Sem você.

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Voltei para casa e deixei a avalanche de sentimentos tomar conta de mim. O reencontro com Fantine, seus abraços, seu sorriso, sua voz, seus carinhos, seu beijo. Ah, o seu beijo, eu acabei de vê-la ir embora eu já estou com saudades. Não acreditei que isso aconteceria comigo quando a vi novamente, fazia tanto tempo que eu não me sentia assim, achei que tivesse resolvido essa questão dentro de mim. Mas quando vi o sorriso de Fantine depois de treze anos, meu mundo virou de cabeça para baixo.

Ouvi-lá falar, em poucas palavras, que sentia o mesmo me deixou mais abalada ainda. Isso seria o certo? Como sempre tem tanta coisa em jogo. Pensar com a razão ou com o coração? São muitas questões, são muitas dúvidas. E pra falar a verdade, eu não quero pensar, só quero deixar rolar. Por enquanto, vou me lembrar do gosto do seu beijo, até ela voltar. Deixo o cansaço tomar conta de mim, e vou dormir. Serão longos dias pela frente.

No dia seguinte, ao acordar pego meu celular para ver se tem mensagem dela.

"Eu já estou com saudades, dá pra acreditar?" - leio com um sorriso no rosto, me sinto muito adolescente com todas essas sensações que ela desperta em mim.

"Eu também estou com saudades. Tem como você já voltar?" - respondo rindo sozinha. Decido que vou tirar o dia para mim, descansar, ficar em casa sem fazer nada. Fico deitada em minha cama mais um pouco, até que pego no sono novamente.

Acordo com meu celular tocando, acordo assustada achando que já estava atrasada para algum compromisso. Uma ligação de Aline toca insistentemente, atendo sonolenta e sou recebida por uma Aline gritantemente feliz do outro lado.

"Acorda garota, dormindo até essa hora?" - Nem tinha visto hora alguma, quando vejo que já passam das duas horas da tarde, desperto bruscamente, sento na cama ainda confusa.

"Poxa Wirley, eu estava cansada, por que você está gritando?" - ainda atordoada com a felicidade de Aline, eu já devia ter acostumado, ela é sempre assim.

"Eu quero saber como você está, como foi com a Fantine ontem?" - ela me pergunta agora em tom sério, sem brincadeiras.

"Eu estou legal, sei lá, saudades? Sim, já estou com saudades. Ontem nós nos entendemos melhor, tipo muito melhor." - Falo e solto uma risada contida, espero que Aline não perceba.

"Muito melhor como? Me conta garota, eu estou ficando agoniada de novo" - Lógico que ela não ia deixar passar, ela nunca deixa nada passar, me deito na cama de novo.

"Nós nos beijamos." - O grito que eu ouvi em seguida me deixou surda, essa mina é muito louca, rio sozinha imaginando Aline do outro lado.

"Vocês são muito loucas. Caraca, ficou sério, Luciana." - Aline perplexa, solta frases sem sentido, no mínimo engraçado, ela começa a rir, e eu acabo rindo junto. Não tem como, qualquer situação ela faz ficar engraçado, por mais sério que seja.

"Aline, não é engraçado. Para de rir."

"Desculpa Lu, é que eu imaginei aqui, imagina se a gente pega vocês? Ia ser baita engraçado."

"Não ia ser engraçado não, e tem outra coisa, nós nem conversamos sobre a possibilidade de contar para vocês. É segredo Wirley, para de imaginar coisas."

"Tudo bem, eu entendo. E como foi? Como você está se sentindo? Vocês já conversaram depois que ela chegou na Holanda?" - Dispara Wirley muitas perguntas de uma só vez.

"Calma, uma pergunta de cada vez, que afobação é essa? Vou responder, só me ouve, ok?"

"Tá garota, anda logo" - Solto uma risada, eu adoro conversar com essa maluca.

"Foi incrível Wily, ela é incrível. Foi tão carinhoso e gentil, foi um beijo que estava pra acontecer há anos, entende? Ela foi de uma doçura que até agora eu fico tentando entender, por que não aconteceu antes? Eu estou feliz, muito feliz. Eu não sei o que vai ser de nós, mas até agora foi bom."

"Fico feliz por vocês, de verdade. Essa tensão entre vocês só podia resultar nisso." - Fala Aline risonha, mas volta para uma voz séria - "Vocês precisam se atentar a realidade, e não ficar nessa fantasia, vocês precisam conversar como isso vai afetar a vida de vocês profissionalmente também."

"Você tem razão Aline, essa situação é muito complicada, e delicada também. Mas por enquanto deixa eu só lembrar dela, como se o mundo fosse só nosso, ok?" - Digo sonhadora para uma Aline rindo do outro lado, eu não aguento com ela.

"Tudo bem, fica aí sonhando então Luciana. Mas escuta, no que você precisar, você sabe que pode sempre falar comigo, certo?" - Diz Aline carinhosa, a amizade dela sempre foi importante para mim, eu senti falta desse amor que emana dela.

"Eu sei Aline, e eu vou falar contigo, mesmo que eu não queira." - Ouço ela rir e rio junto.

"Certo, então fica bem, beijos, a gente se vê muito em breve." - Nos despedimos e fico rindo sozinha lembrando das maluquices de Aline, até que sinto meu celular vibrar com uma nova mensagem, meu sorriso se abre automaticamente só de imaginar quem poderia ser. E sim, era dela.

"Logo estou de volta, aguenta a saudade aí que eu aguento daqui. Como você está?"

"Eu estou bem, e você, chegou bem?"

"Sim, cheguei. Só curtindo a companhia da minha filha mesmo. Queria que vocês se conhecessem."

"Eu adoraria conhece-la, ela é linda, como você." - Que isso Luciana, que adolescente é essa?

"Ela é linda sim, e você também." - Continuamos conversando durante o dia, eu estava gostando de ter Fantine assim para mim, era diferente, divertido.

As semanas iam se passando, tivemos alguns dias de folgas, e uma entrevista para gravar, sem a Fantine. Foi divertido sim, mas faltava ela. Tive que aturar Aline por alguns dias, antes dela voltar pra casa. O que me distraiu bastante, porque eu realmente sentia falta do abraço da Fanta.

Durante essas semanas, conversamos todos os dias, ela me ligava ou mandava mensagem. Até que enfim chegou o dia em que ela embarcava para o Brasil. Vai acontecer tudo de novo, frio na barriga, arrepios, uma ansiedade sem fim.

"Já estou no hotel, só esperando por você."

Quando recebi essa mensagem eu surtei, depois de longas semanas eu ia ver minha Fantine, finalmente. E por que parece que eu estou mais apaixonada do que antes? Paixão, nós nunca falamos essa palavra uma para outra, será que era isso mesmo? Para mim pelo menos era. Deixei de devaneios, e me apresso para chegar ao hotel. Seríamos só eu e ela, novamente.

Chego ao hotel e vou direto para seu quarto. Quando chego em seu andar, posso vê-la me esperar na porta, eu vou até ela com um sorriso estampado na cara, assim como ela. Não me aguento em só andar, e sim, eu corri, parecia uma criança? Sim, mas eu não me importei, a saudade era demais, eu vejo ela rir e vir ao meu encontro, ainda bem que ela é alta e forte porque eu me joguei em seus braços, e ela me segurou forte, e naquele momento eu me senti em paz novamente. Eu estava no meu lugar certo, nos braços dela.

- Saudad.. - Ela me calou com um beijo, um beijo cheio de saudade, um beijo que eu queria receber todos os dias.

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