Ira escrita.

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Não sei como chamar se não como ira, talvez fúria sirva de sinônimo. Pois aqui neste papel represento a fúria de minhas palavras em esguichos violentos de tinta preta e cancerígena que queima minha boca como ácido sulfúrico e transborda pelos meus olhos como uma grossa lama, pútrida, fétida e nojenta. Afinal, já estava cansado de minhas palavras delicadas serem ignoradas, já estava irado.
Sendo assim, no papel em frangalhos expresso os gritos de minha caneta que rachava mais e mais com cada movimento se estilhaçando e rasgando as mãos de seu escritor - no válido momento, eu - inoculado pela tinta que escorria de meus orifícios,  apenas pegava outra caneta e outra manchando as paredes de palavrões escritos com meu sangue misturado à tinta, uma mistura homogênea de duas cores que pintavam meu quarto e minha mente.
Por conseguinte, quando meu mundo já transbordava um oceano tubernoculoso cheio de ratos com leptospirose e a boemidade havia tomado conta de meu recinto pessoal,  jaziu em minha mão o último e findouro movimento de rasgar meu pescoço com o vidro da caneta, jorrando o vinho, a tinha, o sangue e por fim - a loucura.

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