2| Grito

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Uma rotina torturante pra mim é sentir sem ter culpa, querer me destruir a cada milésimo de segundo por me permitir, por me abrir descaradamente à coisas que não me pertencem.
Meu interior é um abismo que nem eu mesma conheço, eu mesma caio em mim e ao mesmo tempo grito por socorro.

Deveria me conhecer mais do que qualquer um que tenta me definir aos seus "comuns", deveria entender que cada segundo é um suspiro gritado, escoando pro ralo, sem volta, é perda. Não volta.
O sentimento de solidão esvazia minha alma, o caminhar lento, o respirar pesado e agoniante, as lágrimas secas em meu rosto.
Minha expressão me entrega. Minha sombra me carrega nas costas, com pesar.

Eu não existo mais.
Continuo me condenando mesmo sabendo que não tenho culpa, mesmo tendo certeza que a reação disso será mais destruição.
Me crucifico por traumas.
Mais que feridas físicas, tenho dilacerado meu ser a cada palavra impiedosa que direciono à mim mesma.
Tenho feito o que mais temia.
As cores são as únicas coisas que eu vejo mesmo que tudo esteja escuro agora e provavelmente não passe de uma ilusão que meu inconsciente plantou aqui.

Só não quero que veja meu rosto banhado em sangue, não quero sentir vergonha, das marcas, de quem me tornei. Andei um deserto por anos pra me descobrir, ninguém realmente sabe e eu preciso me libertar do monstro que criei em mim, eu não sou o que passei.

Eu exorciso tudo isso.

Fim.

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