"Quando se perde alguém importante,
você não a perde verdadeiramente,
é descanso até encontrá-la novamente. "
- animusconciati
Me lembro certa vez, de estar muito triste quando criança e pedir pra ela não ir embora porque era importante pra mim - palavras de uma mini pessoa de oito anos -, e nesse momento ela segurou meu pequeno rosto com suas mãos gigantes e disse que eu não era uma heroína e que não poderia salvar ninguém, eu não entendi nada naquele momento, eu só pensava em como ainda queria senti-la por perto.
Lendo assim pode até parecer dureza ou até frieza da parte dela para com aquela criança - eu -, mas não vejo assim, eu as carrego em mim, lembro muito bem de sua expressão preocupada e carinhosa me dizendo tais coisas enquanto lutava arduamente contra uma doença que estava acabando com si própria, que a causava dores intensas e não a deixava em paz por um dia sequer.
Me lembro das cores que esse dia possuía , eram tons alegres, o verde estava vivo e as flores estavam brotando e enchendo as árvores de toda a vizinhança, completamente diferente do que eu sentia por dentro, meu interior estava completamente monocromático e frio, mesmo sendo uma criança, eu sentia que a vida era rápida e talvez até injusta, com apenas oito anos eu enxerguei a realidade árdua da partida.Muitos já me disseram que as escolhas que fazemos nessa vida têm suas consequências e que não há absolutamente nada nesse mundo que mude isso, mas depois de ter entendido e presenciado a existência dela em minha vida, depois de ter visto de perto a personificação da alegria, não sei se é justo considerar totalmente esse tipo de coisa.
Eu a via sorrir enquanto perdia partes de si - cabelos, seios-, ela costumava ser tão vaidosa e mantinha tanto zelo com a aparência, e eu a vi chorar tantas vezes por ter fios caindo por todos os lados da cama ao acordar pela manhã, por todas elas daí em diante. Até o dia em que decidiu tirá-los. Era difícil de ver e sentir que talvez aquilo nunca mais voltaria ao que era antes.
A cada ano que ia se passando, os momentos iam ficando mais curtos, eu tentava por tudo nesse mundo aproveitá-los o máximo, já com 11 anos. Eu posso dizer que, de todos os sorrisos desse mundo, o dela conseguiria iluminar qualquer ser humano que o mirasse. Ela possuía uma felicidade constante, duradoura, eu sempre quis descobrir como ela conseguia estar sempre sorrindo e alegre em meio a toda aquela dor, era como se ela carregasse consigo um potinho cheio de felicidade dentro e saísse espalhando por onde andasse.
Eu amava vê-la sorrir.
Eu a pedi aos oito anos para não partir, pra nunca me deixar, eu a disse várias vezes que queria que ela me visse me formando, ela me disse que eu não poderia salvar ninguém, aos 11 eu estava aproveitando cada segundo como se fosse o último.
Aos quatorze ela era meu alicerce, meu total apoio, meu braço direito, me conhecia como ninguém e me levantava quando eu insistia que era insuficiente em qualquer coisa que fosse, ela adorava meus desenhos, -mesmo que fossem rabiscos desconexos-, ela foi minha fã número um em todos os sentidos e fazia questão de saber como eu me sentia.
Aos quatorze eu a perdi.
Ela mal sabia que parte de mim se foi junto a ela naquele dia 12, e que nunca mais seria possível se restituir o espaço que pertenceu a ela aqui dentro.
Ps: Esse poema é uma dedicatória pra pessoa que foi e ainda é a mais importante da minha vida, a minha avó, sei que muita gente ja passou pela situação de perder alguém então saibam que não estão sós, espero que tenham gostado das palavras, se quiserem deixar comentários eu ficaria mais feliz ainda.. Obrigada 💛

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Scintilla
PoetryComo iniciar algo? é sempre uma pergunta que martela na minha cabeça, eu sempre dou pra trás nisso, sempre desisto antes de chegar no meio, decidi ir além e transcrever minhas dores, foi necessário. Aqui deixarei minhas escritas pessoais e, de acord...