19 - Leonhard

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Uma rosa para Emilse

E foi assim. Todos os dias Leonhard se dirigia à biblioteca todo contente e saltitante dando a desculpa de emprestar livros. Chegou a selecionar livros dos quais jamais leria, sem interesse para ele. Mas, o interesse estava ali, no balcão. A garota dos cabelos cor de mel.

Ele a olhava impressionado com sua beleza. Cada gesto dela o deixava encantado. Por vezes, se pegava imaginando como seria abaraçá-la, beijá-la, senti-la.

Um dia foi bastante ousado. Durante sua caminhada matinal até o colégio, colheu uma rosa linda bem vermelha. "Entregarei nas mãos de Emilse após a aula", pensou. Como de costume, deixou uma pedra no túmulo de seu avô, Benjamin, no cemitério judaico que ficava no caminho para a escola. Sentia-se triste ao lembrar do avô. E, também, ao lembrar de sua mãe do coração Hanna. Onde ela estaria? Por quê o coração de seu pai foi tão frio ao expulsá-la de casa sabendo que ela não tinha para onde ir? Será que estava se alimentando? Será que tinha um teto sobre sua cabeça? "Mãe, eu te amo, que Deus esteja sempre com a senhora", ele suplicava. E mais: devia falar sobre aquilo que viu no banheiro? Aquela cena aterrorizante? Deveria mesmo tentar falar com o pai que estava mais preso ao passado do que tudo, mesmo depois de 16 anos? Para um adolescente, tais perguntas incomodam demais. É muito difícil ser decidido na adolescência. Leonhard mantinha todas essas indecisões, a não ser uma, a qual tinha mais certeza do que tudo: Emilse.

Guten morgen Emilse! - ele disse todo sorridente, aquele sorriso lindo igual ao de Lisie, ao entrar na biblioteca do colégio após o término das aulas.

Guten morgen Herr Lipschutz, o que vai ler hoje? - respondeu-lhe a garota dos cabelos cor de mel num tom sereno e agradável, que fez seu coração pulsar mais rápido.

— Por favor me chame de Leonhard e não, hoje não vim ler nada!

— Ora, ora! Será que você já leu todos os exemplares daqui? - ela fez uma cara de surpresa.

— Acho que não. Porém, hoje vim lhe fazer um convite.

— Convite? - Emilse arqueou uma das sobrancelhas expressando dúvida.

Ya! Vamos à cafeteria? - e Leonhard esticou sua mão direita que segurava a rosa vermelha reluzente.

Emilse arregalou os olhos verdes e sua boca fez um formato idêntico ao de um O. Ela expressava espanto. Segurou a flor com a mão esquerda, espetando-se em alguns dos espinhos presentes em seu cabo.

Ao perceber o leve descuido da moça, Leonhard tocou-lhe suavemente a mão, deslizando seus dedos calejados de tanto escrever durante as aulas, sob as minúsculas feridas que os espinhos causaram. Ele olhou fixamente para a garota dos cabelos cor de mel e sorriu. Ela retribuiu o sorriso. Em seguida, guardou a flor em sua bolsa.

— Então? Vamos a cafeteria? - Leonhard reafirmou o convite.

Emilse gaguejou um pouco. Respirava fundo diversas vezes. Parecia pensar. Leonhard aguardava ansiosamente sua resposta.

— Estou com pouco dinheiro Herr Lipschutz. Sinto muito.

— Não seja por isso. Eu pago nosso lanche.

Emilse pareceu insegura. Mas, por fim, aceitou ir à cafeteria com o aluno.

Leonhard quis tanto, mais tanto, segurar a mão da moça durante a curta caminhada até a cafeteria. Ele teve que colocar suas mãos para trás e segurá-las firmemente em suas costas contendo a si mesmo para não avançar mais do lhe era permitido. Fitava a garota mas ela só olhava pro chão. Percebeu leves sorrisos em seu rosto. Sorriu também. Ele a admirava e sentia algo diferente ao olhar para ela. Algo reconfortante. Algo bom.

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⏰ Última atualização: Jul 27, 2019 ⏰

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