Uma mulher de moral não fica no chão

1K 80 5
                                    

Até que, em uma determinada noite, Marcos e Marina conseguiram me tirar de casa para comer um crepe, sem compromisso. Fui.

Estávamos no restaurante há cerca de uma hora, quando uma mulher linda, cabelos grisalhos, se aproximou da nossa mesa e cumprimentou Marcos. Olhou para nós e perguntou se podia sentar-se. Diante da assertiva, puxou a cadeira e sentou-se ao meu lado, apresentando-se.

- Boa noite, gente, meu nome é Solange.

A mulher, que era extremamente atraente, fazia parte do círculo de amizades do trabalho de Marcos e me fez rir bastante naquela noite.

No final da noite, ela me olhou e disse:

- Você não devia cultivar essa tristeza. É uma mulher linda, inteligente e simpática. O mundo perde muito sem o seu sorriso – disse ela.

Eu baixei os olhos, envergonhada, e deixei uma mecha do meu cabelo cobrir um dos meus olhos e respondi:

- Tudo tem seu tempo.

- Tomara que seja breve, então – disse ela.

Enquanto eu tentava reaver meus pedaços, Carol continuava me mandando mensagens com pedidos enfáticos de desculpas. Em 10 dias, foram mais de 20 mensagens e 5 ligações. Atendi todas, mas o conteúdo era sempre o mesmo, arrependimento e declarações que, achava eu, talvez fossem todos verdade, só não tinha mais coragem de sofrer, pelo menos não naquele momento.

Dois dias depois recebi uma ligação.

- Liguei para saber se você já voltou a sorrir – disse minha interlocutora.

Solange, pensei. Não pude segurar e acabei rindo.

- Bem melhor – disse ela.

- Melhorando – completei.

- Precisamos comemorar este avanço – disse.

- Não é pra tanto – recuei.

- Todo avanço, mesmo que pequeno, merece ser comemorado. Sendo assim, estou convidando você para comer o melhor peixe na telha da sua vida. Não tem desculpa, já que seu melhor amigo já confirmou presença – intimou.

- Bom, adoro peixe, mas não vou prometer nada – disse.

- Já estou contando com você. Anota aí meu endereço – falou.

- Pronto, anotado – disse.

- Não vejo a hora de te ver sorrindo – falou.

- Nem eu – respondi rindo.

Desliguei o telefone, achando que aquela conversa já tinha extrapolado meu limite de sociabilidade pelos próximos seis meses.

O telefone voltou a tocar em seguida, só que dessa vez era Carol, dizendo que tinha decidido largar tudo e voltar para o Brasil.

Eu me encarreguei de dizer que essa era uma decisão errada, que só atrapalharia a vida dela e provocaria mais angústia. Dentro de um mês ela defenderia o projeto e poderia voltar ou poderia ficar, já que, pelo visto, havia construído laços lá.

Acabamos discutindo. E o resto da semana foi de silêncio.

O final de semana chegou e com ele a insistência de Marcos em me tirar de casa para comer o tal peixe. Eu estava firme na minha decisão de não ir. Mas acabei cedendo.

Fui no meu carro para não depender de ninguém para voltar. Depois de 2 horas de interação, comecei a me mobilizar para bater em retirada. Não consegui.

Fui sendo envolvida pela conversa e acabei me despedindo de Marcos, o último a sair. Engatei uma conversa com Solange sobre felicidade, Epicuro e Nietzsche.

Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora