XV

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— Senhorita Ellora, nós do júri já estamos fartos de seus lamentos, já entendemos perfeitamente o grau afetivo da senhorita com a senhorita Zumach, mas o que gostaríamos de ouvir da sua boca, não é o quanto se arrepende por ter assassinado a senhorita Verônica Zumach, nós estamos aqui para ouvir como exatamente aconteceu o delito e o motivo exato.

— Vocês têm toda razão, já não vale demais nada lamentar, a essa altura os vermes já consumiram com o corpo que eu tanto desejei, o sofrimento que eu causei nessa família já foi o bastante, para eu continuar torturando-os com meu depoimento melodramático.

" Dia 06/04, esse dia ficará gravado em minha mente durante toda minha existência, era só mais uma Quinta-Feira qualquer, até eu me deparar com a notícia que fez eu me afundar de vez em um poço profundo e escuro. Em menos de 6 meses do atentado de Martin a Phoenix High School, tive o desgosto de saber que Verônica estava gravida do seu segundo filho. Era inaceitável a falsidade daquela mulher, ela era infeliz, vivia um casamento infeliz em uma prisão imaginaria, era como se ela fosse um simples canário preso em uma gaiola de ouro, enquanto Martin encostava o ouvido para ouvi-la cantar, e em troca, recebia o melhor alpiste do mercado.

A notícia da gravidez de Verônica fez eu transformar por um momento, todo o amor que eu sentia por ela em puro ódio, ódio por deixar ser enganada por um par de olhos azuis, ódio por ter sido usada, ódio por passar noites em claro pensando naquela mulher, pensando bem, ela enganou muita gente, talvez, até si própria, ela mereceu ter esse destino.

Sem prensar duas vezes, passei a mão em uma jaqueta de couro que estava jogada por cima na minha cama, e caminhei enfurecida até a casa de Verônica, eu não a via desde a audiência, muito menos recebi qualquer outra mensagem dela, mal eu sabia se ela ainda se lembrava de mim, mas eu estava ali, parada feito uma estaca em frente ao seu portão. Lembro-me que fiquei um bom tempo inerte em frente aquela casa gigantesca, tomando coragem para tocar a campainha e pedir para entrar.

Ao invés de tocar a campainha como uma pessoa comum, resolvi ligar para o número que ela me enviou sua última mensagem, ocultei meu número e esperei que ela atendesse. Ela me atendeu com uma voz firme, rígida, um pouco arrogante talvez, mas foi assim que eu a conheci, poderosa, autoritária. Me identifiquei, pedi quase aos prantos que ela me atendesse no portão, eu precisava falar com ela, jogar na cara o quanto ela era hipócrita, ela hesitou, claro, mas talvez ainda restasse um pouco de compaixão naquele coração frio que fez a mesma descer a escadaria da sua bela casa e me atender no portão.

Assim que ela abriu o portão, não consegui conter minhas lágrimas, não sei se eram de saudade, de emoção, de ódio, só sei que elas vieram, ela me olhava com uma certa falta de paciência, eu senti que ela gostaria de ver qualquer pessoa, menos eu, era como se eu fosse uma pedra em seu sapato, era totalmente visível a falta de interesse no que eu tinha para falar, fiquei alguns instantes somente olhando aqueles olhos azuis que eu tanto amei, aquele corpo que eu tanto acariciei, aquela alma que eu achei que entendia, mas me enganei.

Enquanto eu a olhava em silêncio percebi que ela ainda usava a correntinha eu havia lhe dado na nossa última noite de amor, a fúria me subiu ainda mais quando comecei a imagina-la em um ato sexual com Martin enquanto usava a correntinha que eu havia dado com tanto amor. Ela havia feito seu segundo filho com um pedaço de mim pendurada no pescoço.

Sem pensar nas consequências, parti para cima dela, fazendo-a cair no chão, eu apertava seu pescoço com tanta força e seus olhos saltavam para fora. Eu estava tomada pela raiva, eu repetia a mesma frase inúmeras vezes "porque você fez isso comigo? " E ela ali no chão, tentando se livrar de mim, me chutando de uma forma quase impossível e batendo na minha cara incessantemente, ela se esperneava na esperança de se soltar, mas foi tudo em vão, minha ira foi tão grande, que qualquer esforço que Verônica pudesse fazer, não seria o suficiente para me derrotar.

ElloraOnde histórias criam vida. Descubra agora