Capítulo 98

4.7K 195 22
                                    

Ficamos lá até as 7h da manhã discutindo qual seria a primeira coisa que nós íamos fazer e depois de muita insistência resolvi dar pelo menos um dia pro Zn se comunicar com a gente.

Saí da boca com eles e dei um alô pro pessoal que tava na boca, desci o morro a pé mesmo e fui pra casa.

Leti: Até quem fim L7, estava ficando preocupada! -levantou do sofá-
- Preciso tomar um banho depois a gente conversa... -falei exausto-
Leti: Tá, mas eu preciso te contar uma coisa importante. -se aproximou inquieta-
- Faz assim, reúne todo mundo aqui essa tarde que eu tenho uma coisa mais importante ainda pra falar pra vcs!!
Leti: Eu não tô conseguindo falar com a Bia. -me olhou-
- Reúne quem vc puder que depois vc vai entender.. -abracei ela e subi-

Já entrei no quarto indo direto pro chuveiro, precisava de um banho que renovasse minha forças. Tirei a roupa e entrei no chuveiro, deixei que a água fria caísse da minha cabeça aos pés relaxando meus músculos.

Eu só conseguia pensar na Bia e nas crianças naquele lugar maldito e como eu queria que isso tudo terminasse logo. Tudo culpa daquele maldito Sargento Meireles! Ele é outro que vai me pagar caro pelo estrago que me fez.

Saí do banho e coloquei um roupa qualquer, coloquei a glock na cintura, atravessei o fuzil nas costas e desci.

Leti: Vc não vai dormir?
- Preciso resolver umas paradas. -respirei fundo-
Leti: Come alguma coisa, então...
- Não enche, Letícia. Venho pra almoçar contigo. -dei um beijo na testa dela-

Peguei uma maçã e saí de moto rasgando até a boca, comi a maçã e logo depois acendi um baseado pra tentar relaxar mais um pouco, dei um rolê pra ver se estavam todos em seus postos e voltei pra boca pra ver se tinham notícias deles.


Bia narrando

Vi o dia amanhecer da janela, não consegui pregar o olho a noite enteira, por medo de algo acontecer e sei lá, tirarem meus filhos de mim de novo.

Sentei no chão e deixei algumas lágrimas escaparem... Como eu queira sair desse lugar logo, não fazia nem ideia do que o maluco daquele homem queria comigo mas eu estava com medo.

Escutei a porta abri e levantei assustada.

Xx: Calma princesinha, só vim buscar as cria! -riu-
- Eles estão dormindo e ninguém vai levar eles daqui! -falei alto e senti uma ardência no rosto-

É, ele tinha batido na minha cara.

Xx: Se vc não quiser passar o dia amarrada no sol, vc fica quieta e não perturba meu juízo.

Mais dois homens entraram e pegaram as crianças, que resmungaram um pouco mas nem choraram. Sentei no chão e comecei a chorar, a cada minuto que eu passava aqui odiava todo esse lugar.

Queria mesmo é voltar pra minha casa, minha família, meu homem e meus amigos. Odeio isso tudo!
Depois de muito tempo o mesmo homem que entrou ontem no quarto entrou sorrindo e com uma bandeja na mão.

Xx: Aí gostosa, teu café!
- Não quero nada! -falei de cabeça baixa-
Xx: Então fica com fome, vagabunda. -colocou a bandeja no chão-
- O QUE VC QUER, HEIN? -me alterei- EU E MEUS FILHOS NÃO TEMOS NADA HAVER COM ESSA SUA RINCHA COM O L7, VCS QUE SE RESOLVAM SÓ NÃO COLOQUEM MEUS FILHOS NO MEIO DISSO! -gritei-
Xx: Calma, mocinha, não precisa disso tudo. -riu sarcástico- Primeiro vamos as apresentações: Eu sou o Zn, dono dessa porra toda aqui, o mais brabo da área. -se gabou-
- E onde que eu tô?
Xx: Tu tá no melhor morro do rio, o morro do Alemão!

Senti meu corpo gelar.

*Flashback on*

Dimenor: Como eu não imaginei antes? É claro...
- Por que? O Alemão tem alguma rincha com a Rocinha? -falei dando uma mordida no meu hambúrguer-
Dimenor: São 17h da tarde e vc tá comendo um hambúrguer? -fez uma careta-
- E daí? Conta logo...
Dimenor: Os cara do Alemão sempre quiseram tomar o morro de nós, e foi em uma dessas guerras que o pai do L7 morreu, só que o pai do WL logo ficou de frente e eles não tiveram como subir pra tomar. Depois que o morro passou pro L7 eles tentaram tomar duas vezes e não conseguiram nada e nós invadimos lá poucas vezes, mas a ultima vez foi a melhor de todas. -falou orgulhoso- Quase conseguimos o morro pra gente e matamos quase todos os homens dele. Enfim, reze pra eles não tentarem subir porque sem o L7 a gente não tem a menor chance. -gelei-

*Flashback off*

Dei um suspiro leve pra ele não reparar o medo que estava estampado na minha cara.

- Tá, e daí? -disse seca-
Zn: Parece que o L7 não contou nossa história, né?
- Sei de pouca coisa... Mas eu não quero saber de nada disso, eu quero saber pq eu tô aqui?!
Zn: Calma, coisa linda, tudo no seu devido momento. -deu uma pausa- O meu pai e o pai do L7 tinham um ódio imortal um pelo outro, se eu não me engano, era por causa da mãe dele, que largou meu pai e foi ficar com o pai dele. Depois que meu pai conseguiu matar o pai dele ele se tranquilizou um pouco mas nada que não durasse somente umas semanas. Meu pai queria mais, ele queria o morro, e antes dele morrer ele me deu essa missão, de trazer o morro da Rocinha pra nossa família e é isso que eu venho querendo desde sempre. Seu maridinho tirou quase tudo de mim, mas se ele não colaborar comigo vou fazer ele sofrer tanto que vai pedir arrego.
- Se vc não morrer antes, né? -o olhei desafiadora-

Ele deu uma gargalhada alta.

Zn: Vc não me conhece mesmo, né gatinha? Eu NUNCA -deu um grito- entro no jogo pra perder! Nunca mesmo. Mas mudando de assunto, me conta um pouco de vc?
- Eu quero mais é que VOCÊ VÁ PRO INFERNO!
Zn: Nos encontraremos lá, bobinha. -riu levantando- Até depois, vou ver se consigo falar com seu maridinho de merda hoje.

Assim que ouvi ele trancando a porta, respirei mais aliviada, esse homem tava começando a me causar arrepios. Resolvi comer, se não iria morrer de fome naquele lugar, dei uma bela mordida no pão com mortadela e um gole no suco. Até ouvir uma voz familiar em algum cômodo próximo.

Xx: Qual foi tá usando essa casa pra que, primo?
Zn: Se liga na tua Rf, não quero tu se metendo aqui, não!

Me escorei na porta pra tentar ouvir melhor e tinha quase certeza que conhecia essa voz.

Rf: Coe cara, sabe que eu fecho contigo pra tudo!
Zn: Dessa vez eu me viro sozinho. Agora cola lá na boca que o Urso tá precisando de ajuda lá.

Meu Deus, será que algum conhecido meu tá envolvido nisso? Não... Impossível! Eu saberia se convivesse com inimigo. Terminei de comer e fiquei deitada no colchonete olhando pro teto e pensando nesse assunto, que estava me corroendo por dentro.


Putzz, de quem será essa voz misteriosa?

Do Asfalto Ao MorroOnde histórias criam vida. Descubra agora