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" No dia seguinte, eu não tinha ideia de como deveria tratar Verônica dentro do colégio, era tudo muito entranho, no dia anterior nós nos encontrávamos em um estado de luxuria, dentro de um quarto de hotel, e agora eu deveria trata-la como qualquer outro professor. Tentei fugir dos olhos azuis que me seduziam, caminhei para as áreas mais desertas do colégio até que a primeira aula fosse iniciada, mas infelizmente, por destino ou algo parecido, lá estava ela, na porta da minha sala, conversando com um dos alunos, tentei me aproximar sem encarar o olhar de Verônica, mas foi praticamente impossível, assim que eu cheguei perto, aqueles olhos azuis me fitaram, e ela me recebeu com um belo boa noite, com um sorriso imenso nos lábios.

Nunca tinha visto Verônica tão linda. A mulher arrogante, poderosa e superior que ela aparentava ser, deu lugar a uma mulher sorridente, simpática e simples, seus olhos pareciam sorrir para mim, e eu estava cada vez mais apaixonada por aquela mulher. De certa forma, eu sentia que estava fazendo bem á Verônica, claro que a situação toda era um certo absurdo, onde já se viu, uma mulher de postura social altíssima, se envolver em um caso lésbico com uma jovem aleatória que ninguém nunca se ouviu falar, mas eu tentava ignorar tudo, e contanto que ninguém soubesse do nosso envolvimento, tudo estava bom.

Eu á cumprimentei e entrei dentro da sala, e antes de me sentar olhei para trás, ela estava sorrindo para mim, seu rosto expressava uma calmaria imensa, era como se ela estivesse aproveitando de uma liberdade que a muito tempo foi tirada.

Me lembro perfeitamente desse dia, era aula da professora Sheron, desde a apresentação do artigo de Peter, eu já havia percebido que Sheron desconfiava de algo entre eu e Verônica. Parecia que na sua mente, ela estava juntando as peças de um quebra-cabeças.

Após Verônica se retirar, Sheron insinuou discretamente que havia percebido um certo "envolvimento" entre eu e Verônica, e sem dar maiores explicações, foi em direção ao quadro explicar sobre a matéria. Até então, eu jamais iria comentar sobre o que havia ocorrido na noite anterior com ninguém, queria evitar falar sobre tudo que havia ocorrido até com a própria Verônica, mas o fato de Sheron ter percebido algum envolvimento entre nos duas me deixou preocupada ao ponto de me fazer sair da sala, e procurar Verônica imediatamente. "

— Senhorita Nestari esta alegando que a tal "Sheron" tenha algum envolvimento com a morte da senhorita Zumach?

— Não diretamente, mas acredito que, se ela não tivesse se intrometido entre nós duas, a história não teria tomado esse rumo. E provavelmente eu não estaria aqui contando toda minha relação que eu tive com Verônica diante de um tribunal.

" Lembro-me perfeitamente de quando cheguei na sala da Verônica, ela estava sozinha, olhando para a tela do celular, assim que ela percebeu minha presença, ela começou a me olhar de um jeito provocante, mas aquele não era o momento de cair em tentação, expliquei que Sheron suspeitava de um suposto caso entre nós duas, e repeti exatamente a mesma frase que Sheron sussurrou na minha carteira, Verônica não aparentava estar preocupada, porém, sua expressão facial mudou drasticamente, e seu ar de poder e arrogância havia ganhado vida novamente. Verônica ficou quieta por alguns segundos, saiu da sala com o rosto sério, coluna ereta, e muito confiante, foi em direção a minha sala de aula, inconsequentemente segui Verônica, mal eu sabia que estava dando a certeza que Sheron tanto queria, meu rosto estava pálido, deixando óbvio que eu havia algo a temer. Verônica chamou Sheron no corredor, com um ar de sarcasmo, Sheron atendeu Verônica. "

— Senhorita Nestari, aconteceu algo? Porque está olhando fixamente para a saída?

— Perdão, senhor, mas falar de Sheron para mim é uma imensa tortura, foi por conta dela que o inferno em minha vida começou.

— Senhorita Nestari, vou lhe perguntar mais uma vez, a pessoa que a senhorita cita, tem algum envolvimento com a morte da senhorita Zumach? Me responda com uma única palavra, por gentileza.

— Não.

— Prossiga, senhorita Nestari.

— Bom...

"Sheron atendeu Verônica naquele maldito corredor, com bastante sarcasmo, pelo pouco que eu consegui ouvir, Sheron zombava da cara de Verônica, fazia perguntas de "baixo calão" e certas provocações, o que deixou Verônica irritada, chegando a fazer certas ameaças á Sheron. "

— Que tipos de ameaça?

— Verônica ameaçou acabar com a carreira dela [Sheron], pois ela era influente o bastante para isso.

" Depois de perceber a veracidade da ameaça de Verônica, Sheron tentou apaziguar a situação dizendo que não diria nada a ninguém, porem a curiosidade a corroía por dentro, a única coisa que ela queria era a certeza de que Verônica e eu, tínhamos um caso. Pareceu muito estranho a declaração de Sheron no momento em que ela disse, porém, minutos mais tarde me caiu a ficha, de que a vida de Verônica estava nas palmas da mão dela, e que ela poderia usar esse fato a seu favor a qualquer momento.

O ódio estava tomando conta de Verônica, eu a acompanhei até sua sala, de forma mais natural possível, apesar do meu rosto não esconder minha cara de espanto. Assim que entramos na sala, Verônica foi a mais direta possível, com a voz firme, ela disse que não poderíamos ter nenhum contato no colégio, evitar até de nos cumprimentarmos, caso contrário, tanto a vida dela como a minha estaria arruinada. Apenas meneei a cabeça positivamente e saí da sala, cética.

Porque ela disse que tanto a vida dela quanto a minha estaria arruinada? Essa pergunta me enchia de teorias: Será que ela me arruinaria? Ou ela deduziu que arruinaria minha relação familiar por conta de ter um relacionamento lésbico com uma mulher casada? Ou meus poucos amigos se afastariam de mim? Essas eram algumas das perguntas que assombravam meu pensamento no caminho que fiz até a minha casa, pois não tinha condição de voltar para a aula da Sheron, nem de continuar no colégio.

É insano como eu tento piorar o que já está ruim, quando cheguei na minha casa naquela noite, fui direto para meu quarto, coloquei a música mais triste da minha playlist, coloquei para repetir e deixei o desgosto me consumir por um bom tempo. Até consumiria pela noite inteira, se uma mensagem de texto não interferisse na minha música. Era uma mensagem de Verônica.

Precisamos conversar sobre o que aconteceu essa noite, me encontre no mesmo lugar de ontem. Foi a única coisa que ela mandou, até porque, ela sabia que eu sairia de casa no mesmo instante, provavelmente sem celular, era inútil mandar outras mensagens. Eu não achava prudente encontra-la depois de tudo o que houve, mas, minha vontade de vê-la era gigantesca.

Quando eu cheguei no local combinado, logo vi seu carro parado, apenas entrei e fiquei em silêncio, enquanto ela dirigia para um lugar deserto. Ela havia me levado para um bairro, saindo de Lawrenceville, em direção a Atlanta, onde não havia casa alguma. Ela parou o carro, pegou minha mão e olhou no fundo dos meus olhos, e não disse palavra alguma, seus olhos pareciam tristes, e ela ficou me olhando por alguns minutos. Ela pegou minha mão direita e colocou em seu peito, ela queria que eu sentisse seu coração acelerado, ela admitiu que sentia muito sobre o que houve mais cedo no colégio, e que a muito tempo não se sentia tão livre como ela se sentiu comigo, mas para o bem de todos, nossa aventura teria que terminar ali. Hoje eu vejo como Verônica foi uma ótima atriz, naquele dia eu tive a impressão de que Verônica estava amando alguém pela primeira vez, mas, somente hoje, vejo o quanto ela brincou com meus sentimentos, naquela noite se abriu um imenso abismo em minha alma, como se tudo o que eu havia conquistado, sumisse em fração de segundos. "

— Senhores do júri, sei que não tem o que fazer com o meu caso, sei que daqui a alguns instantes eu estarei algemada rumo a uma cela, mas eu peço que tenha pelo menos um pouco de compaixão, por tudo o que sofri nesse tempo todo. Sim, eu admito que é um absurdo o que eu estou pedindo, uma vida se foi por minha causa, porém, ainda lhes peço misericórdia.

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