6 - Edith

204 27 21
                                    

O pós-guerra (II) - O Tribunal de Nuremberg

Edith estava inconformada com o fato de outra mulher estar morando na casa dos Lipschutz e cuidando de Leonhard. Leonhard seu netinho. Lisie é a mãe dele e não essa tal de Hanna Szpilman. Será que Caleb está namorando ela? Transando com ela? Não queria nem imaginar.

Estava sozinha na mansão. Parecia uma formiga no meio do milharal. Strauss tinha ido levar Samuel na escola com o automóvel do tio Bernd. Edith olhava fixamente para um quadro na sala de estar. Era uma fotografia de Wichard e Lisie. Ela começou a chorar. Renascer a guerra em seu coração era algo difícil e doloroso, mas ela precisava ser forte. Isso, a renascença, a fez lembrar-se de uma ocasião.

Abril de 1946

Edith está sentada no sofá da sala de estar lendo um jornal. A manchete principal era "A caça aos Nazistas continua" e o subtítulo era "Hoje mais de 600 soldados nazistas serão julgados em Nuremberg". Ela ouve batidas na porta. Estava esperando o padre Heiner e era ele.

— A benção Herr padre. — ela disse dando passagem para ele entrar.

— Deus lhe abençoe Frau Schmidt.

Os dois sentaram-se na mesa do cozinha e foram tomar chá. O assunto era sério.

— Está preparada Frau Schmidt? — indagou o padre.

— Estou sim Herr padre.

Os dois saíram da mansão em direção à estação de trem de Stuttgart. Embarcariam às 12:45. Edith trajava um vestido preto até os joelhos e um pequeno salto. Usava um chapéu com um pequeno véu que lhe cobria os olhos, mas não atrapalhava sua visão. Segurava uma bolsa com vários papéis dentro. Estavam indo para Nuremberg.

Derek iria ser julgado naquele dia e o padre estava aflito. Edith entendia a reação dele.

— Eles vão inocentá-lo Frau Schmidt? — questionava o padre dentro do trem. Suas mãos suavam.

— Eu espero que sim Herr padre. Espero que isso ajude.

O trem prosseguia viagem. O padre tomava muita água e suava feito uma chaleira. Estava nervoso. Edith também estava nervosa. Por mais que Derek tivesse humilhado Caleb, o pai de seu neto, dentro de Hoffnung e tivesse assassinado Hermann Litz, ela gostava dele e queria ajudá-lo. Não queria vê-lo preso.

Ao chegarem na estação de trem de Nuremberg, já podiam perceber o alvoroço que se instalava nas ruas. Repórteres do mundo inteiro, civis alemães e sobreviventes do Holocausto tumultuavam e gritavam ofensas aos Nazistas. Quando um ex-militar descia escoltado, podia-se ver pedras, lixo, sapatos e tudo o que servisse para ser atirado, voando e atingindo alguém. Rebeldes batiam com força nas portas do tribunal para entrar. Nuremberg estava de virada ao avesso.

Quando Edith e o padre chegaram no tribunal, os repórteres vieram se aglomerar na porta do táxi. "Seu marido era Nazista. O que você pensa sobre isso? Você concorda com o que seu marido fazia? Como ele se portava em casa?" E vários outras perguntas indiscretas eram proferidas. Edith não se deixou abalar. Queria apenas depor a favor de Derek naquele dia. Com a ajuda de alguns policiais, ela atravessou o algomerado de gente e se adentrou no tribunal de Nuremberg. Respirou fundo e se dirigiu à sala de julgamentos.

Os papéis dentro da pasta poderiam salvar Derek. Eles comprovavam o curto espaço de tempo que Derek esteve na SS e ainda mostravam que Wichard sempre ajudou o garoto desde que ele fora adotado pelo padre, como por exemplo, o pagamento dos boletos escolares. No escritório de Wichard na mansão haviam alguns documentos que mostravam a baixa patente de Derek bem como sua função: vigiar os barracões. Claro que essa função não era verdadeira, mas era isso que estava escrito no documento de admissão de Derek na SS em julho de 1943.

Renascenças da GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora