ela não saberia apreciar nada. Não. Não podia
ser por isso.
Aceitara o convite, porque estava curiosa. Jamais se lembrava de ter recebido
um cartão tão elegante, com brasão dourado, finíssimo. Estava claro que a avó
de Luciana tinha linhagem. Iria conhecê-la.
João Henrique interrompeu o fluxo de seus pensamentos.
- Mamãe, — disse — vim mais cedo porque pretendo trabalhar em um projeto
muito importante.
— Claro — respondeu ela, satisfeita.
— Vou para o gabinete. Estou com sede. Pode mandar-me uma limonada?
— Por certo...
Enquanto João Henrique instalava-se no gabinete, Maria Helena diligente
mandou servi-lo. Ela ficava feliz quando ele fechava-se no gabinete para
trabalhar. Ele ainda faria grandes coisas, estava certa disso. Fazia meia hora que
ele começara a trabalhar quando Ulisses procurou vê-lo. Apesar de um Pouco
contrariada Maria Helena Conduziuo ao gabinete do filho.
Vendo-o, João Henrique foi logo dizendo:
— Vem em boa hora. Quero mostrar-lhe uma idéia que tive.
Maria Helena saiu, deixando-os a sós. Afinal, Ulisses estudava com ele na mesma Classe. Poderiam trabalhar juntos, embora ela pensasse que João
Henrique ajudava os colegas e sempre sabia mais do que eles.
Quando ela saiu, Ulisses tornou:
— Não pensei encontra-lo ás voltas com projetos agora. Há tempo de sobra. João
Henrique abanou a cabeça.
— Não para mim. Quero ficar com a noite livre.
Ulisses sorriu malicioso.
- Já sei. Vai ao teatro. Pelo que sei, tem estado lá todas as noites.
João Henrique Suspirou, olhos perdidos em um Ponto indefinido:
— Ela é maravilhosa! Nunca Conheci mulher igual.
— Cuidado. Sei de alguns almofadinhas que estão apaixonados por ela.
- Estão à Sua volta Como moscas ao mel. Ela não lhes dá atenção.
— Quanto a você?
— Por enquanto só Sorrisos e troca de olhares.
— Mande-lhe flores.
— Já as tenho mandado. Hoje pretendo convida-la a cear. Talvez aceite.
— Estou certo que sim. Você tem Sorte Com as damas. Não resistem aos seus
encantos. Sei de algumas que desmaiam quando você chega.
João Henrique Considerou:
— Não brinque. Sabe que não sou de namoricos
— Sei. Nunca se interessou por alguma mulher em especial. Estou admirado.
Afinal, sempre chega o dia!
— É só entusiasmo. Ela me atraí como nenhuma outra.
— Então, meu caro, aproveite.
— Por certo o farei. Mas, você aqui esta hora? O que acontece?
— Sabia que estava em casa. — Piscando o olho, malicioso, continuou : — quero
rever Luciana.
João Henrique fez um gesto de surpresa:
— A professora de música?
— Sim.
— Aqui não é o melhor lugar, já lhe disse.
— Eu sei. Procurei encontrá-la fora.
Ulisses contou-lhe seu encontro com Luciana e finalizou:
— Ela é delicada, mas firme. Sequer deixou-me conhecer-lhe a casa.
— Talvez seja pobre e tenha vergonha. Ao Jarbas já lhe aconteceu isso.
Ulisses abanou a cabeça:
— Não creio. O lugar onde mora é de bom padrão.
— Tem certeza de que ela mora mesmo lá? Não teria tomado o bonde errado
para ludibriá-lo?
— Será? Bobagem dela. Com aquele rostinho, não precisa de mais nada. Ela está
aqui hoje? É dia de aula.
João Henrique deu de ombros:
— Não sei.
— Você não se interessa por sua irmã! — disse ele, queixoso. — Deveria assistir
alguma aula. Deve ser muito interessante.
João Henrique riu francamente:
— Não sou lobo como você. Não estou interessado.
— Como eu faço para vê-la, falar-lhe?
— Arrume-se. Mamãe não gostaria que me intrometesse. Iria desconfiar.
— Você não é meu amigo. Podia facilitar um pouco as coisas.
— Você não é o preferido das donzelas do Ouvidor? Onde está sua classe?
— Sua mãe não nos vai chamar hoje para o chá com ela?
— Não sei. Aliás, mamãe nunca convida os professores para tomar chá.
Fiquei admirado aquele dia.
— Isso prova que ela é especial. Até D. Maria Helena notou. Você podia fazer
algo, que diabo.
João Henrique sorriu.
— Para que você não diga que não coopero, vamos conversar na sala. É o
máximo que posso fazer.
Os dois foram sentar-se na sala, e João Henrique pediu àmãe que mandasse
servir-lhes mais refrescos.
Ficaram conversando animadamente porém, os olhos de Ulisses não pararam de
fixar disfarçadamente a porta fechada através da qual Supunha estarem as duas
moças.
Finalmente, ela abriu-se e as duas apareceram. Vendo-os,
Luciana cumprimentou-os levemente com a cabeça. Os dois levantaram-se. A
criada servia os copos de refresco.
— Sirva um copo à senhorita — disse João Henrique com delicadeza, — está
muito calor.
— Obrigada, aceito.
Amoça tomou o refresco, apanhou a pasta que colocara sobre a mesa.
— Já vai? — indagou Ulisses, interessado.
— Já — respondeu ela, séria.
Maria Helena aproximava-se Estendeu a mão a Luciana, dizendo:
— Agradeça a senhora sua avó pelo convite, iremos com prazer.
— Ela ficará feliz. — Voltando-se para Maria Lúcia continuou:
— Espero-a ansiosamente Desejo mostrar-lhe algumas coisas. Passaremos uma
tarde deliciosa.
O rosto da moça corou de prazer. Retribuiu o beijo que Luciana lhe deu na face.
João Henrique observava admirado. Aquela cena era inusitada Sua
mãe aceitando um convite da professorinha e, o mais estranho, sua irmã
mostrando- se afetiva com alguém. Olhou Luciana com curiosidade. Teve que
reconhecer que o rosto da moça era expressivo. Talvez por causa dos olhos cujo
brilho era vivo, alegre.
Olhou para Ulisses e a custo dominou o riso. O moço estava fascinado.
Luciana despediu-se e ele saiu em seguida.
Maria Helena comentou:
— Ulisses está interessado em Luciana. Não gosto disso. Custamos para arranjar
alguém que suportasse a esquisitice de sua irmã, não gostaria de perdê-la.
João Henrique deu um tom despreocupado à voz:
— Não se preocupe. O Ulisses é assim com todas. A srta. Luciana por certo não
lhe dará trelas.
— Em todo caso, fale com ele. Proíba-o de fazer-lhe a corte.
Apesar de perceber a petulância da mãe, ele habilmente concordou e tentou
desviar o assunto.
— Você vai à casa dela?
— Sim. Sua avó convidou-me e a Maria Lúcia para um chá no sábado.
— Por que aceitou? Não a conhece.
— Tive vontade. São pessoas de fino trato. A Luciana dá aulas porque gosta. Não
o faz para ganhar a vida. Foi educada na Inglaterra e sua avó é inglesa. Veja o
convite, que finura. Gente de linhagem. Depois, ela gosta de Maria Lúcia. Coisa
rara. Estou curiosa de ir à sua casa.
— Interessante, não fazia idéia que fosse assim. Por isso convidou-a ao chá. Ela
não freqüenta a sociedade. Nunca a vimos nos salões.
— É uma moça diferente. Muito culta. Berço, meu filho. Ela tem berço. Vê-se
logo isso. Gosta de arte, de música.
— Vejo que a aprecia.
Maria Helena sacudiu a cabeça pensativa.
— Por enquanto, seu procedimento tem sido irrepreensível.
Garante que Maria Lúcia é pessoa inteligente e normal. Quanto a isso, não tenho
ilusões. Mas sua influência é boa para sua irmã, e ela aceita a professora, chega
a esperá-la com certo interesse.
— Mamãe, isso é Ótimo. Foi a primeira vez que vi Maria Lúcia beijar alguém.
— Ela fez isso?
— Não viu? Ao despedir-se, ela beijou a face da srta. Luciana.
— É, realmente, isso surpreende. Vamos ver. Sábado vou conhecê-la melhor.
— Agora, volto ao gabinete. Preciso trabalhar.
Maria Helena sorriu alegre. Maria Lúcia fechou-se no quarto e dirigiu-se ao
espelho. Olhou seu rosto, depois passou a mão lentamente pelas faces.
Sua pele era macia e limpa. Era verdade.
Alisou os cabelos e num gesto decidido, tirou os grampos que o prendiam. Eles
caíram sobre os ombros, e ela continuou alisando-os pensativa. Luciana elogiara
seus cabelos. Aproximou se do espelho. Seriam mesmo iguais aos de João
Henrique? Todos elogiavam os cabelos dele. Gostaria de mudar o penteado, mas
temia o olhar critico da mãe. Sábado iria à casa de Luciana. Seu coração bateu
mais forte. Que vestido usaria? Abriu o armário e olhou seus vestidos.
Pareceram-lhe feios e sem graça. Que fazer! Luciana lhe falara de cores
alegres, do cor-de-rosa. Tinha um nesse tom. Iria com ele. Corou de excitação,
Olhou-se novamente no espelho. Tinha vergonha do seu rubor. Luciana dissera-
lhe que ele tornava-a mais bonita.
Seus olhos brilharam, e ela passou novamente os dedos pelas faces.
Talvez Luciana tenha razão, Pensou, talvez eu possa ser menos feia.
Estendeu-se na cama e fechou os olhos. O rosto de Ulisses apareceu-lhe na memória. Lembrou-se do beijo e seu coração bateu descompassado.
Ele estava interessado em Luciana, mas ela podia fazer de conta que era por
ela que ele Suspirava. Imaginou-o beijando suas faces com amor. Se
isso acontecesse, morreria de ventura. Se ela pudesse!
Luciana sabia como ser graciosa, bela, notada. Todos os rapazes a cortejavam.
Gostaria muito de ser Como ela. Sábado, teriam muito que conversar.
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Quando a Vida Escolhe
SpiritualConheça a história da doce Luciana e aprenda, por meio dessa adorável personagem, que cada um de nós é a própria vida tornando-se realidade. Isso quer dizer que, quando escolhemos, é a vida escolhendo em nós. A vida jamais erra. Assim, seja qual for...