Parte 5

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Tive que  implorar para que ele me permitisse pelo menos me despedir de Alec antes de partir, de tanto insisti consegui que ele me desse permissão, disquei o número de Alec e minha voz saiu fraca demais pra disfarçar, ele logo percebeu que algo estava errado, entretanto  ao longe ouvi um chorinho de bebê e ouvi Alec sorri dizendo:

_ Nossa bebê está aqui agitada, acho que ela sente a sua falta, toda vez que íamos visita-la íamos os dois.

_  Verdade amor.

Não me contive em deixar as lágrimas escorrerem por meu rosto enquanto tentava controlar minha voz para que Alec não percebesse o meu choro.

_ Eu quero te ver Alec, hoje a noite lá no barzinho, Mark e os meninos também vão, por favor eu preciso te ver.

_  Calma amor, está tudo bem, eu vou estar lá, também preciso te ver, preciso te sentir, faz dias que não nos vemos estou com saudades.

Cheguei no horário marcado, acompanhado de Mark, saudamos os rapazes e eu arrastei Alec para um canto mais afastado, onde o beijei repetidas vezes o apertando contra mim, ele teve que pedir que eu o soltasse para saber o que estava acontecendo por que eu estava diferente:
  
_  Amor, está acontecendo alguma coisa?

_ Sei que as coisas se complicaram com a chegada do seu pai, mas ele vai entender que nos amamos.

_ Eu preciso um tempo Alec, não podemos continuar, eu não posso mais.

Alec me olhava incrédulo, me olhava com aquele olhar distante, seus olhos marejados as bochechas vermelhas, indicavam que ele iria chorar, eu não aguentaria se ele chorasse isso iria me matar por dentro então o deixei ali e sai rapidamente desviando entre uma pessoa e outra, mas não fui rápido o suficiente para que ele não me alcançasse.

Ele me segurou pelo braço me fazendo obrigar a olhá-lo, ele me questionava sobre ser feliz, como eu poderia ser feliz longe dele?

Eu não dizia nada, apenas queria abraça-lo, ele me acusava de não ter sido importante para mim, quando ele havia sido a causa mais importante pelo qual eu lutei, ele não tinha noção do quanto estava sendo difícil para mim deixa-lo, não deveria, mas disse isso a ele. Disse que meu pai o machucaria, mas nem isso o fez entender o meu lado e eu só pensei em fugir, o motorista do meu pai buzinou e eu entendi o recado, meu tempo com Alec havia findado, o olhei mais uma vez demoradamente depois apressei os meus passos e entrei naquele carro sem olhar para trás, meu pai pediu que o motorista me levasse diretamente ao aeroporto onde um jatinho já estava a minha espera e no meio do caminho um telefonema de Mark me arrasou, me fez ficar dilacerado, Alec estava machucado, havia sido jogado longe ao ser atingido por um carro em alta velocidade.


O impacto da notícia fez com que eu olhasse meu pai com ódio e eu o acusei:

_ Se o Alec não resistir, eu nunca o perdoarei, agora pare esse maldito carro. Meu pai ignorou o meu pedido dizendo para o motorista prosseguir e sem pensar eu abri a porta do carro e me joguei para fora.

_ Seu filho fraturou três costelas, mas logo estará bem.

O médico informou meu pai, que soube que Alec estava em coma:

_ Ele está em coma Oliver, então como sabe o juiz pode tomar a criança.

Não era justo, eu pensava, dois anos lutando para conseguir adotar Anny e quando conseguimos novamente ela ficará só:

_ Não toca na criança, eu faço o que o senhor quiser com uma condição.

_ Que condição Oliver.

Eu quero criar a menina enquanto o Alec está em coma.

_Sem chance de trazer essa enjeitada para nossa família, você enlouqueceu?

_ Alec não é mais perigo para a sua reputação pai, graças a minha covardia ele está ali naquela cama de hospital.

_ Tudo bem meu filho, você pode ajudar essa criança de longe.

_ Nada feito, eu quero ver o crescimento da minha filha.

Com a promessa de que cuidaria de Anny sem que assumisse que ela era minha filha, meu pai acabou por aceitar que eu continuasse no país, poderia cuidar da educação dela, poderia até mesmo estar com ela todos os dias mais nunca a trazer para casa ou dizer que era minha filha a qualquer pessoa que fosse, e assim eu concordei.

Khris o irmão de Alec é que ajudava os pais de Alec a cuidar, eles não quiseram a minha ajuda, disseram que poderiam cuidar dela sozinhos, mas eu insistir, eu implorei até que eles concederam que eu depositasse em uma conta uma pensão para Anny e assim era feito toda a semana.

Participei de cada conquista da minha pequena, o primeiro dia de aula, a primeira apresentação no balét, a primeira peça no teatro da escola, a formatura do pré-primário, e sofria por Alec não participar de nada disso.

Meu pai não perdeu tempo e tratou logo de me casar com Cyntia a qual eu nunca amei, mas tivemos dois filhos, um estava com sete chamava Ricardo e o Ronaldo estava com quatro anos.

Todos os dias eu o visitava no hospital, eu dizia palavras no ouvido do Alec, queria tanto que ele despertasse, mas nada, ele continuava inerte e tudo o que se ouvia era o barulho dos aparelhos que o mantinha vivo.

Os primeiros anos foram os mais difíceis, depois apesar da esperança de que ele se mantivesse entre nós, a rotina de trabalho foi fazendo com que algumas pessoas passassem a não acreditar que ele retornaria.

Cogitaram a possibilidade de desligar os aparelhos, mas não deixei eu não podia deixar, mesmo depois de seis anos que ele estava ali naquela cama, eu não podia deixar desligar, não suportaria a dor de ter que vê-lo partir e lutei com todas as forças que tinha para tirar essa ideia da cabeça dos pais dele, até que consegui.

   Dez anos haviam passado, Anny estava perto de completar seus onze anos, eu planejava uma festa, mas Cyntia inventou uma viagem e tive que apenas comprar um presente, ela era muito tecnológica então optei por dar-lhe um computador portátil, tinha certeza de que ela iria adorar.

Já estava a uma semana de viagem quando um telefonema me arrancou o choro, mas não um choro de tristeza mais um choro de muita alegria, pois o meu Alec havia despertado, ele havia acordado depois de dez anos.

Meu coração batia acelerado e tudo o que eu queria era estar com ele, no mesmo dia voltamos de viagem para tristeza de Cyntia que passava a maior parte do tempo reclamando.

Cyntia era uma moça bonita, tinha os cabelos negros que desciam por seus ombros em grandes cachos, rosto redondo que ornava com um nariz mais arrebitado e uma boca carnuda, tinha a silhueta definida enfim era uma bela mulher, mas nunca despertou em mim qualquer sentimento a que notava a deixava frustrada.

Ela me indagava o porque tínhamos que retornar de viagem tão cedo se havíamos combinado de passar um mês. Eu avisei que eu teria que ir, mas se ela quisesse ficar com as crianças eu não me importaria, mas ela bateu o pé querendo me acompanhar, então veio junto.

Assim que cheguei apenas deixei as malas, tomei um banho e segui ao encontro de Alec, mas para minha decepção ele não estava, havia ido ao médico fazer exames, seus pais me avisaram que Alec estava acordado mas estava diferente, distante como se ele está acordado não fizesse nenhum sentido para ele.

Soube através de Mark que ele não queria me ver, não queria nem mesmo que os rapazes tocassem no meu nome, isso me fez vacilar por várias tentativas em procura-lo, desistindo em frente a casa dele, ficava por horas ali no carro, e sorria ao vê-lo de longe com Anny.
Ele continuava lindo.


Linha do tempo (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora