15- A espera incessante

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Mais um dia na aula de português, talvez seja mais difícil do que eu pensava conciliar o ensino médio e os cursos da faculdade. Além disso havia passado um mês que Ben estava em coma. Ia todos os dias para lá, minhas esperanças do garoto voltar diminuia a cada dia. Danny sempre me ajudara no que eu precisasse, papai estava mais presente, sempre fazia suas deliciosas tortas para eu levar ao apartamento. E Paty, me dando conselhos e me reconfortando de todas as maneiras possíveis, além de fazer companhia várias vezes no hospital. Já Sammy e Jorge ajudavam na casa quando estávamos fora, ocupados com algo.

                                 ***

Bateu o sinal para o almoço, finalmente. Saí do campus e Dan me esperava do lado de fora, com seu cigarro mentolado e suas calças jeans azuis rasgadas, como o combinado:

- Vamos? - Indagou este.

- Sim. - Respondi. - O que vamos fazer hoje?

- Então... Vai querer voltar estudar a tarde?

- Tá maluco?! Depois é matemática e Física!!!

- Se é assim, bom. Vamos em um fast food, pegamos dois lances cada, e iremos no lago.

- Okay... Mas quando iremos voltar.

- Antes de ir para o hospital de Ben.

- Pode ficar tranquilo, não irei. A mãe dele chegou, quero que ela fique sozinha com seu filho, deve estar querendo isso...

- Certo, entre no carro. - Disse Dan animado.

Pegamos o lanche e Danny resolve ir para uma loja de conveniência comprar algumas cervejas. Então fomos para o nosso destino.
O céu estava límpido, não havia uma nuvem no céu, exalava o cheiro dos eucaliptos no ar.

                               ***

Havia chegado o crepúsculo da noite, beirava a meia noite:

- Sabe. Nunca pesnsei que minha vida iria tomar um rumo desses... - Indaguei pensativa.

- Não entendi. - Dan falou dando mais um trago em seu cigarro.

- Nunca pensei ir tão cedo para faculdade, me apaixonar por meu melhor amigo. Tenho orgulho de mim, aconteceram várias coisas e eu, com ajuda de Ben e Cris, sempre fiquei de pé. Assumo estar pouco perdida agora.

- Entendi. Ambos podem não estar mais com você agora, mas pode ter certeza de que te ajudarei no que precisar.

O abracei forte, era reconfortante, caloroso. Comecei a contar várias histórias de tudo que passára com Cris. Dan, dava para ver alegria em seu rosto. Falar sobre seu amigo o fazia bem.

- Obrigada... - Falei suspirando.

- Por?

- Por estar comigo.

Me levantei puxando o corpo de Danny para perto de mim. Ficamos cara a cara, tão próximos cujo dava para sentir sua respiração pesada e confusa. Não disse nada, apenas o beijei. No final, não acabára apenas no beijo.

                               ***

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                       Julho de 1994
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Ben ainda não apresentava qualquer estado de melhoria, os médicos diziam que poderia demorar bem mais do esperado. Nessa época já havia desistido quase que totalmente deste, apenas o mínimo de esperança. Porém ainda o visitava.

                               ***

- Que horas são? - Peguntei para Danny semi nua deitada em sua barriga.

- Sete e meia da noite, por que? - Perguntou ele.

- Vou visitar Ben hoje.

- A cara... Ainda é cedo... Não pode ir amanhã?

- Hoje pode ser o único dia que posso ir. Por favor me leva? Se não irei com meu pai.

- Infelizmente não vai dar. Tenho TCC para entregar hoje.

- Okay, amanhã eu juro que com quem vou passar a noite será com tigo. - Me dirigi a ele dando um selinho em sua boca.

- Então tá combinado.

Coloquei uma roupa e liguei para meu pai, a sorte é que este estava em sua casa. Depois de meia hora de espera ele chega, com uma fatia de torta de chocolate com creme:

- Pai, assim vai me engordar! - falei entrando no carro.

- Sabe que gosto de fazer... Me lembra sua mãe, quando ela chegava do trabalho e comia uma torta de limão, logo após me beijava, ainda sinto o sabor de seu beijo cítrico na boca, toda vez que faço uma.

- Sinto saudade dela.

- Eu também. E tenho certeza que ela ficaria orgulhosa da pessoa que se transformou.

Ficamos em silêncio ouvindo música o caminho inteiro, papai ouvia uma música qualquer do "The Police".
Finalmente chegamos, dei um beijo no rosto de meu pai e logo saí, com a boca suja de torta. Entrei no quarto uma enfermeira limpava Ben, fui ajudá-la:

- Você é a garota que sempre vem aqui passar a noite com ele né? - Perguntou a enfermeira.

- Sim, sou.

- Por que? Por que sempre vem vê-lo?

- Sou o motivo para Ben estar assim. Ele vinha me visitar.

- Lembre-se, não foi sua culpa, apenas tinha que acontecer, agora cabe a você aceitar isso ou não. - Falou indo para o corredor.

Fui arrumar os cabelos longos e ruivos de Ben:

- Sabe... Já fazem alguns meses que você está em coma, queria apenas abraça-lo novamente. - Olhei para o armário onde estava as flores. - Parece que chegou a hora de trocar as flores, perderam até a cor. Meu pai fez aquela torta que você tanto gostava. Hahahaha! Lembrei daquela vez quando comeu tanta torta cujo chegou a engordar 5 quilos em uma semana... Ben... Volta, por favor.

Me sentei na poutrona do quarto o olhando. Acabei adormecendo por volta da meia noite.

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Acordei ofegante e assustado, parecia estar em um quarto de hospital. Por que eu estava lá?  O que havia acontecido? Virei minha cabeça avistando Clara adormecida, tentei chamá-la, porém mal saía qualquer ruído. Então fechei meus olhos, apaguei novamente.

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Acordei atrasada para a primeira aula, Dan não havia chegado ainda, e Ben ainda sem qualquer reação. Peguei minhas coisas e fui tomar um banho no banheiro do quarto do hospital. Pedi para enfermeira ligar para minha casa.
O atraso de Dan me deixou furiosa:

- Calma garota... Sua pressa não irá resolver nada. - Disse a mesma enfermeira de ontem trocando o soro.

Danny chega ofegante:

- Desculpe o atraso. Acabei acordando tarde. - Justificou ele.

- CARAMBA, QUE DEMORA!! Achei que já não ia vir mais...

Começamos a andar em direção a porta:

- Clara... - Ouvi um sussurro atrás de mim.

Virei assustada. Ben acordou! Corri para abraçar:

- Ai Ben!!! Que saudade! - Falei começando a chorar de emoção.

- Não me apertar tão forte... Ta me sufocando - Respondeu.

                        

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