8- Chegou a hora

24 2 0
                                    

////////////////////////////////////////////////////////////         Janeiro de 1994
///////////////////////////////////////////////////////////

Bom... Havia chegado a hora de dizer tchau, era difícil, mas acabou, todos os momentos bons se resumiu em lembranças, nada além disso.
Seria fútil de mais dizer que nos beijamos, demos um abraço e entrou no avião. Não é bem assim.

Um dia antes Clara dormiu em minha casa, foi uma noite memorável. Conversamos quase a noite inteira:

- Hahaha!!! Ben... Você é uma peça! - Disse ela rindo alegre.

- Claro que não. Lembra do dia que eu invadi sua sala com saia gritando seu nome e dançando com a professora de história? - indaguei sorridente.

- Siiiiim, lembro, a professora quase bateu em você. Ainda por cima foi para a diretoria e saiu como uma lenda na escola!!!

-Pois é... Pena que acabou... Triste.

- Sim. Mas de uma maneira, não quero ter que ir em bora e te deixar...

- Então fica! Por favor...

- Sabe que eu não posso Ben.

- Sim... Eu sei.

Clara me abraçou apertado como se não quisesse mais largar, de forma alguma, também a abracei, era como se fosse a última vez que nos veríamos na vida. Me deitei à cama, esta encostou sua cabeça em meu peito, ficou ouvindo meus batimentos acelerados, suas mãos geladas na minha barriga em baixo da camiseta, esta sorria, parecia feliz com tudo orgulhosa por ter me conhecido, pela pessoa em que me tornei em apenas um mês:

- Já pensou o que pode ser de nós daqui dezoito anos? - Indagou ela.

- Nunca havia passado pela minha cabeça sinceramente. - Respondi pensativo.

- Faremos uma promessa. Nos encontraremos na mesma praça que tomavamos sorvete, em baixo da árvore onde escreveu meu nome quando eu terminar o curso.

- Certo. Estarei te esperando, não importa o tempo que demorar.

Clara se levantou e jogou-se em cima de mim com um abraço reconfortante dando vários beijos em meu rosto sorrindo.
Tudo que sentíamos naquele momento, era o real valor de uma vida. Poderíamos tentar matar o sentimento. Mas de que vale tentar isso, se é melhor sentir e aproveitar esse sentimento ao máximo até se esgotar, sabendo que jamais acabaria.

                                   ***

Passava da meia noite, luzes apagadas, nos deitados de conchinha falando do futuro, sonhos e desejos, sem se importar o que estria por vir:

- Sabe. Queria uma casa em uma floresta de iocaliptos, pouco afastada de cidades. - Disse meu amor. - Do teu lado de preferência.

- É um sonho bem válido. Poderemos ter uma casa com iocaliptos. - Falei gostando da ideia.

Ainda de conchinha a apertei, esta deu uma risada muito gostosa, como de uma criança alegre cujo acabára de receber cócegas de alguém.

- Ben. Eu te amo. Sou feliz ao seu lado.

- Também a amo Clara. Mais do que qualquer coisa no mundo, eu te amo...

- Como acha que vai ser quando eu partir?

- Para ser men sincero não faço ideia. Mas será difícil sem você.

- Entendo... Tudo que fizemos, passamos por uma serie de coisas juntos. Você até passou de ano!

- Sim. Tudo graças a você, por ter me ajudado.

- É, mas vê se não vai relaxar viu? Se não eu virei para cá só te dar um beliscão!

- Certo. Não vou.

A verdade sabia como iria ser meus dias longe dela, apenas não queria contá-la para esta não ficar preocupada.
Para falar a verdade, nem dormimos direito, preocupamos mais com o grão de areia da apulheta de nosso tempo.

                                 ***

Era cinco horas da manhã quando fomos dormir. Havia tempo já que o ónibus sairia apenas 22:00 da noite.
Acordamos tomamos café, e damos nossa última volta na cidade juntos:

- Um dia vou sair dessa cidade, e irei te procurar onde estiver. - Indaguei com tom alto no momento que passamos ao lado de uma praça, cujo havia crianças brincando entre si, vivendo sua inútil inocência.

- Sabe que meu pai irá junto né? - Falou pouco cabisbaixa.

- Eu sei também que iremos perder o total contato... Tenho medo do que vai ocorrer.

- Ainda irá continuar vivendo, como uma pessoa comum, com esperanças e sonho. Igual a mim, a todo sendo sincera.

Chegamos até a sorveteria de sempre e pedimos o mesmo mesmo sorvete de costume. Fomos até a mesma praça, e nos sentamos em direção de uma árvore. Menina Floyd deu um beijo  gelado com a boca toda suja em minha bochecha susurando "eu te amo" em meu ouvido.

                                  ***

Já estava quase escurecendo quando voltamos para minha casa. Clara arrumou sua mala com todas as suas roupas (ela praticamente havia se instalado em minha casa, só voltava para a dela nos finais de semana) e tomamos um banho, nos amamos pela última vez antes dela partir, foi especial. Comemos qualquer coisa. Tinha chegado o momento do adeus, o coração palpitava forte em desespero e agonia.
Paramos a frente da porta do ônibus:

- Não esqueça o que eu direi. A partir de que eu entrar nesse ônibus, possa ser que nunca mais o veja. Quero que siga sua vida, conheça novas pessoas e tente amá-las da forma que me amou e cuidou. - Disse Clara quase chorando. - Entendeu?

Acenei a cabeça positivamente e lhe dei um ultimo beijo digno de cenas de filme. E entrou, observei parado em prantos vendo ela partindo.
A única coisa que sobrára era minha cama e lembranças. Maravilhosas e inesquecíveis lembranças.

                

Apenas Será Onde histórias criam vida. Descubra agora