Isaac - Parte 5

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"Meus pais são um saco!" Digitei sem muitas pretensões em um determinado dia, pouco após começarmos a conversar fora do RPG. Só queria desabafar.  

"Por quê?" Foi o que Jade digitou em seguida.

"Sei lá, apenas são!" Eu estava muito fulo da vida.

"Quer desabafar?"

Eu queria.

Queria muito.

E, ao rever sua foto, decidi fazer exatamente isso.

Desabafar.

"Eu costumava chorar muito."

"É? Desculpe se soar rude, mas o que tem isso?" Perguntou, parecendo não entender meu ponto. Respondi com um texto enorme.

"Com sete anos de idade, qualquer tombo ou tropeço era razão para começar um berro. No entanto, eu não ligava para a dor física. No fundo, meu real motivo era chamar a atenção das pessoas. Precisava de alguém cuidando de mim, pois sempre fui uma criança mimada e despreparada. Minhas ações eram movidas por impulso, no auge de todos os sentimentos infantis. Contudo, meus pais não queriam saber disso. Ele me deixava nos braços de qualquer um a sua frente. Ela recorria às empregadas. No fim das contas, apenas Adele, a velha e gorducha governanta da casa, tentava alguma coisa. Sempre trazia leite e biscoitos, me colocava nos braços e cantava antigas canções de ninar toscanas, lugar onde crescera antes de ir à Roma.

No entanto, eu continuei a chorar. Todos os dias. Até que um dia o cansaço me fez parar. Nesse dia eu comecei a enxergar a realidade que me cercava. Nesse dia eu me tornei uma nova pessoa. Decidi não derramar mais nenhuma lágrima, nem que o mundo me esmagasse por completo. Permaneci intacto e livre de qualquer ataque exterior. Além do mais, era uma demonstração explícita da fraqueza humana. Patético.

Dessa forma, nunca soube lidar com pessoas em estado emotivo. Procurava tentar parecer indiferente aos sentimentos dos outros. Mesmo que depois me arrependesse disso."

"Nossa! Isso é muito forte! Sinto muito!" Ela ficou alguns segundos sem digitar e eu não me atrevi a dizer nada. Estava sentindo coisas demais. Então ela disse: "Queria poder ajudar de alguma forma, mas eu penso diferente sobre alguns pontos e não sei bem como te explicar. Não sei se poderia te ajudar, mesmo querendo muito."

"E pode!" Uma ideia me atingiu. "Pode me ajudar a escrever uma cena no RPG em que meu personagem conta isso?"

Escrever sempre me ajudou imensamente!

E Jade também, principalmente após a seguinte mensagem.

"Por que não me disse isso antes? Posso te ajudar com qualquer coisa! Começaremos agora!"

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