Parte 18

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O dia estava marcado, minhas mãos estavam frias, Oliver a segurava cruzando os dedos sobre os meus, Hanna e Arthur estavam conosco a espera de que o juiz nos permitisse entrar, eles não poderiam entrar mais estavam ali conosco nos passando confiança, do lado de fora uma multidão gritava "Anny, Anny, Anny".

Algumas pessoas nos procuraram nos contando a própria experiência com adoção, havia o caso do casal homoafetivo que havia adotado uma criança com síndrome de Down, havia também o caso do casal homoafetivo que adotou duas crianças abandonadas pelos pais após descobrirem que as crianças estavam contaminadas pelo vírus HIV, isso nos enchia de esperança, nós iriamos conseguir eu tinha certeza, Anny voltaria para casa.

Quando enfim o juiz nos deu autorização para entrar soltei um suspiro, a impressão que eu tinha era que estava segurando o fôlego por muito tempo sem conseguir respirar e agora ele estava sendo liberado. Caminhamos até a sala e ele nos pediu para sentarmos e contarmos a nossa história para ele.

Porém ele iria nos ouvir separadamente, pediu que Oliver fosse o primeiro e eu fui levado a outra sala onde uma pessoa estava a minha espera:

_ Olá Alec.

Era o pai de Oliver, o que aquilo tudo significava?

_ O que isso significa sr°

_ Calma rapaz, eu pedi para o juiz me fazer esse favor, enquanto ele está ouvindo o Oliver, eu só quero trocar duas palavrinhas com você.

_ O que você quer?

_ O que você quer Alec, você já desgraçou a vida do meu filho, o casamento, os filhos e agora expôs toda essa merda de homossexualidade nas redes sociais por causa daquela enjeitada que meu filho insiste em chamar de filha, mas ela não é, ela não passa disso uma enjeitada que nem os pais suportaram que nasceu e vocês a trouxeram do lixo para dentro da minha família me fazendo engolir a seco garganta a dentro, então Alec eu tenho uma proposta para te fazer.

_ Proposta?
                                                                                                        ***

Oliver:

****

Tudo aquilo era maluco, quando tudo parecia correr tão bem as coisas viravam de cabeça para baixo, Alec e eu tínhamos nos acertado e nossos planos para o casamento e a reforma da casa para receber os meninos nas férias estava nos deixando animados, havíamos acabado de comprar um cachorro que Anny tanto nos pedia estávamos felizes.

Os últimos dias estavam tão sossegado que até nem eu e muito menos Alec nos preparamos para o vendaval que estava sendo preparado para nós enfrentarmos.

O ataque vindo da parte do meu pai foi duro demais e Anny foi levada para um abrigo e eu agora tinha que ver meus filhos uma vez por mês com alguém que media até a distância que eu poderia chegar perto deles.

Era crueldade demais ver eles correrem ao meu encontro quando eu descia do carro e alguém tomar a frente dizendo ser proibido, como um pai pode ser proibido de abraçar os próprios filhos, só por amar alguém e outros julga ser errado?

Quem decretou que amar alguém do mesmo sexo é errado?

Eu nunca amei o Alec pelo fato dele ser um homem, eu amei pelas qualidades que ele tem, pela generosidade e até ingenuidade que ele possui, eu amo o Alec pelo simples fato dele ser o Alec, e ainda que ele fosse uma mulher eu ainda o amaria pelas qualidades e singeleza do coração que ele tinha.

Não estava pedindo para que ninguém achasse certo ou errado, apenas queria ser respeitado pela escolha que eu havia feito, eu havia escolhido Alec.

Mas eles tornavam a minha escolha errada quando me impediam de levar minha filha para casa, quando disseram para não me aproximar demais dos meus filhos. Eles tornaram minha escolha errada.

Eu estava arrasado, mas tinha que me fazer de forte pois Alec sentia demais a falta da nossa pequena em casa, que só levou o essencial para o abrigo.

Algumas vezes peguei Alec no quarto de Anny, olhando para as inúmeras bonecas que haviam todas ficado na prateleira. Mas Anny não estava ali pra brincar com elas.

Corremos atrás para que o juiz nos recebesse, mas nada a resposta que tínhamos era sempre a mesma, "a criança está sendo assistida pelo estado", dane-se o estado, dane-se a burocracia eu queria minha filha com a gente, assistindo duas, três vezes o mesmo desenho, queria Anny correndo pela casa.

Eu sabia que a dificuldade do juiz nos receber tinha o dedo do meu pai, mas dessa vez eu estava do lado do Alec e nada iria nos fazer desistir, me entristecia ver Alec tendo crises de choro de saudades da Anny por isso eu estava sempre do lado dele.

Quase três anos, e nada havia se resolvido, Anny já havia perdido a esperança eu percebia no seu olhar, ela nunca nos dizia uma palavra para nos entristecer, estava sempre risonha, porém a sua capacidade de sonhar estava abalada, pois nas palavras que ela dizia sobre a Barbie nos fazia entender.

Sarah havia nos deixado e se não fosse Arthur que nos ajudava teríamos ainda mais dificuldade.

Os planos para o casamento havia ficado em segundo plano priorizando a situação de Anny.

Hanna apareceu certo dia em nossa porta na companhia de Arthur e foi uma benção, a ideia do vídeo bombou e isso fez com que o juiz aceitasse nos ouvir, agora eu estava ali diante daquele homem expressando o meu desejo de ter Anny comigo, mas onde estava Alec, havia sido levado para outra sala, o que ele estaria fazendo?

Cada pergunta que o meritíssimo perguntava, procurava responder com precisão convicto ao dizer que eu queria minha filha comigo, que eu a reconheceria como minha filha legalmente, que tanto Alec e eu íriamos amar e cuidar da nossa filha com responsabilidade e jamais iriamos influenciar ela a tomar quaisquer decisão por ordem sexual dela.

Como eles conseguiam deturpar o sentimento de alguém só pela sua opção sexual, é homossexual não serve para amar uma criança seria esse o pensamento retrógrado que aquele juiz tinha ou o fato era que ele sim estava sendo manipulado pelo meu pai?
                                                                                 ***

Alec:

****


_ Sim uma proposta, uma proposta justa para você e essa menina sumirem da vida do meu filho.  Só me diz quanto você quer para ir embora com essa criança para bem longe do Oliver. Você tem noção dos sonhos que eu tive para o meu filho e ele jogou tudo para os ares para ficar com um viadinho de merda feito você e bancar o papai de uma criança que foi achada no lixo.

_ Não ouse, a minha filha não foi achada no lixo, não ouse me fazer essa proposta indecente e nojenta. O seu dinheiro não me compra e nem apaga o que o Oliver sente por mim e eu por ele, então não ouse falar mais nenhuma palavra suja e asquerosa para mim.

Não conseguia acreditar naquele homem sem nenhum escrúpulo, como ele podia ser o pai do Oliver e ser tão repugnante daquela forma. Saí da sala deixando ele lá e no corredor eu chorei, chorei muito, adentrei a sala onde Oliver estava e olhei bem para o juiz:

_ Você está junto daquele homem?

Tanto o juiz como Oliver me olharam abismado e o juiz levantou-se da cadeira, mas antes que ele tivesse chance de dizer qualquer coisa eu fui mais rápido:

_ Você usa a sua posição não para fazer o bem para a criança, mas para os seus próprios interesses, aquele homem nojento acaba de me oferecer dinheiro para que eu suma com a minha filha e nunca mais procure o Oliver, quem vocês pensam que são para querer podar o sentimento de outras pessoas?

_ Que homem Alec.

Oliver me perguntava olhando de mim para o juiz:

_ Seu pai, Oliver, em cumplicidade com esse juiz corrupto que com certeza está se vendendo para o seu pai.

O juiz indignado erguia o tom de voz:

_ Rapaz como ousa me dizer essas coisas, não sabe que eu sou autoridade sobre esse tribuno?

_ Isso te torna ainda pior do que é, por que usa a sua autoridade de forma irresponsável, não vê que você está brincando com a vida de uma criança?

Linha do tempo (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora