ALCATÉIA

15-ESTOU SOZINHA...

By Anne Rocha

O Filipe tem me evitado desde aquele momento horrível que eu nem gosto de lembrar, ele está estranho ou eu que o vejo estranho? Procuro pelos conselhos bobos da minha anjinha e diabinha interior, mas parece que as duas estão tão assustadas quanto eu.

O Filipe está andando de um lado para o outro na frente da casa com uma metralhadora, como se a qualquer momento algo fosse surgir de dentro da escuridão, entro pra sala entediada e ligo a TV, Khalid e os gêmeos saíram daqui tão depressa e nenhum deles me disseram o motivo, mas o Khalid sorriu pra mim antes de sair o que me faz pensar que tudo está bem!

O som do carro do meu pai chegando confirma o meu pensamento, tudo está bem, puxo a cortina para espiar lá fora, se não estivesse tão frio eu sairia pra fora um pouco, desde que acordei do meu sono profundo me sinto enjaulada, queria sair pra ver o mar.

Como o meu pai custa a descer do carro, o Filipe vai até ele, mas ao encostar no vidro um mascarado desce do carro e tão rápido quanto um relâmpago lhe imobiliza.

Algo no meu consciente diz que eu devo correr e me esconder, mas eu travo e não consigo sair do lugar, ainda consigo ver um segundo carro chegando, esse é um furgão, finalmente meu corpo obedece a minha mente e eu corro para o último andar da casa.

Eu estou sozinha, eu estou sozinha, eu estou sozinha! Só consigo repetir isso na minha mente o tempo todo, volto a olhar pela cortina da imensa sala do terceiro andar, eles não tem pressa para entrar quatro homens eu consegui contar, ninguém desceu do furgão ainda.

Pego o celular, os dedos tremem tanto que mal consigo discar para ligar para o Khalid, mas o celular está fora de área, assim como o do meu pai e até o celular dos gêmeos, continuo tentando.

Droga, eu preciso de um plano melhor...

Volto para o segundo andar e pego a chave do escritório do Khalid no nosso quarto, ouço um barulho lá embaixo, eles entraram, corro para o terceiro andar na expectativa de achar uma arma no escritório do Khal.

Na primeira gaveta que abri, achei uma arma pequena que brilhava tanto como se fosse polida todos os dias, mas isso não importa agora, eu preciso mesmo é ajudar o Filipe.

Procuro um lugar da onde eu possa observar tudo sem ser vista.

-Cadê a menina?

-Não tá na casa - ouço o Filipe responder, enquanto um dos mascarados lhe soca o rosto, meu coração comprime.

-FALA A VERDADE! - outro chuta ele, que está ajoelhado no meio dos quatro brutamontes.

-Saiu com ...o pai... - as palavras já saem com dificuldade pela dor.

-MENTIRA! SR ROCHA ESTÁ QUEIMANDO NUM QUARTO DE HOTEL COM UMA RAPARIGA QUALQUER! E POSSO GARANTIR QUE NÃO ESTÁ QUEIMANDO DE PRAZER.... - ele ri maldosamente.

Eu engulo o choro, e choro apenas com a alma, volto a repetir para mim mesma como um mantra "estou sozinha, estou sozinha, estou sozinha"...

Mas, o Filipe continua ajoelhado, apanhando e dizendo que eu não estou na casa, EU NÃO ESTOU SOZINHA TENHO O FILIPE! Meu subconsciente grita alto me despertando.

Um barulho na cozinha os distraem, e dois deles vão ver o que é, agora são apenas dois e o Filipe, um está mais próximo do Filipe e o outro parece distraído com um quadro na parede, é agora ou nunca!

Miro como papai me ensinou e atiro, e mais uma vez tudo parece rápido demais para que a minha mente possa acompanhar, me sinto enjoada, a visão escurece e eu desmaio, como um presente para os meus inimigos.

***

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