Capítulo 22

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Sentado em seu gabinete, tendo um projeto estendido sobre a mesa, o coronel
Albuquerque debruçava-se interessado, ouvindo com a atenção as explicações de
João Henrique.
Marianinha, sentada ao lado, estava muito interessada.
— Precisamos ter consciência de que a nossa cidade, uma das mais belas do
mundo, precisa ser cuidada, valorizada, amada — dizia João Henrique com
entusiasmo.
— Por certo — admitiu o coronel com satisfação. —Precisamos convocar os
homens públicos e o próprio governo a que se decidam a trabalhar.
Estou convencido de que só o esforço conjunto vai poder mudar este estado
de calamidade em que vive nossa cidade.
Pérola entreabriu a porta e entrou dizendo com um sorriso:
— Permitam-me interromper. Estão aí há horas. Já chega. Vou servir o jantar.
— Desculpe, D. Pérola. Não notei o tempo passar. Espero não haver causado
muitos problemas. Já estou de saída. Continuaremos um outro dia.
— De forma alguma. Não permitirei que saia agora. Você janta conosco. Já
coloquei seu prato à mesa.
— Não se preocupe, D. Pérola. Vou para casa.
Desta vez o coronel interveio:
— Não nos fará uma desfeita dessas...
— Desfeita?
— Claro. Roubando-nos o prazer de continuarmos conversando — insistiu ele.
— Nesse caso, terei também muito prazer em ficar.
Marianinha aproximou-se e segurando o braço de João Henrique, disse:
— Vamos agora dar uma trégua. Fazer uma pausa para outros assuntos. Há uma
revista que recebi de Viena que gostaria de mostrar-lhe. João Henrique sorriu
encantado. O jantar decorreu agradável e depois do licor, Mariana e João Henrique sentaram-se lado a lado no sofá para verem a belíssima revista, repleta
de gravuras de arte e das novidades da Europa. O coronel fumava seu charuto
conversando com Pérola, e Ester entretinha-se lendo.
O ambiente calmo e agradável foi interrompido quando um criado apareceu
assustado.
— Coronel, tenho uma notícia para o senhor.
— O que foi, Antônio?
— O moço fugiu da cadeia.
O coronel deu um salto.
— Fugiu? Como? Quem disse?
— O Brás! Passou na delegacia e havia um corre-corre. O Afonso
foi encontrado amarrado, e o moço escapou.
Pérola olhou assustada para Mariana:
— Meu Deus! E agora? — disse. — E se ele voltar aqui?
— Não se atreveria! — esbravejou o coronel.
— Vá chamar meus homens para guardar a casa. Dois ficam aqui, e dois vão
comigo, pegar aquele safado. João Henrique levantou-se rápido.
— O que posso fazer?
— Fique aqui até que eu volte. Ficarei mais tranqüilo com você aqui. Nunca se
sabe o que aquele maluco pode tentar.
João Henrique abanou a cabeça:
— Não creio que venha aqui. Com certeza vai tentar escapar.
— Não deixarei que isso aconteça. Vasculharei a cidade se preciso for, hei de
trazê-lo de volta. Posso contar com a sua cooperação?
— Claro, coronel. Estarei atento e esperarei pelo seu regresso.
— Vou deixar dois homens na guarda da casa.
Vendo os homens chegarem armados e dispostos a perseguir Ulisses, João
Henrique entristeceu-se. Por que ele escolhera aquele caminho?
Fugir representava o terror de ver-se castigado. Lembrou-se dos tempos
de estudante e dos bons tempos de universidade. Embora Ulisses
sempre transgredisse as regras, nunca imaginou que chegasse a tanto. E se
o prendessem? Temia que o ferissem.
Calado, João Henrique sentou-se novamente no sofá, depois que o coronel saiu,
recomendando cuidado e atenção. Mariana não disse nada. Sentou-se calada.
Depois de alguns minutos, João Henrique caiu em si:
— Desculpe. Não esperava que acontecesse uma dessa.
— Apesar de tudo, você lamenta, não é?
Sentindo-se compreendido, João Henrique deu livre curso às suas preocupações.
— Sim, lamento. Afinal foi meu amigo, companheiro de universidade, graduou-
se, tinha um nome de família, é jovem, poderia ter um melhor destino, construir
alguma coisa, ser feliz.
— Posso entender. Quando vejo um moço elegante, eu diria bonito,
boa aparência, fazer o que ele fez, também lamento. Mas, ao mesmo tempo,
sei que cada um dá o que tem, e Ulisses, por mais que sua aparência iludisse,
não sabia ser melhor. Achou que podia usar as pessoas, seus sentimentos e
isso nunca deu certo. Havia qualquer coisa nele que não me agradava. Não
poderia precisar, mas foi isso que me impediu de me apaixonar.
— Ele disse que você se interessou a principio.
— Eu tentei. Afinal, ele era tão amável, cumulava-me de gentilezas e atenções
que eu muitas vezes me sentia injusta, ingrata por não conseguir aceitá-lo.
Naquele tempo, cheguei a julgar-me tola por isso. Agora sei que eu estava certa.
Era como uma intuição, uma certeza de que não seria feliz a seu lado. — Posso
entender. As vezes a gente sente coisas que não se pode explicar com palavras.
João Henrique recordava-se de Antonieta. No fundo, sempre soubera que ela não
ficaria com ele.
Os dois continuaram conversando agradavelmente, e João Henrique sentiu-se
bem ali, com ela a seu lado. Pôde perceber o quanto ela era sensível e
equilibrada. Além disso, seus olhos negros o fitavam brilhantes e seus
lábios vermelhos e carnudos o faziam desejar beijá-la, ali mesmo. Lançou um olhar furtivo para Pérola que folheava uma revista e para Ester que continuava
lendo calmamente seu livro.
O tempo foi passando, e Pérola apressou-se a oferecer um chá, e JoãoHenrique
só se deu conta do avançado das horas quando o pesado relógio do hal bateu
meia-noite.
— O que estará acontecendo? — disse Pérola, pensativa.
— Saberemos quando o coronel chegar. Se estão com sono, não
façam cerimônias. Podem recolher-se e eu ficarei aqui, esperando por ele.
— De forma alguma — respondeu Pérola. — Ninguém conseguirá dormir com
essa preocupação.
— Ficaremos aqui juntos — decidiu Mariana. — Sinto-me mais segura.
Depois, é tão bom tê-lo conosco que desejo aproveitar todos os
minutos. Lisonjeado, João Henrique sorriu e diante do que viu nos olhos
dela, aproveitou-se de uma saída rápida de Pérola para pegar a mão de Mariana
e levá-la aos lábios.
Amoça estremeceu e ele teve vontade de tomá-la nos braços, porém conteve-se.
Pérola voltava, sentando-se em frente a eles.
Contudo, os olhos dela falavam mais do que as palavras, e João Henrique sentiu
uma emoção doce envolver-lhe o coração. Mariana estaria interessada nele?
Esse pensamento que algum tempo atrás tê-lo-ia feito fugir do - seu convívio,
agora dava-lhe uma sensação de alegria, bem-estar, excitação, desejo, carinho.
Como poderia descrever seus sentimentos? Nem ele mesmo sabia.
Eram mais de duas da manhã quando o coronel regressou. Ester adormecera
sobre o livro, Pérola recostara-se na poltrona, só João Henrique e Mariana não
viam o tempo passar, sentindo o prazer da proximidade, do roçar de braços, dos
olhares intencionais e eloqüentes, dos beijos furtivos que João
Henrique dava nas mãos dela.
O coronel entrou agitado. João Henrique levantou-se:
— Nem sinal dele. O patife sumiu como por milagre. O Afonso conta
uma história que não me convenceu, O Manoel do bar disse-me que era ele quem comprava comida para o preso. O malandro tratava-se bem. Para isso, certamente Afonso seria gratificado. Cesteiro que faz um cesto, faz um cento!
— O senhor suspeita dele?
— Deve tê-lo ajudado na fuga. Amanhã vou ter uma conversa com ele.
Há de contar tudo. Vocês verão.
Foi a vez de Pérola intervir:
— Chega por hoje. Não adianta enervar-se. Não é bom para a saúde.
— Pelo menos por aqui ele não passou. Os dois que ficaram vigiando são meus
melhores homens.
— Ulisses pode estar desequilibrado, porém não creio que tivesse a coragem de
aparecer por aqui. O que ele quer é safar-se. Pôr-se ao largo. Está com medo. —
comentou João Henrique.
— Você pode ter razão. Contudo, nunca se sabe. Depois do que ele fez!
— Sei como ele faz. Na escola quando se enfurecia, não via quem tinha pela
frente. Precisávamos segurá-lo. Mas depois que passava, ficavaapavorado com
tudo e com todos.
— Quero crer que esse moço seja descontrolado. Ficou órfão muito cedo de
maneira trágica — ajuntou Pérola.
— Lá vem você com sua piedade. O que ele fez não tem justificativas.
— Não justifico, mas posso entender e lamentar. Um jovem jogar a vida fora
desse jeito! — rematou ela.
— Sua generosidade é conhecida, minha querida — disse o coronel, passando
carinhosamente o braço pelos ombros da esposa.
— João Henrique, hoje aumentei minha dívida com você. Obrigado por haver
me esperado até tão tarde.
— Eu é que agradeço a confiança, coronel. Fui privilegiado por haver ficado tanto tempo em tão boa companhia. Nem senti o tempo passar.
Quando João Henrique se despediu, o coronel disse-lhe:
— Não demore a voltar aqui. Estou muito interessado em suas idéias. Juntos ainda poderemos ajudar a nossa cidade.
— Sem dúvida, coronel. Voltarei certamente.
— Papai fala sério, João Henrique. Não são palavras convencionais. Ele não é
disso.
— O prazer de estar aqui foi tanto que os desejos do coronel são ordens.
João Henrique despediu-se e saiu. Olhou o céu estrelado e suspirou. O rosto de
Mariana, a maciez de sua pele, o brilho de seus olhos, fizeram-no desejar voltar
lá no dia seguinte. Foi para casa pensando em arranjar uma desculpa para vê-la.
A fuga de Ulisses seria sua justificativa. Iria lá no dia seguinte. O coronel poderia
precisar dele, deixando-o com a família enquanto ausentava-se.
No dia seguinte, João Henrique dormiu até tarde e só desceu para o almoço.
Sentia-se leve e alegre. Nunca sua casa lhe pareceu tão bonita, perfumada e
florida. Notou que a mesa estava festiva e que todos estavam diferentes. Que
fada benfazeja transformara sua família em pessoas bonitas, brilhantes e mais
alegres? Estaria vendo bem ou seria um sonho?
Maria Helena remoçada, alegre, ele notou até que ela se enfeitara mais do que o
usual. O pai também pareceu-lhe muito bem-disposto e até Maria
Lúcia resplandecia.
Vendo-o, Maria Helena considerou:
— O jantar dos Albuquerques foi longo, sequer percebi quando chegou.
— Tarde, mamãe. Quase às três.
— Não estará abusando?
João Henrique contou as novidades.
— Pobre Pérola. Ficará preocupada com a filha. Depois de tudo!
— Não creio que Ulisses seja corajoso o bastante para tentar de novo. Conheço sua covardia. O que acho é que se pós ao largo com medo do coronel.
— Espero que ele nunca mais volte — disse Maria Lúcia.
João Henrique admirou-se com a firmeza do seu tom. Sorriu um pouco indeciso, depois disse:
— O que aconteceu aqui? Ontem isso era um túmulo. Todo mundo
triste, agoniado, hoje tudo está diferente.
— Inclusive você — disse Maria Lúcia.
— É verdade. Eu estava trabalhando muito.
— Não foi lá para falar do projeto?
— Fui. Mas eles são maravilhosos. D. Pérola, grande dama, o coronel,
um homem inteligente, eu diria brilhante e há Mariana.Maria Helena olhou o
marido agradavelmente surpreendida. José Luiz limitou-se a dizer:
— Uma bela e inteligente mulher.
— É verdade — concordou João Henrique. — Deu-me boas sugestões. Ela
estuda muito as questões sociais, adorou minhas idéias.
— O difícil será você conversar com ela sobre coisas tão sérias — comentou
José Luiz.
João Henrique riu sonoramente.
— Não foi fácil concentrar-me no assunto. Para ser franco, não consigo recordar
suas palavras.
— Em compensação, talvez recorde seu perfume, a cor de seus olhos.
Todos riram maliciosos. O almoço decorreu alegre e depois Maria Helena pediu
ao marido:
— Vamos todos para a sala e conversar. De hoje em diante, não desejo que paire
nenhum segredo entre nós. João Henrique precisa saber de tudo. Sentados no
aconchego agradável da sala de estar, tendo entre as suas a mão da esposa, José
Luiz contou tudo. Foi objetivo e sincero. João Henrique, emocionado, ouviu em
comovido silêncio. Ao final comentou como para si mesmo:
— Eu, egoísta, pensei só em minha desilusão, como se fosse a mais negra
tragédia. Hoje percebo como fui ingênuo, e a felicidade que eu possuopor ter pais como vocês. Atravessando tantos problemas, jamais deixaram de nos apoiar e ajudar. Pai, agora compreendo muita coisa. Pobre Luciana. Foi a mais injustiçada em tudo isso. Foi quem nos deu mais e nunca pediu nada em troca.
Respeitou nossa escolha, sentindo-se rejeitada por quem só fez bem, esperou
com a dignidade dos iluminados e inocentes que tudo se esclarecesse. O que
faremos para remediar tanta injustiça?
— Propus reconhecê-la como filha legítima, ela não quer. Vai se casar.
Acha que o nome do marido será suficiente —confidenciou José Luiz.
— E você, mamãe, como ainda não correu lá abraçá-la e desfazer toda essa
situação?
— Esperei para contar-lhe. Gostaria que participasse conosco dessa alegria.
— E se fôssemos todos lá esta tarde? — sugeriu Maria Lúcia.
— Acha que seria o mais adequado? — perguntou Maria Helena.
João Henrique olhava a irmã boquiaberto. Ela parecia outra pessoa,
olhos brilhantes, postura firme, ousando tomar a iniciativa e o mais surpreendente
é que sua mãe aceitava naturalmente.
— Claro, mamãe. — respondeu ela. — Luciana ficou tão feliz com minha visita!
Foi tão bom ter ido lá! Foi a melhor coisa que eu fiz.
— Foi ela quem descobriu a verdade. Ela e Jarbas —esclareceu Maria Helena.
— Jarbas? Pelo jeito ele andou depressa — comentou João Henrique bem-
humorado.
Maria Lúcia corou, porém, não se atemorizou. Sentia-se forte e
alegre. Descobrira que podia confiar em seus sentimentos. Desde o princípio,
desejara rever Luciana. Seu coração queria isso, mas o orgulho impedia.
Aprendera que se algumas pessoas mentem e enganam, outras são confiáveis e
sérias.Nunca mais aceitaria uma situação sem tentar esclarecê-la diretamente
com as pessoas. Arrependia-se de não ter cobrado de Ulisses o que lhe
prometera.
Não para que ele cumprisse, mas para esclarecer a verdade e desmascará-
lo perante a família. Se houvesse feito isso, por certo teria evitado
muito sofrimento. Compreendia que sua postura ingênua favorecera a crueldade
de Ulisses. Estava disposta a não mais se deixar usar por ninguém.
Vendo o olhar de João Henrique cheio de malícia e curiosidade, não se perturbou.
Disse simplesmente:
— Ele sempre teve pressa, eu é que demorei para compreender.
— Pelo jeito ele já se declarou.
— Isso é segredo — retrucou Maria Lúcia com um sorriso. —Então, mamãe,
vamos lá agora?
— Não será melhor telefonar? — indagou Maria Helena.
— Eu telefono. Só para saber se está em casa. Direi que vou sozinha.
José Luiz, emocionado, não conseguia dizer nada.
— Enquanto isto, vou me preparar.
Maria Helena subiu para apanhar o chapéu e a bolsa, João Henrique foi tirar o
carro enquanto Maria Lúcia telefonava. Pouco depois, os quatro no
carro dirigiam-se para a casa de Luciana.
Com o coração aos saltos e o rosto vibrando de alegria, Maria Lúcia tocou a
sineta. O portão estava encostado, e eles entraram até a varanda. João Henrique
ao lado dela e atrás Maria Helena e José Luiz.
Quando Luciana abriu a porta e os viu juntos na varanda, emocionada, não
conseguiu articular palavra. Maria Lúcia abraçou-a com força beijando-a
na face com entusiasmo.
— Luciana, viemos todos! Que alegria!
Logo João Henrique abraçou-a por sua vez dizendo emocionado:
— Você não é só nossa irmã pelo sangue, é também pelo coração. Estou feliz em
saber disso!
Luciana deixava as lágrimas correrem livres pelo rosto corado sem conseguir
falar. Depois de João Henrique, Maria Helena e Luciana viram-sefrente a frente.
Luciana esperou que ela falasse:
— Peço-lhe que me perdoe, — disse Maria Helena.
Luciana balançou a cabeça negativamente:
— Não tenho nada a perdoar. Fomos todos vitimas de uma mentira.
— Sinto-me culpada. Conhecendo você como conheço, depois de tantas demonstrações de caráter e de dignidade, eu jamais deveria ter
acreditado. Você nunca seria capaz de uma indignidade.
— Obrigada, D. Maria Helena, sinto-me recompensada nesta hora, tendo-os
todos aqui. Entrem por favor.
Egle aproximou-se e abraçou-os carinhosamente. Uma vez na sala, foi Maria
Helena quem falou primeiro:
— Depois de tudo que eu passei, decidi que nunca mais deixarei nada sem
esclarecer. Percebi que se tivesse perguntado a verdade a José Luiz ou mesmo a
você, Luciana, eu não teria sofrido tanto nem feito o jogo de Ulisses. Eu caí
como um patinho na armadilha. Mas, eu estava insegura e o ciúme é mau
conselheiro. Ele cega e impede de perceber a verdade. Agora que José Luiz nos
contou tudo e não há mais nenhuma sombra entre nós, sinto-me segura e em paz.
Reconheço, Luciana, que foi você quem nos ajudou a perceber muitas coisas. De
você só recebemos dedicação e amor. Eu terei muita honra se você fosse minha
filha! Sei que Suzane não se importaria em dividir esse papel comigo, uma vez
que, de onde ela está, não poderá fazer certas coisas. Acredito que ela nos tenha
auxiliado não só quando nos levou a João Henrique como em muitas outras
ocasiões em que necessitamos.
A voz de Maria Helena traía sua emoção e sinceridade. Luciana aproximou-se
dela, abraçando-a e beijando-a na face demoradamente.
— Luciana — interveio José Luiz — vou reconhecê-la como filha legalmente. É
vontade de Maria Helena também.
— Sinto-me feliz. Vocês me emocionam e enternecem. Contudo, eu não desejo
que faça isso. Para que levantar essa história perante a sociedade? Não desejo
nada a não ser o afeto de vocês. Não agüentava mais de saudades. José Antônio
ajudou-me a suportar essa tristeza. Mas agora, não existe no mundo ninguém
mais feliz do que eu! Dentro de alguns dias estarei casada e realizarei meu sonho
de mulher. Não há necessidade de nenhum documento para justificar os laços de
amor que nos une no coração. Vê-los comparecer ao meu casamento, era o que eu mais queria!
Maria Helena ouviu-a enternecida, O desinteresse de Luciana e o desejo de
salvaguardar o nome da família emocionavam-na ainda mais.
— Você é muito nobre, Luciana. Renunciar a um direito seu, é
muito desprendimento.
Comentou Maria Helena.
— Não estou renunciando a nada. Ao contrário, eu desejo estar mais com vocês a cada dia.
A conversa fluiu animada. Falaram sobre o casamento e quando José António chegou no fim da tarde, ainda os encontrou conversando em harmoniosa e contagiante alegria.

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