7 - Samuel

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A dama Rachel Maisch

Rachel Maisch. É esse o nome dela? Parece que sim. Samuel estava em pé recostado em uma pilastra nos corredores da escola. Ele observava a aluna novata. Rachel Maisch. Ela era linda. Tinha cabelos longos e ondulados levemente, eram castanhos, bem escuros, quase pretos e olhos verdes. Samuel tocava a penugem em seu rosto que futuramente seria uma barba. Ele já era um homem. 14 anos! Já está na hora de ter uma namorada e vai ser ela, a aluna novata. A professora organizava os alunos que entravam na sala. Embora cada um tivesse um lugar de costume, a chegada de mais um aluno comprometia a atual logística da turma. Rachel Maisch ficou no fundo. Na carteira atrás de Samuel. Ela lhe cutucou as costas. Ele se embaraçou.

— Você pode me emprestar uma borracha? Eu não sei onde a minha está. — os olhos verdes o fitavam.

Ele começou a gaguejar e a suar. Quando falava só saíam sons picados. A menina estava assustada. Ele tentou se levantar, mas seu pé direito ficou preso no suporte da carteira que desmoronou junto com ele no chão. A classe toda riu.

— Está tudo bem? — a menina veio ao seu encontro no chão.

Mas ele levantou e saiu da sala mesmo sem autorização da professora.

*

Só voltou a falar com Rachel Maisch dois meses depois.

— O trabalho será em dupla. — anunciou a professora de alemão.

— Quer ser minha dupla? — ela convidou.

— Claro! — ele sorriu meio atrapalhado.

— Está pronto para o trabalho? — disse Rachel ao adentrar a mansão.

Nana havia saído com Strauss. Estavam sozinhos e Samuel estava bastante nervoso. O suor escorria-lhe o rosto e uma tremedeira sem fim tomava conta de suas pernas.

— Estou. — ele assentiu.

— Há algum problema? — a menina questionou.

— Não. Por que haveria? — ele disse ficando mais nervoso ainda.

— Você está pingando de suor e suas pernas estão tremendo.

— Estou com frio!

— E o suor?

— É calor!

— Como pode sentir calor e frio ao mesmo tempo?

Samuel ficou calado. Não sabia o que responder para Rachel.

Convidou-a então para irem até a seu quarto no segundo andar da mansão, que antes era um quarto de hóspedes. Lá havia uma pequena mesa com uma cadeira e ele foi levando a outra escadaria acima. Um silêncio momentâneo.

— Sente-se. — ele pôs a cadeira no chão e estendeu a mão direita no sentido do assento. Rachel sentou-se.

— Bom... eu trouxe alguns livros de alemão e...

— Você não está bem Samuel. Não acha melhor eu voltar outro dia para fazermos o trabalho?

— Eu estou bem sim. — ele protestou.

O trabalho foi realizado com muita dificuldade. Samuel cometia vários erros ortográficos a todo momento e o suor continuava a escorrer por sua face. Ele se irritava com seus próprios erros. Chegou a gritar em um certo momento, o que deixou Rachel assustada. Mas, conseguiram finalizar o trabalho. Eram seis e meia da tarde. Nana ainda não havia chegado. Estavam assistindo à televisão que Strauss trouxera de Dresden para Nana e ele. As notícias não eram boas. Os americanos e os soviéticos estavam tendo divergências quanto a passagem de cargas e mercadorias dos respectivos lados que ocupavam na Alemanha.

— Ainda bem que estamos do lado americano. — ele disse sem jeito.

— É verdade.

Samuel percebeu um sorriso na boca da menina e teve muita vontade de abraçá-la. Os dois estavam muito próximos no sofá. Seus corpos estavam grudados. Samuel podia escutar a respiração acelerada de Rachel ao seu lado. Ele suspirava. Nunca havia beijado uma garota, mas sentia que essa era a hora. A tremedeira voltou e o suor também. Estava incomodado.

— Está tudo bem? — ela perguntou.

— Está sim. — ele tentou, sem sucesso, se acalmar.

— Você está agitado.

— Estou bem.

Samuel sentiu as mãos finas de Rachel sob as suas. Seu coração acelerou. O nervosismo tomava conta dele. Virou-se para o lado da menina. Ela sorria. Samuel não sabia o momento exato que aquilo aconteceu. Se viu respirando junto com Rachel em um ritmo anormal. Suas bocas se tocaram levemente. Soltaram. Depois se tocaram de novo. Ele encostou na coxa dela. Ela tocou-lhe a cintura. Ele só pensava em como aquele momento era bom e prazeroso.

— Oi meu filho. Chegamos! — era Nana.

Os dois se desgrudaram rapidamente. Tomaram postura ereta e alinhada no sofá.

Nana adentrou a sala de estar.

— Olá. Quem é sua nova amiga querido?

— Rachel Maisch. Estuda comigo. — ele apresentou as duas. — essa é minha mãe, Edith.

As duas se abraçaram. Ele voltou a ficar nervoso. Nana convidou Rachel para o jantar e depois Strauss a levou em casa com o automóvel do tio Bernd.

— Ela é sua namorada, filho? — Nana perguntou.

— Não Nana, ela é apenas uma colega de classe.

— Mas você gosta dela.

— Não Nana.

— Eu sei que sim. Não minta para sua Nana.

— Não estou mentindo. — ele estava mentindo.

Nana olhou para ele dando um sorriso malicioso e começou a fazer-lhe cócegas. Ele gargalhou alto.

Samuel foi dormir pensando naquele beijo e na beleza de Rachel Maisch. Sua futura namorada.

Renascenças da GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora