Na Fila do Chá

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Eu sempre pensei que ia encontrar o amor da minha vida na fila do chá, no supermercado. Ficava imaginando diálogos de primeiro encontro:

– Você gosta desse chá?
– Sim, gosto muito.
– E vem sempre aqui?
– Sim, sempre
– E compra sempre chá?
– Sim, compro sempre
– E quer tomar chá comigo?
– Sim, eu quero
– E quer casar comigo?
– Sim, eu quero

E aí, íamos tomar chá e casávamos. No outro dia, tínhamos filhos e vivíamos felizes, viajando pelo mundo.

Mas a realidade tem sido um pouco diferente. Tenho tido relacionamentos duradouros, é fato, no entanto eles acabam. Queria algo eterno. Embora eu não seja uma pessoa romântica, propriamente dita, conservo essa visão cor-de-rosa das relações.

Tive dois relacionamentos longos nos últimos tempos, um de 7 e outro de 4 anos. Felizes, na medida do possível, mas que acabaram de maneira muito desgastante, com mágoas e cicatrizes que duram até hoje e que fazem com que eu me defenda do mundo como se houvesse uma teoria da conspiração em torno da minha felicidade. Eu estava vivendo assim, há exatos um ano e oito meses. Protegida do mundo.

Talvez precisasse ir mais ao supermercado e ficar horas em frente à prateleira do chá, esperando o acaso. Mas, e se o acaso chegasse, eu estaria preparada? E se o acaso não acontecesse na fila do chá e sim no aeroporto? E se o acaso também fosse capaz de machucar?

Às vezes, antes de dormir, pensava que o melhor seria esperar pelo acaso na igreja, onde provavelmente encontraria pessoas de bem, será? Não sei, mas as baladas facilitam tropeços maiores, embora lá o acaso esteja favorecido pela situação. Já não sei. E, justamente por não saber, resolvi esperar pelo acaso em minha casa. Quem sabe um dia alguém erra de apartamento e toca a minha campainha? Eu estaria aqui, pronta. Por isso saio tão pouco; acaso é acaso, tenho que estar à disposição.

Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora