Paraíso se mudou para lá

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Foram quase sete meses de busca até encontrar a "nossa" casa. Um sobrado antigo num condomínio, num bairro residencial vizinho ao bairro em que morávamos. Uma casa do jeito que havíamos imaginado. Da compra até o início da reforma foram mais de dois meses. Até a pintura da última parede, foram outros seis meses.

Nesse período, estivemos muito envolvidas em todos os processos da construção deste sonho. Acompanhamos cada etapa e criamos laços ainda mais fortes. Pensamos cada detalhe, cada cor, cada cheiro, cada canto. Não descuidamos de nada.

A casa foi planejada pensando minha insegurança. Eram seis cômodos, que foram divididos assim: uma suíte para o casal, um escritório para mim, um escritório para Carol, um home vídeo e dois quartos foram deixados vazios para o caso da família aumentar. Isso além da cozinha, da sala, da varanda e do jardim.

Carol foi responsável por fazer uma transição leve. Passava grande parte do tempo na minha casa, embora mantivesse a dela. Bancava os custos do apartamento dela, mesmo vazio, só para não me assustar e oficializar que estávamos casadas. Deixava-me inteiramente à vontade e, pouco a pouco, foi trazendo algumas coisas e ocupando espaços que eram possíveis, com extremo cuidado para não me incomodar.

Ao final do processo, já estávamos praticamente morando juntas e eu aceitando a situação tranquilamente. Já eram dois anos e três meses de relacionamento, poucas brigas e muita paciência, sobretudo de Carol comigo. Embora a diferença de idade entre nós fosse de apenas oito anos, sendo Carol mais velha, eu parecia muito mais nova. Carol era mais experiente e tinha passado por relacionamentos mais consistentes e tranquilos que os meus. O que dava a ela um know-how de comportamento.

Decidimos que alugaríamos apenas o apartamento de Carol. Que o meu só decidiríamos o que fazer depois de seis meses. Ela dizia que era melhor esperarmos para ver se saberíamos lidar com inquilinos e que era melhor desfazer um negócio do que dois. Mas eu sabia que não era isso. Sabia que ela estava tentando me deixar mais segura para ter para onde correr quando eu precisasse.

Mas, àquela altura, já me sentia mais segura com a ideia de casar e animada com a casa nova. No mudamos em meio a muita festa e um pouco de improviso. O primeiro mês na casa nova foi marcado por noites dormidas em um colchão inflável, pois nossa cama não havia chegado. Mas até isso serviu para descontrair. Curtimos cada arrumação, cada vaso que era colocado no lugar, cada quadro.

Tudo aquilo parecia a culminância de uma grande história de amor, escrita com uma cumplicidade jamais vivenciada por mim.

As coisas pouco a pouco pareciam encontrar os seus lugares dentro dos ambientes e dentro de nós mesmas. Até as diferenças pareciam diminuir. Eu, que relutava em sair ou experimentar qualquer convivência social que não incluísse Marcos e Marina, passei a ser mais tolerante e, embora ainda relutasse em sair, tornei-me uma exímia anfitriã. Nossa casa passou a ser um ponto de encontro, sempre com a presença de amigos. Os espaços eram convidativos e nos cercamos de companhias agradáveis que passei a gerir com mais inteligência emocional.

Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora