IV

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"Estava dando graças a Deus pelo bimestre estar acabando, eu estava cansada e confusa em relação a Verônica, eu precisava de tempo para pensar, eu não aguentava mais olhar aquela mulher e ver uma pessoa tão maravilhosa, tão bem resolvida e não conseguir me aproximar. Já eram os últimos dias do bimestre, e provavelmente os professores iriam dar alguns trabalhos, iríamos ter alguns dias de recesso, eles não iriam perdoar essa pequena folga. Eu queria me despedir de Verônica e lhe desejar um bom descanso, mas eu me sentia totalmente ridícula, quando cheguei em casa, coloquei uma música triste da Lana Del Rey e voltei a refletir sobre meu sentimento por Verônica.

Ah... Verônica, seria tão bom se ainda estivesse entre nós. Todas as manhãs eu me pergunto o porquê eu fiz o que fiz.

Mas enfim, prosseguindo com meu relato, comecei a aceitar o sentimento que crescia dentro de mim de uma forma errada, mesmo com tudo o que estava acontecendo em minha mente, eu não queria assumir para mim mesma que era lésbica, ou bissexual, a princípio eu achava que eu queria ver aquela personalidade forte e tão maravilhosa em um homem. Ah, que bobagem, nessa altura da história eu estava sendo preconceituosa comigo mesma. Menina boba, inexperiente, sexualmente frustrada talvez, não queria aceitar o fato de que estava sentindo tesão ao olhar para o corpo de uma mulher madura.

Ah se vocês pudessem vê-la como Verônica era linda, ela não era uma mulher clichê como a maioria das loiras de olhos azuis, ela era a mais linda de todas. Claro, é muito suspeito essa frase vindo de mim, que estava hipnotizada por aquela mulher, mas ela esbanjava beleza, seu corpo era extremamente perfeito, como se alguém estivesse desenhado a mão, seus belos cabelos dourados faziam pequenos cachos abertos, e seus olhos, seus pequenos olhos azuis, a parte que eu mais venerava nela, era de um tom azul que eu jamais havia visto na vida, seus óculos me atrapalhavam a vista maravilhosa daquela íris turquesa, mas eu me contentava mesmo assim. Eu tentava não sentir tesão em Verônica, tentava não fantasiar uma cena de sexo com ela, nem mesmo beijando-a, mas tudo que eu queria era me tocar imaginando aquele belo corpo despido. Eu sentia nojo de mim, porque até então eu tratava a homossexualidade com a maior hipocrisia existente, fazia textos gigantescos na internet contra homofobia, e que casais homossexuais era a coisa mais normal do mundo, mas, "Deus me livre de ser um deles", eu era uma pessoa desprezível. Hoje eu até agradeço por ter tido uma experiência como essas, posso até estar sendo bem insensível falando dessa forma, mas, toda essa situação fez eu me tornar um ser humano melhor, antes da tragédia acontecer.

Passei toda a semana de folga do colégio pensando como iria ser o próximo bimestre, tentando ocupar minha cabeça, já que eu estava desempregada e sendo sustentada pelos meus pais que faziam de tudo para me manter longe deles, eu ficava horas processando a forma que eu iria lidar com o fato de estar me apaixonando pela minha professora, aquela minha admiração estava se tornando algo, como posso dizer, obsessivo talvez. As fantasias que eu criava estavam passando do nível aceitável, as vezes eu até me esquecia do mundo real. Por muitas vezes eu me pegava conversando sozinha, como se Verônica estivesse na minha frente, e eu fazia tudo isso inconscientemente. Eu me sentia tão ridícula, sabia que não era normal, e que estava tomando proporções absurdas, mesmo sem querer, eu criava uma espécie de expectativa, mas não fazia sentido algum. Vinte e cinco anos mais velha, heterossexual, casada e com um filho pequeno, as vezes eu ficava me perguntando como meu inconsciente dava conta de criar expectativas? Eu estava numa verdadeira sinuca comigo mesma.

Eu deveria ter esquecido de toda essa história durante a semana, mas ao invés disso, eu pensei ainda mais, me torturei ainda mais e me convenci do fato de estar apaixonada por Verônica.

Eu não sabia se isso era bom ou ruim, se isso iria confundir ainda mais minha mente, definitivamente, aqueles olhos azuis não saiam mais da minha cabeça, eu pensava em Verônica, desde o amanhecer até o anoitecer, pensei muitas vezes em nem voltar para curso, que tudo isso era uma "paixonite idiota e sem fundamento algum" e que se eu me distanciasse esqueceria na primeira semana, mas eu sabia que eu iria me arrepender, então eu simplesmente voltei. "

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