XIII

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Eu estava com a visão turva, mas ainda consegui ver os policiais entrando na sala, percebi também que conseguiram acertar um tiro na perna de Martin. Ele foi obrigado a se render.

Verônica veio correndo até a mim, num certo desespero, e gritando por ajuda, meus olhos estavam quase fechando, e eu já não conseguia ouvir muita coisa, a dor que eu sentia não era somente a física, era também emocional, o medo de morrer e deixar ela enfrentar todos os problemas que causamos, era o que mais me preocupava. A família de Verônica entrou na sala e começou a abraça-la, enquanto ela permanecia agarrada ao meu corpo baleado, Maewee havia ligado para a ambulância, enquanto Roberta e os outros foram me socorrer. Eu estava com muito frio, e já estava quase perdendo os sentidos, mas mesmo assim, eu sentia a mão quentinha de Verônica, ela não soltou em nenhum momento, quando os paramédicos chegaram, me colocaram em uma maca e me levaram para a ambulância, Verônica foi junto comigo, o que era muito estranho, lá no fundo eu achava que ela iria me abandonar ali e cuidar dos problemas dela. Lembro-me vagamente de ter ouvido Verônica falar no hospital que sentiu meu corpo gelar. Meu coração havia parado, eles tentaram me reanimar com um desfibrilador, me deram 3 ou 4 choques, até meu coração voltar a bater por si só, e que dentro da ambulância eu permaneci inconsciente. Lembro como se fosse hoje, Verônica contando a alguém no hospital o quanto ela ficou desesperada vendo meu corpo gelado naquela maca, ela dizia que por alguns instantes, achava que eu estava morta.

Quando chegamos ao hospital, fui direto para um centro cirúrgico, meu rosto estava pálido e tinha grandes chances de morrer, Verônica foi até a porta, e os médicos a encaminharam de volta a recepção. Eu não sei se durante esse trajeto, Verônica derrubou uma gota de lágrima sequer, a única coisa que sei, é que demoraram cerca de 3 horas para retirarem a bala do meu peito, acredito eu, que durante esse tempo, Verônica explicou o que havia acontecido para seus familiares, e a única reação que tiveram naquele momento, foi de alivio, pelo menos ela não havia sido atingida por nenhum disparo.

Quando acordei em uma sala com cores neutras e uma luz fortíssima, vi meu corpo coberto por um lençol, alguns fios transpassando meu corpo, monitorando meu coração. Eu me sentia fraca e com muito frio, minha mente não conseguia processar o que de fato havia acontecido, era um embaralhado de coisas na minha mente, Verônica entrou no meu quarto, ela estava com o rosto abatido e o cabelo despenteado.

Já era de manhã, e pelo jeito ela passou a noite em claro. Ela estava com Gregório, o seu filho, no colo, um menino lindo, tinha cabelos loiros e belos olhos iguais aos de sua mãe, o pobre garoto não sabia ao certo o que tinha acontecido, seus olhos estavam avermelhados e arregalados.

Ah, como eu sinto falta dele! Mal entendia o que estava acontecendo, a mãe naquele estado e o pai preso e baleado, e eu ali, esticada em uma maca, uma pessoa que ele nem sabia da existência.

Fiquei surpresa ao ver Verônica assim que eu acordei, ela não era uma pessoa que agia com a emoção, ela era o tipo de mulher que agia com a razão, portanto eu não a esperava ali. Naquele momento de dor física e psicológica, Verônica chegou perto de mim, e pegou em uma de minhas mãos, ela não tinha nenhuma palavra para falar, apenas me olhou, aqueles olhos azuis que eu tanto admirava estavam avermelhados e seu rosto estava abatido, e meu coração recém costurado doía como se uma mão invisível o esmagasse, talvez essa mão fosse o remorso de tê-la exposto a tanto caos, mas não adiantava se lamentar, a dor precisaria ser sentida naquele momento. Ainda sem dizer uma palavra sequer, ela apertou forte minha mão e começou a chorar em cima dela. Eu olhava para toda aquela situação, e imagino eu, que meu rosto estava inexpressivo.

Sinceramente não acredito que Verônica estava chorando pelo o que havia acontecido comigo, na verdade eu acho que ela chorava pela situação, por tudo o que ela encararia depois daquele episódio, por todas as notícias nos jornais, por todos os julgamentos que as pessoas fariam, e pelo seu casamento, que mesmo sendo um casamento ruim, ainda era um casamento, mas mesmo assim, eu gostava de acreditar que ela estava ali por mim, mesmo sabendo que eu não era uma pessoa amada por ela, eu me sentia. Enquanto ela chorava, debruçada na minha maca, eu olhava Gregório, ele estava um pouco assustado, não estava entendendo o porquê que sua mãe chorava tanto, iria ser complicado explicar para ele tudo o que aconteceu, acho que Verônica nem chegou a explicar.

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