Minha Nana
Estava esperando sua Nana chegar. Nana era o nome que ele chamava Edith, carinhosamente. Nana vinha do nome de sua mãe biológica Naara Schein, que ele também a chamava assim. Era um tanto quanto injusto ele chamar sua mãe adotiva do mesmo modo como chamava a mãe biológica, mas era esse nome, Nana, que o remetia à amor materno.Estava com um carrinho de madeira e deitado no chão. Empurrava o carrinho para frente e para trás e fazia um som com a boca que expelia saliva para todo o lado. Brincava com seu sobrinho de coração; Leonhard Lipschutz.
— Ele vai capotar! — gritava Leonhard pela sala da casa. — Cabum! Explodiu!
O garotinho de cinco anos pulava, girava o corpo e corria em círculos. Tinha tomado o carrinho de madeira da mão de Samuel e batia com força contra seu próprio carrinho. Um deles, quebrou uma roda.
— Viu, agora está quebrado. — disse Samuel desaprovando a atitude da criança.
— Conserta tio! — Leonhard entregou o carrinho quebrado nas mãos de Samuel e sorriu.
Aquele sorriso fez Samuel se lembrar de Lisie, a mãe daquele garotinho. Apesar de ser muito parecido com Caleb, Leonhard tinha o sorriso de Lisie. Um sorriso puro, verdadeiro.
A porta da pequena casa da família Lipschutz se abriu calmamente. Samuel pensou que fosse sua Nana vindo lhe buscar, mas não era. Era Caleb acompanhado de uma moça que, de início, Samuel teve dificuldade para reconhecer, mas foi possível reconhecê-la agora bem mais bonita. Hanna.
Samuel largou o carrinho quebrado de Leonhard no chão, o que fez o garoto resmungar. E foi correndo abraçar Hanna Szpilman. Sua alegria era imensa. Ele levantou a moça do chão. Ela soltou um gritinho curto. Deu-lhe um beijo estalado na bochecha e a cumprimentou.
— Pensei que nunca mais a veria de novo. — ele disse agora com uma voz mais grave.
— Olha só para você! Não é mais um menino. Cresceu tanto, está maior que eu. Fico muito feliz em vê-lo assim, forte, saudável, bonito. — ela retribuiu o beijo na bochecha.
Caleb estava tentando acalmar Leonhard que agora chorava porque o tio havia ignorado seu carrinho quebrado. Sentado no sofá e acariciando os cabelos pretos de Leonhard, tentava controlar o choro do filho.
Samuel admirava a atitude de Caleb. Tinha certeza que ele era um pai maravilhoso. Daria tudo para ter um pai como Caleb. Daria tudo para ter um pai, pois nunca conheceu o seu. Atualmente, ele vinha tendo uma figura paterna relevante em sua vida e que o acompanharia para o resto de seus dias. Essa figura era Heinrich Strauss que estava namorando Nana, apesar de ser anos mais novo que ela. Ele gostava demais de Strauss, mesmo que no início, quando estava com Lisie no cômodo da fábrica de Schneider, ele temesse o ex-sargento. Aquilo tudo já tinha passado. Graças à Deus.
Caleb, que já conseguira acalmar Leonhard, convidou todos à cozinha e começou a preparar arroz e legumes.
— Hanna está faminta. — ele pronunciou.
Samuel se sentou do lado direito da pequena mesa de apenas quatro lugares na cozinha. Queria tanto conversar com Hanna. Saber de sua vida e contar sobre a dele. Mas, a moça estava brincando com Leonhard de uma forma tão natural e espontânea, que ele não quis interromper.
— Onde está seu pai? — Hanna questionou em meio à brincadeira.
Ela se direcionava à Caleb.
— Está trabalhando. Voltou a exercer a advocacia. — ele respondeu mexendo uma colher de metal na panela.
O diálogo entre os dois prosseguia, mas a atenção de Samuel estava voltada para outra coisa. Nana havia chegado na pequena casa dos Lipschutz acompanhada de Strauss. Ela fitava Hanna com uma cara horrível. Samuel a conhecia muito bem. Ela estava muito brava.
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Renascenças da Guerra
Historical FictionCinco anos se passaram desde que a Segunda Guerra Mundial acabou. Os acontecimentos da guerra agora repercutem pelo mundo e uma nova ordem mundial está surgindo pouco a pouco: a Guerra Fria. Agora Caleb Lipschutz é um sobrevivente do Holocausto e se...