24- E-MAIL

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By Anne Rocha

Ainda é bem cedo quando ouço, Khalid, Larissa e o meu pai discutindo.

Khalid não confia na Larissa, tem medo de serem presos assim que colocarem os pés no Brasil.

Khalid quer ir para Brasília, o meu pai acha arriscado, Larissa diz não querer contato com nenhum dos dois assim que chegar ao Brasil, pretende voltar ao trabalho e continuar sua investigação sozinha em cima do Aldo Bittencourt.

Meu pai (que está de quatro por ela) diz que isso será impossível, pois agora ela também se tornou um alvo.

Os gêmeos apenas riem que nem uns retardados tentando eleger qual é a celebridade mais bonita do Brasil, e apostando quem consegue beijar uma famosa brasileira primeiro.

Eu me canso de ouvir essa conversa toda que pelo jeito não tem hora pra acabar, e me ponho a pensar que estou com saudade do Brasil, do meu quarto, e por incrível que pareça até do colégio, minha diabinha interior faz uma careta tenebrosa pra mim.

Me lembro das minhas amigas, o que será que elas estão pensando do meu pai? De mim? Eu não pude ter contato com ninguém de lá, desde que cheguei aqui.

O importante agora é que as minhas malas já estão prontas, então vou até o quarto do meu pai tentar ajudá-lo se possível porque ele transformou o quarto numa verdadeira zona, que chegou a ser difícil achar a mala dele debaixo de tanta coisa que ele provavelmente estava tentando socar nela.

Respirei fundo e comecei o trabalho de dobrar as roupas para fazer caber o máximo de coisas possíveis na mala, um barulho no notebook dele me chamou a atenção, não que eu vivesse bisbilhotando as coisas dele, mas naquele momento bateu uma curiosidadezinha, que se transformou numa super curiosidade era o resultado do meu exame de sangue que o médico havia prometido enviar por e-mail, para o Khalid e para o meu pai.

No fundo eu já sabia, mas depois de achar tanto e me decepcionar eu evitava pensar no assunto, mas agora é pra valer, bateu medo, ansiedade, vontade de gritar pra todo o mundo, deu positivo, sim isso mesmo, estou grávida, super grávida.

Me pus a me olhar no espelho tentando achar alguma diferença, sinceramente acho que a minha barriga está redonda, rio da minha cara, porque é tão cedo ainda para eu já ter uma barriga redonda.

-Não seja tonta Anne - ralho comigo mesma.

Lembro do Khalid, a reação dele na primeira vez que disse que estava grávida, e no quanto estou magoada com ele, dá uma vontade de chorar, mas eu seguro.

Procuro me acalmar e tomo uma decisão, Khalid não vai saber agora que vai ser pai, eu não vou conseguir lidar com a situação se ele ignorar o bebê como na primeira vez que achei que estava grávida, ainda mais que agora eu não acho nada, eu estou grávida!

Agora eu preciso ser rápida, respondi o e-mail do médico se passando pelo meu pai e exclui, um já foi, agora preciso excluir do computador do Khalid.

Entro no escritório do Khalid que está destrancado, de qualquer forma eu havia trazido a chave por precaução, pela janela dá pra ver que os três resolveram discutir no quintal, e por incrível que pareça o assunto ainda é o mesmo, ligo a máquina velha que ele chama de computador rezando pra não ser pega, a máquina demora uma vida pra ligar, o que faz meus batimentos cardíacos dispararem loucamente, finalmente respiro aliviada, ela ligou, e funciona, entro na pasta de e-mail dele, e vejo o mesmo e-mail enviado pelo médico constatando a minha gravidez, nem tento ler os outros porque estão em alguma língua esquisita da terra do Khalid.

Respondo o e-mail, agora se passando pelo Khalid e excluo.

Trabalho concluído!

Minha barriga ronca e eu desço para alimentar o pequeno ser faminto que está morando dentro de mim.

Khalid entra na cozinha, e se limita a dizer que voaremos a noite, e que o Alexandre (aquele mesmo que trabalhou com ele no Brasil) já havia alugado um lugar discreto, mas aconchegante para ficarmos.

Eu assenti com a cabeça, ele parou me observou um pouco e saiu ao perceber que não ouviria nada da minha boca, desde o dia em que ele foi um selvagem comigo eu não falo direito com ele, só o necessário, e o ignoro o máximo possível, ele tem que entender que eu não sou uma boneca que ele faz o que quer e pronto, eu tenho sentimentos, possa ser que um dia eu consiga perdoá-lo, mas sinceramente não sinto vontade nenhuma, porque o que ele fez comigo foi muita crueldade.

***

Viajamos a noite no jatinho particular do Khalid, até dona Gina veio junto, a viagem teria sido tranquila se o gêmeos não fossem tão insuportáveis as vezes... As vezes dá pra ter uma super crise de riso ao lado dos dois, mas tem hora que dá vontade de botar sonífero na água deles pra ver se eles dão um tempo, eles não sabem mesmo a hora de parar.

Tirando isso chegamos vivos no meio do nada, Alexandre e mais um rapaz vieram nos buscar, com dois carros pra poder caber todo mundo.

Da entrada da casa até chegar na casa mesmo é praticamente uns vinte minutos de carro, e tinha um bocado de cachorro correndo atrás do carro.

Mudança radical, da praia para a roça, a casa era toda rústica, estou procurando pelo lugar aconchegante que o Khalid falou.

Parecia uma casa abandonada, recheada de móveis velhos, dona Gina vendo a minha cara de decepção, tratou logo de me confortar:

-Transformaremos isso aqui "bambina", num lugar delicioso de se morar, você vai ver, uma casa só precisa de amor para se tornar um lar aconchegante, um porto seguro... "Capisce"?

Eu sorri, imaginando que alguns dias atrás eu ficaria feliz até numa cabana, desde que o Khalid estivesse ao meu lado.

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