BY ANTÔNIO ROCHA
O resto do dia foi tenso, e eu pedi para não tocarmos no assunto do e-mail perto da Anne, ela já se mostrava aborrecida demais em estar ali, Anne foi criada com todo o mimo que eu sempre pude lhe oferecer, nunca precisou lavar um prato na vida, e agora estava ajudando Dona Gina na limpeza da casa, e também não queria preocupá-la, ela é só uma criança, pelo menos para mim sempre será a minha criança.
Dona Gina e Larissa preparavam o jantar, e era nítido que Larissa estava extremamente abalada, eu queria fazer alguma coisa para deixá-la menos tensa, quem sabe mais tarde...
Dona Gina reclamava o tempo todo porque não tinha os ingredientes que precisava:
-Preciso ir a feira fazer compras, vão ficar raquíticos sem uma boa refeição... Não dá para fazer nada com o que têm aqui, sorte que temos galinhas no quintal que estão a por ovos, senão nem ovos teríamos...
-Pare de reclamar, está parecendo uma velha ranzinza... - Khalid reclama.
-Me respeita menino que lhe puxo as orelhas!
Na hora da refeição os homens lá fora se revezaram, e só depois nós nos sentamos para jantar, mesmo com poucos ingredientes Dona Gina faz milagres, a comida estava ótima, e pela primeira vez no dia pude perceber um sorriso no rosto de Anne que tagarelava feliz da vida com o que conseguiram fazer com aquela casa, e isso que apenas iniciaram a faxina comemorava com Dona Gina e com a Larissa.
Mas, a refeição agradável foi interrompida por sons altos, disparos de tiros que vinham da entrada da chácara.
O Khalid e eu corremos para ver o que estava acontecendo, mas o barulho se encerrou tão rápido quanto começou.
Os gêmeos voltavam cada um com uma metralhadora nas mãos, dando risada como sempre.
-Bando de covardes, você viu Rich, correram que nem umas menininhas quando viram que os nossos brinquedos eram melhores...
-Bem melhores... - Rich alisava a metralhadora que chegava a brilhar de tão bem cuidada que devia ser pelos dois malucos.
-Delegado, eles não vieram pra matar ninguém, foi só pra avisar que sabem onde estamos, guerra de nervos, pra eles não tem graça matar todos de uma vez, eles querem jogar, nos fazer sentir medo, entende? - Khalid fala e posso está enganado, mas o árabe parecia também ter se interessado pelo jogo.
Ao entrar na casa vejo Anne sendo amparada pela Larissa e a Dona Gina, que a abanavam sem parar.
-Já passou filha, foram embora. Passo a mão pelo rosto dela que está branco como um papel.
-Já estou melhor, vou deitar estou cansada - Khalid a segue todo preocupado.
-Devemos fazer o mesmo! - falo para Larissa.
-Dormir? Depois do que acabou de acontecer aqui?
-Podemos fazer outras coisas também... - sorrio pra ela, que sobe batendo os pés.
-Não force a escada demais, é velha você vai acabar quebrando - mais a mulher olha para mim virada no satanás.
Mulheres são estranhas, se estão nervosas e tentamos acalmá-las, ficam mais nervosa ainda!
Mas, ela está certa. O Khalid, eu estamos acostumados com tiroteios, ameaças, ela é só uma jornalista.
Entro no quarto, e ouço o barulho do chuveiro, se bem que um bom sexo tira qualquer estresse na minha opinião, mas vamos tentar uma xícara de chá.
Entro na cozinha, e Dona Gina está lá lavando os pratos.
-Coitado do meu "bambino" , nunca tem paz na vida, a guerra sempre o encontra, não importa aonde vá, os bandidos malditos vem nos tirar a paz...
-A senhora está falando...do Khalid?
-Claro, um menino bom, sendo perseguido!
-Me desculpe, mas a senhora não conhece este "bambino", ele que é o bandido, bandido atrai outros bandidos.
-SAIA JÁ DA MINHA COZINHA!!!
-Calma Dona Gina eu quero um chá, só isso nada mais, vim buscar um chá, seu menino é um santo, só estava brincando.
-Santo ele não é, mas bandido também não, chá de boldo? Eu preparo num instante pra você, quer bem forte não é mesmo? Pra vê se lava todo esse veneno que mora dentro de você!!!
-Não é para mim mulher, é chá para Larissa, está nervosa, com medo, quero levar um chá para deixa-lá calminha...
-Você não me engana seu Delegado, fica perturbando a moça, moça direita num deve se envolver com cafajeste como você!
-Você vai fazer o chá Dona Gina, porque senão eu mesmo faço? - me irrito com a ofensa dela, não sou tão cafajeste assim.
-Não encoste nas minhas vasilhas, para Larissa eu preparo um chá que vai fazê-la dormir com os anjos...
Ela põe a água no fogo para fazer o chá, e eu me afasto antes que ela jogue água fervendo em mim.
Pego a xícara e subo, mas sem antes dar uma última alfinetada na velha chata:
-Agora sim, ela vai dormir literalmente com o anjo aqui!
-Safado, sem vergonha, cafajeste...
Ainda ouço ela xingar em italiano quando fecho a porta do quarto atrás de mim, Larissa está sentada na beirada da cama com um daqueles pijamas expulsa homem, calça de moletom, e camiseta de manga longa com desenhos de ursinhos estampado por toda parte.
-Trouxe um chá pra você se acalmar um pouco, me desculpa, as vezes eu sou uma besta, mas eu entendo que hoje se não for, está entre os piores dias da sua vida, e eu realmente gostaria de te dizer que vai passar, que tudo vai ficar bem, mas eu...eu não sei, também sinto medo sabia?
Ponto pra mim, ganhei um abraço apertado, tentei um beijo, mas não consegui ultrapassar o limite da bochecha.
Ela tomou o chá e se deitou e como disse Dona Gina dormiu com os anjinhos de tão rápido que apagou do meu lado.
Fazer o que? O jeito é dormir também...
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ALCATÉIA
ActionAnne Rocha - Filha de um famoso Delegado, namorada de um criminoso internacional, bonito e extremamente sedutor. Antônio Rocha - Pai de Anne, Delegado respeitado até ter sua brilhante carreira arruinada por um maldito árabe. Khalid Shall - Árabe, te...