Capítulo 23

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Os salões do clube Náutico estavam lindamente decorados para a cerimônia de
casamento. Margarida preparara tudo carinhosamente e convidara a nata da
sociedade para o acontecimento. Tanto os tapetes de veludo vermelho
impecavelmente escovados como o brilho dos candelabros de prata e da baixela
no salão do banquete, os arranjos de flores, as toalhas de linho branco, os criados,
tudo reluzia.
A um canto, a mesa para o juiz de paz que efetuaria o ato,
solenemente preparada. Margarida, elegantemente vestida, circulava verificando
todos os detalhes.
Os convidados e o juiz chegaram; Maria Helena juntou-se a Margarida.
De onde estava podia ver Jarbas de braço com Maria Lúcia. Ele pedira-
lhes permissão para o namoro, e Maria Lúcia a cada dia revelava-se mais alegre
e feliz. A emoção de Maria Helena aumentou ao ver João Henrique entrar em
companhia dos Albuquerques, tendo no seu o braço de Mariana. Seus
olhares apaixonados não deixavam dúvidas que o namoro começara sob a
aprovação de toda a família.
Ver o filho feliz, amando e sendo amado por uma mulher leal e inteligente, era
seu maior sonho. Agora, tudo indicava que ia tornar-se realidade. Amúsica
começou e as pessoas aconchegaram-se perto dos cordões de isolamento para
ver a noiva passar. José Antônio, elegante e olhos brilhantes de emoção, esperava
diante do juiz e quando a porta principal abriu-se ao som da marcha nupcial, e
Luciana entrou de braço com o pai, houve um burburinho geral. Ela estava linda
em seu vestido de renda branca, com o corpete justo rebordado por delicadas
pérolas e vidrilhos, uma saia cheia de pequenos babados, salpicada aqui e ali de pequenos brilhos; nos cabelos, penteados em gracioso coque no alto da cabeça, havia um enfeite de pérolas de onde saía o véu que caia até a barra da saia. Nas mãos, um buquê de flores naturais.
José Luiz, emocionado, pensou em Suzane. Estaria ali?
Sentia-se feliz com o casamento da filha e mais ainda pelô rumo que sua vida tomara. Agradecia a Deus e sentia que Luciana fora instrumento da vida para fazê-lo compreender que ela age, independente da nossa vontade, sempre de forma acertada e para o melhor, ainda que não tenhamos consciência de onde está a nossa felicidade. Ela dera-lhe tudo. Ele é que não conseguia ver. Sem a
ajuda de Luciana, talvez ainda estivesse cego, preso ao passado. Agora, que podia apreciar todo o bem que possuía, queria estar presente e usufruir dessa felicidade em todos os minutos. Nunca mais olharia para trás. Era muito bom
estar vivo, poder amar e ser amado.
Entregou Luciana ao noivo, e colocou-se ao lado de Maria Helena;
eram padrinhos da noiva.
O juiz, amigo de Margarida, depois de efetuar o casamento, fez
comovida oração sobre a família e o amor, terminando por evocar Deus na
bênção ao casal e a desejar-lhes felicidades.
Luciana, feliz, recebeu o beijo do marido e juntos dirigiram-se ao outro salão
para as fotos e cumprimentos. Tudo era alegria e felicidade. Suzane,
emocionada, contemplava-os reunidos alegremente na mesa de banquete quando
Anita aproximou-se:
— Finalmente, Suzane. Você libertou-se. Agora, continuarão sem você.
— Sim. Agora eu já posso seguir adiante. Nada mais tenho a fazer aqui.
Vou despedir-me.
Aproximou-se de Luciana abraçando-a comovida, dizendo-lhe ao ouvido:
— Seja feliz, querida!
Luciana sentiu a presença e emocionou-se. Egle ao lado percebeu e sorriu. Ela
sentia que Suzane estava ali. Suzane abraçou a mãe, José Luiz e a família e
juntou-se a Anita pronta para partir. Notando o brilho de uma lágrima nos olhos
de Suzane, Anita tornou:
— Apesar de tudo, você não quer deixá-los.
Suzane olhou-a com brilho harmonioso nos olhos:
— Quem ama, nunca se separa. Para onde eu for, estaremos sempre juntos.
Quando eu quiser vê-los, não será difícil voltar.
— Nesse caso, vamos. É hora.
Abraçadas, as duas saíram. A noite caíra de todo realçando o brilho das estrelas que faiscando no céu tentavam contar aos homens os segredos do universo e as maravilhas de Deus.

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