Capítulo 107

4K 163 2
                                    

Maratona 8/14

Bia narrando

Era bom me sentir "em casa" mas ao mesmo tempo não era, pelo fato do culpado disso tudo estar dormindo no quarto ao lado. Ele tem grande parte de culpa em tudo isso e eu tenho raiva por amá-lo tanto.

A Letícia começou a bater na porta pedindo pra eu abrir, ignorei ela e fui pro banheiro, me olhei no espelho e cenas daquela noite passavam em flashes na minha mente, as lágrimas já tomavam conta do meu rosto.

Escorreguei na parede devagar e me encolhi em um canto, eu tinha vergonha. Vergonha de mim, vergonha dessa parte da minha vida, vergonha de ter deixado minha vida se tornar um inferno, vergonha de agradecer por estar viva.

Me arrastei até a banheira e liguei a água, tirei a roupa e esperei encher. Ali eu sentia minha alma sair e entrar no meu corpo. Essa mancha obscura que jamais será apagada, uma mancha que o desgraçado deixou.

Fiquei ali lembrando de toda a tortura, toda a dor, todo o ódio que eu senti naquele dia.

*duas semanas depois*

Já faz um tempo que eu tô trancanda aqui, não consigo dormir direito, toda noite é um horror. Me sinto desprotegida, meu corpo queima, minha mente fica a mil. A maioria do tempo fico andando de lá pra cá, cama e banheiro, lágrimas e mais lágrimas do momento mais terrível da minha vida.

Todo dia o WL ou a Letícia me trazem comida e isso me lembrou tanto aquele lugar, eles colocam a comida na porta e vão embora. Eu sei que eu pedi, mas me sinto tão sozinha...

Precisava desse tempo pra mim e tô decidida, pelos meus filhos, a tentar esquecer tudo que eu vivi naquele inferno e deixar que minha vida andar pra onde ela quiser ir.

Levantei da cama devagar e fui tomar banho, coloquei uma roupa qualquer que a Letícia me trouxe, fiz um coque bagunçado e me preparei pra abrir a porta. Respirei fundo, abri e deixei que o vento me atingisse, no mesmo momento o L7 tava saindo do quarto e olhou pra mim, voltei pro quarto e tranquei a porta.

- Eu não tô preparada, eu não tô preparada -repeti várias vezes sentindo meu peito arder- Não! Eu consigo, eu consigo, eu consigo.

Saí do quarto e fechei os olhos.

L7: Vc tá bem? -me fitou-
- Tô!

Desci as escadas e encontrei a Letícia na sala com o Gustavo.

Leti: Amiga -me abraçou- vc tá bem?
- Já disse que sim.

Gustavo engatinhou até mim e eu peguei ele.

- Oi, meu bebê, mamãe tava sentindo tanto a sua falta... É, meu amor. -ele gargalhou- Cadê seu irmãozinho, hein? -olhei pra Letícia- Cadê o Henrique?
Leti: Ele ainda tá dormindo lá no quarto.

Sentei pra tomar café da manhã com o Gusta no colo, terminei e fui assistir desenho com ele na sala, deixei ele com a Letícia e fui ver o Henrique que já tinha acordado.

- Ai, meu amor... Como vc tá gordão príncipe. Vamos tomar banho com a mamãe? É... Vamos!

Tirei e roupinha dele, dei banho, dei peito, arrumei ele direitinho, desci e dei de cara com o povo todo lá em casa.

- Eu estou bem! -falei descendo a escada despertando a atenção de todos-

Pedro foi o primeiro a vir me abraçar, tava sentindo tanta falta de todos, saudade dos bailes, das zoeiras, das brigas, de tudo... Acho que me sinto preparada pra recomeçar minha vida, com a minha família perto tudo fica melhor.

Ficamos conversando uns papos aleatórios, colocando o papo em dia e me atualizando das coisas. Eles pareciam ter sofrido bastante com o sequestro, como eu sofri, agora sim me sentia acolhida, protegida e feliz.

L7, WL e VT saíram pra boca, Carol e Pedro foram fazer suas coisas e ficamos só eu, Nanda, Letícia e Dimenor.

- E esse casalzão aí, como tem andado?
Nanda: Por incrível que parece ele tem se comportado. -rimos-
Dimenor: Claro, sou em anjo!
Nanda: Meu amor, que tal vc dar um rolê pra eu e as meninas conversarmos? -sorriu amarelo-
Dimenor: Porra, me expulsando mané... -deu um beijo nela- Daqui a pouco te ligo. Seja bem vinda de volta, cunham -foi saindo-
- Valeu, cunha. -ri-
Nanda: Vai, agora fala o que vc quer perguntar?

Do Asfalto Ao MorroOnde histórias criam vida. Descubra agora