ALCATÉIA

16- RANGIDO

By Filipe (BÔNUS)

Que a Anne teve as melhores das intenções eu tenho certeza, mas de qualquer forma valeu a distração, mesmo com a perna baleada consegui dar fim em dois mascarados.

Logo os outros dois voltariam, e eu precisava sair dali, ainda não entendo porque não apareceram assim que ouviram o tiro que Anne disparou.

Juntei todas as minhas forças para subir escadaria acima, achei Anne atrás de um grande vaso de bromélias, caída no chão, estava desmaiada, a sacudi bastante, mas não adiantou, então sussurrei em seu ouvido:

-Minha princesa, não é a melhor hora para dormir, precisamos nos esconder, acorda Anne...

Funcionou, ela resmungou algo, mas não consegui ouvir, pois um estampido cortou o ambiente, forte e pesado me jogando para trás, com o resquício de força que me sobrou disparei a metralhadora sobre eles, mas agora era tarde, me acertaram pra valer.

Eu podia ouvir Anne tentando gritar algo do meu lado, mas sua voz soava suave como o canto de um anjo no meu ouvido.

A dor vinha frenética e ía embora como num passe de mágica, tudo era paz, Anne ao meu lado, era melhor imagem que eu podia ver antes de morrer, mas ela não aceitava.

E cada vez que eu voltava para ela, mais doía, como uma faca que te rasga de dentro pra fora.

Eu pedi aos céus por força, Anne precisava me deixar ir embora, ainda tinha o furgão lá fora, o que significa mais homens, e eles a queriam, ela tinha que se esconder, ela tinha que deixar o meu corpo ali, eu preciso ir embora, porque aqui dói demais.

Nessas idas e vindas, entre dores absurdas e paz, eu resisti e consegui falar com ela, não me lembro se foram as últimas palavras, mas me lembro que uma brisa leve soprou em meus ouvidos e finalmente eu consegui a libertação da minha alma perdida.

(ÚLTIMAS PALAVRAS DO FILIPE)

Anne me escuta, pra começar eu te amo eterno! Te levarei aqui dentro de mim (ele apontou para o peito baleado). Gosto de saber que ainda está viva, mantenha-se viva, você é tão jovem e tão pura. Eu preciso descansar Anne, não há paz na minha vida, eu matei eles todos Anne, todos!!! (Anne tenta interromper para dizer que foi para defendê-la) Não, não são deles que eu estou falando, matei os meus pais Anne, por prazer, eu precisava destruí-los porque eles me trouxeram a esse mundo de merda, eles eram uns desgraçados, foi bom matá-los Anne, eu pretendia matar o Khalid também, Anne, eu sei que você o ama e eu o mataria por que acho que ele não te merece, acho que a vida os quer juntos afinal! Se esconda e atire em quem aparecer! Tenta mirar melhor dessa vez, eu...eu te amo... ✝️

By Anne Rocha

-FILIPE NÃO ME DEIXA! MEU AMIGO NÃO ME DEIXA, EU TAMBÉM TE AMO - grito desesperada, ele não pode morrer assim do nada, não pode.

Mas, já é tarde. O meu menino loiro se foi, ouço um rangido na entrada da casa, algo como um carrinho pequeno, talvez um carrinho de mão, parece que esse inferno nunca vai acabar...

Dou um beijinho na testa do Filipe e fujo como ele disse que eu fizesse, dessa vez peguei a metralhadora que estava com ele, nossa aquilo pesa, corri para o último andar, entrei no escritório do Khal e tranquei a porta.

O rangido ía se intensificando cada vez mais, até que pude ouvir uma voz pastosa, raivosa e extremamente vingativa.

-Não quis me convidar para entrar dessa vez Anne, que menina má acabou com os meus amiguinhos, um bando de incompetentes! Temos tanto para conversar gostosa, precisamos terminar o que começamos na sala da sua casa. Dessa vez o seu pai não vai poder interromper! Mas, prometo que vou ser tão carinhoso quanto você merece!

Um barulho de tiro, e a porta do escritório se abre, tento atirar, mas  sou desarmada rapidamente por um homem alto, forte e bastante conhecido.

Finalmente aquele rangido que eu estava escutando a tempos entra na sala, uma cadeira de rodas, um jovem com aproximadamente a mesma idade que eu, o rosto estava coberto por cicatrizes, mas ainda assim pude reconhecê-lo.

-Hélio Júnior!