10 - Hanna

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Agosto de 1961

Dez anos. Hanna esperou dez anos pelo tão sonhado pedido de casamento de Caleb, mas esse pedido apareceu. 13 de agosto de 1961. Hanna está grávida aos 37 anos.

Ela alisava sua barriga. Estava deitada na cama e sorria muito. A felicidade consumia seu coração. Agora teria um bebê. Alguém para cuidar, amar e educar e o melhor de tudo: era filho de Caleb também.

Seu querido Leonhard já tinha 16 anos e era um rapaz muito bonito e inteligente. Era o aluno mais aplicado da turma e isso deixava Hanna extremamente feliz e satisfeita, pois foi ela quem cuidou do menino por todo esse tempo e o incentivou nos estudos. Agora, Leonhard a chamava de mãe e ela ficava toda contente. Ele sempre chegava da escola e a dava um beijo no rosto. Trazia flores que colhia dos bosques e doces que comprava nos mercados de Stuttgart. Ele aprendeu o polonês e o iídiche com sua ajuda. E ela daria um irmãozinho ou irmãzinha para ele. Um parente que ele sempre pediu. Ele estava muito feliz com essa notícia. Já tinha comprado uma roupinha branca para o bebê e Hanna estava mais feliz ainda, ela pegou a roupinha e deixou em sua gaveta. Todo dia ela ia até a gaveta e olhava para a roupinha imaginando um bebê rechonchudo dentro dela. Sorria e fechava a gaveta novamente.

Ela deu a notícia à Caleb que a abraçou bem forte.

— Estou muito feliz com essa notícia Hanna, minha querida. — ele disse.

Os dois se beijaram.

Caleb tocou a barriga da moça e sorriu.

— Case-se comigo. Vamos nos casar agora. Seremos uma bonita família.

— Eu aceito. — ela disse sorrindo.

Caleb segurou sua mão e beijou-lhe o rosto.

— Vamos até a sinagoga falar com o rabino sobre isso. Como eu queria que o tio Paul estivesse aqui para eu pedir sua mão a ele.

Hanna sentiu-se feliz ao ouvir que Caleb queria falar com seu falecido pai sobre o casamento e ao mesmo tempo ficou triste por seu pai não estar ali.

Benjamin estava felicíssimo. Ele saudava Hanna a todo segundo. Mesmo já um pouco velho e cansado, ele esculpiu um berço de madeira para a criança.

— É um presente meu para você Hanna. Obrigado por me dar a oportunidade de ter mais um neto! — ele abraçou a futura nora e acariciou seus cabelos cacheados.

— Esse berço é muito lindo Benjamin! Não sei como agradecer.

— Não precisa me agradecer. Esse neto já é uma benção de Deus para nós.

Conseguiram marcar o casamento na sinagoga para daqui a três meses, em novembro. Hanna estava ansiosa. Caleb com sua carreira de escritor consolidada e recebendo muito reconhecimento em suas obras literárias, deu uma quantia em dinheiro para Hanna e disse:

— Use isso para comprar seu vestido de noiva.

Hanna olhou as notas que estavam num saco de pano. Contou o dinheiro e imaginou um lindo vestido branco para si. Ela era uma mulher completamente realizada agora. Um filho, uma família, um casamento... tudo que sempre quis nos anos que sucederam o holocausto.

Nesse dia, 13 de agosto de 1961, aconteceu um marco importante para o contexto político-mundial da época. O símbolo da Guerra Fria e da divisão do mundo em capitalista e socialista. A nova ordem bipolar estava consolidada e a Alemanha era o palco disso. O muro de Berlim foi erguido.

Construído na madrugada de 13 de Agosto de 1961, dele faziam parte 66,5 km de gradeamento metálico, 302 torres de observação, 127 redes metálicas eletrificadas com alarme e 255 pistas de corrida para ferozes cães de guarda. Este muro era patrulhado por militares da Alemanha Oriental Socialista com ordens de atirar para matar (a célebre Schießbefehl ou "Ordem 101") os que tentassem escapar. O que provocou, segundo dados do regime socialista, a morte de 80 pessoas, 112 feridos e milhares aprisionados nas diversas tentativas de fuga para o ocidente capitalista, além de separar, até sua queda, dezenas de milhares de famílias berlinenses que ficaram divididas e sem contato algum. Os números de mortos, feridos e presos é controverso, pois os dados oficiais do fechado regime socialista são contestados por diversos órgãos internacionais de Direitos Humanos até o dia de hoje.

O mundo estava abismado com tal audácia. Construir um muro para separar as pessoas que não tem nada a ver com as ideologias políticas?

O mundo agora era controlado por duas vertentes: o capitalismo representado pelos Estados Unidos da América (o ocidente) e o socialismo representado pela URSS - União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (o oriente).

Os países que representavam o capitalismo junto com os Estados Unidos eram chamados 1º mundo. Os que representavam o socialismo junto com a URSS eram chamados de 2º mundo e aqueles que não tomaram nenhuma posição diante da bipolaridade mundial como, por exemplo, a Índia e alguns países africanos, eram chamados de 3º mundo. Essa denominação foi sendo associada pouco a pouco com o desenvolvimento de cada país, mas esse não era o verdadeiro propósito.

— Nós precisamos fazer alguma coisa! — Caleb chegou muito aflito na pequena casa dos Lipschutz.

— O que aconteceu ? — Hanna estava curiosa.

— Você se lembra que Strauss estava fazendo a mudança do tio dele de Dresden para Berlim? Porque em Berlim tem mais recursos médicos e o tio dele estava muito debilitado?

— Sim. Lembro-me.

— Então, ele está preso do lado oriental. Os soviéticos não o deixaram voltar para Stuttgart.

Todos ali na sala, Hanna, Benjamin e Leonhard, ficaram boquiabertos.

Renascenças da GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora