11 - Edith

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11 de Agosto de 1961

— Você tem mesmo que ir? — perguntou Edith desolada.

— Eu vou mas volto meu amor. — Strauss deu-lhe um beijo na boca.

Edith despediu-se do marido e ela não sabia quando o veria de novo, mesmo achando que ele voltaria daqui há dois dias.

13 de Agosto de 1961

Como uma mulher de 58 anos pode ser tão feliz? Era assim que ela se sentia. Seu filho já estava com 25 anos e muito realizado com a namorada. Seu marido a amava e ela o amava também.

A única coisa que a incomodava era Hanna Szpilman. Uma garota sem escrúpulos. Como uma pessoa vive onze anos em uma casa só com homens? Sem ser casada? Que garota indelicada! Ela não suportava ver Leonhard chamá-la de mãe. Lisie é quem deveria ser chamada de mãe. Isso a deixava com muito ódio.

— Você pensa que é quem para se sentir mãe do meu neto? — ela disse para Hanna certa vez.

— Ele me considera assim. E eu o trato muito bem. Ele tem motivos para isso! — Hanna retrucou.

— Você não passa de uma esfarrapada! — Edith ofendeu.

As duas começaram a se insultar e só foram repreendidas quando Caleb e Strauss chegaram na pequena casa dos Lipschutz.

E durante esses anos, vários insultos, discussões e brigas surgiram. Elas não se suportavam.

Edith reagiu com certa repulsa quando ficou sabendo da gravidez de Hanna e do casamento. "Não vou a esse casamento", pensou.

Por outro lado, Edith se encontrava imensamente alegre por Caleb estar sendo consagrado como um brilhante escritor na Alemanha e seu último lançamento era um livro especial dedicado a Lisie. Edith chorava a cada página que passava do livro. Lembrava da filha e do sorriso dela. E chorava...

Uma coisa que a surpreendeu foi o fato de Lisie ter sido a responsável pela libertação de Hoffnung. Ela nunca imaginou aquilo. Sentiu orgulho da filha. Essa era sua menina!

Ela voltou ao túmulo de Lisie e deixou rosas brancas lá. A flauta transversal ainda estava corroída no canto da sepultura e ela notou a ausência de Schuzy. Quando ia embora, o coveiro lhe disse que o pequeno gatinho havia morrido em cima do túmulo de sua amiga. Edith se emocionou. Era incrível a fidelidade de Schuzy.

Lá, no mesmo cemitério, ao lado do túmulo de Lisie, alguém jazia em paz: o padre Heiner. Ele viveu 79 anos em função de ajudar os demais, combateu o nazismo e amou muito Lisie, ele merecia jazir ao seu lado. Infelizmente ele não sobreviveu a tempo de ver seu sobrinho Derek ser libertado da prisão em 1956. Ele faleceu um ano antes.

Frau Schmidt. — ele disse fraco em seu leito na casa paroquial.

— Sim Herr padre.

— Diga a Derek que eu o amo muito. Ele é uma luz em minha vida!

— Ora Herr padre, você mesmo pode dizer isso a ele.

— Não minha cara. Eu vou me encontrar com Deus agora. Com Deus e com Lisie. — ele sorriu meio fraco.

— Não diga uma coisa dessas Herr padre.

Edith deixou o quarto e Heiner faleceu depois de 25 minutos. Tranquilo e sereno como sempre. Ele estava doente. E se foi.

Edith também deixou rosas brancas para o padre. Tinha certeza que ele estava no céu.

Um toque no telefone. Manhã de 13 de agosto de 1961.

— Alô. — disse Edith.

— Meu amor. Tem que ser rápido só tenho um minuto ou os soviéticos vão me prender.

— Pelo amor de Deus! O que houve meu bem?

— Os soviéticos construíram um muro em Berlim. Um muro que proíbe a passagem das pessoas para o outro lado e eu o tio Bernd estamos presos na Berlim Oriental...

A ligação caiu. Edith tentou, sem sucesso, continuar se comunicando com o marido. Como assim um muro? Essa briga entre capitalistas e socialistas chegou a esse ponto?

— Samuel! — ela gritou

— Oi Nana. — ele surgiu na frente da mãe.

— Você sabe que os soviéticos construíram um muro em Berlim?

— Um muro? Como assim?

— Sim, um muro! E eles proibiram as pessoas de passar por ele.

— Mas eles não podem fazer isso! — Samuel estava indignado.

— Já fizeram meu filho. E seu pai está preso do outro lado.

Os dois se abraçaram preocupados. Chamaram Caleb na mansão e deram a notícia a ele. Precisavam de ajuda.

— Eu vou dar um jeito. — ele prometeu.

Todos estavam desesperados.

Renascenças da GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora