Se acaso me quiseres

1.6K 99 11
                                        

Estava completamente bêbada de sono quando senti o avião tocar o solo. Mal conseguia ficar de pé. Passamos direto pelo saguão, já que ambas só tinham mala de mão. Carol se apressou em ir procurar um táxi, até que lembrei vagamente que havia deixado meu carro no estacionamento do aeroporto, já que, de início, pensava que iria voltar no mesmo dia para casa.

Consegui, sem muita convicção, dizer que meu carro estava lá, mas ela não me levou a sério, pois eu sequer articulava as palavras de maneira correta. Abri a bolsa e mostrei a chave e o cartão do estacionamento. Enquanto Carol pagava, eu sentei no meio fio, deitei a cabeça nos meus joelhos e dormi. Fui acordada por ela, dizendo que precisava saber onde meu carro estava.

Dei instruções vagas sobre a localização, modelo e cor, que ela cruzou com a da placa que estava no cartão. Dez minutos depois, ela tentava me convencer que eu não tinha nenhuma condição de andar, quanto mais de dirigir. Cedi o lugar do motorista a ela, abaixei o banco do carona e dormi.

Vinte minutos depois estava dentro de um elevador desconhecido. Lembro-me de entrar em um lugar onde havia figuras que pareciam de origem africana, acho que também havia índios.

Acordei gritando, no meio de mais um pesadelo. Olhei ao redor, tentando reconhecer o lugar, quando Carol entrou correndo e perguntando o que tinha acontecido. O sono e o cansaço eram maiores do que a minha vontade de dar explicações. Eu estava confusa e acho que isso ficou claro.

- Ei, está tudo bem. Você estava com muito sono e, como, não sabia onde você morava, trouxe você para minha casa – explicou ela.

Eu, então, de olhos fechados passei a mão pela gola da camisa.

- Não quis mexer na sua mala, então tirei sua roupa, mas não toquei nas peças íntimas – frisou ela – e coloquei uma blusa minha para ficar mais confortável.

Não esperei ela acabar de falar e dormi de novo.

Outro pesadelo e novamente despertei com um grito.

Carol apareceu com um copo d'água na mão. Sentou ao meu lado e eu prontamente a abracei, tão forte, como se ela pudesse me proteger dos meus pensamentos.

- Foi só um sonho ruim. Está tudo bem. Estou dormindo na sala, qualquer coisa é só chamar – acalmou ela.

- Fica aqui comigo, por favor?! – eu disse, assustada.

- Tá bom – atendeu ela, deitando ao meu lado.

Em seguida, sentei na cama ainda cochilando e disse:

- Tenho que ir. Tenho uma reunião.

- Meu bem, você está morrendo de sono. Não tem reunião nenhuma, são 3h20 da manhã e é sábado. Eu estou aqui com você. Vem dormir – disse ela.

Desabei na cama e só senti o peso do edredom que ela colocou sobre mim para me proteger do ar-condicionado.

Acordei às 10h da manhã, ainda sonolenta. Abri os olhos e não tinha ninguém. Fui retomando a consciência aos poucos e pude observar fotografias de negros, que pareciam africanos, e índios, emolduradas e penduradas nas paredes.

Casa de antropóloga – pensei.

As fotografias eram belíssimas e retratavam tão somente pessoas, nenhuma cena ou coisa parecida, apenas gente.

Fiquei na cama com os olhos abertos, esperando que alguém pudesse vir me descobrir.

Já estava quase me rendendo ao sono novamente, quando Carol entrou no quarto empunhando uma bandeja.

- Vim pronta para acordá-la, mas já vi que fez isso sozinha! – confessou.

Encolhi-me embaixo do edredom e virei o rosto para o lado como quem quer voltar a dormir.

Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora