Olha só.

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Os ensaios começaram, e eu era só felicidade. Felicidade em estar de volta a esse grupo, felicidade por estar de volta aos palcos, felicidade por estar rodeada de pessoas queridas.

O primeiro ensaio foi pura nostalgia, revendo coreografias, lembrando letras das músicas, harmonizando nossas vozes, entrando em sintonia novamente. Foi incrível, foi renovador, cantar com essas meninas sempre foi um privilégio para mim.

Entre um intervalo e outro nos ensaios, Fantine e eu conversávamos sobre tudo. Realmente o passado tinha ficado no passado, antes rolava conversa, mas não como agora. Hoje vejo sinceridade em seu olhar, vejo amor, vejo paz, vejo essa mulher incrível que ela se tornou. Fantine como sempre muito dedicada ao trabalho, sempre me passava dicas do que ela aprendeu na Holanda durante seu processo de aprendizado. Ela estava mais inteligente do que nunca, e eu estava adorando ouvi-la falar e falar.

Em um de nossos últimos longos ensaios, durante uma breve pausa, estava conversando com Li, quando Fantine juntou-se a nós,  passamos um tempo conversando quando o dever de mãe de Li a chama. Continuamos sentadas, em um silêncio que se instalou entre a gente, mas não um silêncio constrangedor, um silêncio de cumplicidade, de só querer estar uma ao lado da outra.

- Você está ansiosa? - Pergunta Fantine.

- Sim, e você?

- Também, mais feliz do que ansiosa. Acho que será incrível. - Diz Fantine sorrindo com seus olhos grudados aos meus. Quando sinto sua mão discretamente encostar na minha, sinto uma onda de eletricidade passar pelo meu corpo. Por que toda vez que ela está perto eu sinto isso? Me perco em pensamentos enquanto meu olhar sustenta o dela.

- Sim, será incrível. - Consigo falar alguma coisa. Fantine então segura minha mão e dá um leve aperto, o que me faz despertar de meus devaneios.

- Eu sei que os ensaios estão cansativos e você provavelmente queira ir para casa descansar. Mas eu estava pensando, será que você gostaria de ir pro hotel comigo hoje depois do ensaio? - Fantine olha para baixo, parece estar com, vergonha? Oi? Eu fico confusa, aquele frio na barriga de novo, seu olhar desvia do meu e eu não consigo me conter.

- Claro! Quer dizer, por que não né? Se for tudo bem para você, eu vou sim!

Fantine então me olha com o sorriso mais lindo que já vi, parece surpresa com minha resposta, mas a alegria em seu olhar é notável. Entramos em uma bolha só nossa depois disso, que só foi quebrada pela volta das outras meninas e nosso produtor dando encerrado o ensaio.

Pegamos nossas coisas e caminhamos para o estacionamento, Karin ofereceu carona para as meninas já que o hotel era caminho de sua casa. Entramos em seu carro, e a energia era tanta que era quase palpável no ar. Entre risos, conversas e cantorias, chegamos ao hotel.

- Ei Karin, vamos subir? - Fantine pergunta.

- Deixa pra próxima, agora eu só quero me jogar na cama e acordar só amanhã. - Diz Karin seguido de sua icônica risada que contagiava todo mundo.

- Até amanhã então, obrigada pela carona. - Diz Aline, e em seguida me despeço de Karin, seguindo junto de Fantine e Aline para dentro do hotel. Já no elevador, Aline nos observa em silêncio, Fantine a tinha convidado para se juntar a nós, mas ela só queria descansar também. O cansaço bateu e cada uma encostada num canto do elevador em silêncio, chegamos no andar de Aline, e a mesma se despede de nós, me deixando com um último olhar duvidoso. Achei estranho, não consegui entender o que ela quis dizer, mas deixei passar, por enquanto.

Chegamos no andar de Fantine, que em um ato involuntário segura minha mão e me guia até seu quarto.  O silêncio permaneceu entre a gente, até o momento em que entramos no quarto, ela me oferece uma taça de vinho e me convida a sentar no pequeno sofá perto da janela. Olhando para o céu escuro da janela de seu quarto, depois de três taças de vinho, nos atualizando sobre nossas vidas, nossos sonhos, nossas expectativas para essa nova etapa, Fantine segura minha mão, entrelaça nossos dedos e me olha nos olhos com um brilho no olhar, um brilho mais forte do que eu já havia visto, um arrepio passa por mim, ela percebe e sorri.

- Está com frio? - Diz ela em tom brincalhão. - Tenho um casaco aqui, você quer que eu pegue?

Eu solto uma risada, não era frio, era ela, era ela e aquele sorriso. Será que ela está sentindo o mesmo que eu? Me perco em seu olhar, me perco em meus pensamentos.

- Lu? Tudo bem? - Olha para mim confusa, acho que o vinho está fazendo efeito, porque eu solto outra risada perante sua expressão, que no mínimo a deixa fofa demais.

- Desculpa Fanta, não é frio, relaxa. É só, não sei. Quando eu estou com você eu sinto esse frio na barriga, essa adrenalina, ou é só o vinho falando. - Uma risada nervosa escapa pela minha boca, por que eu falei tudo isso? Essa mulher está dando um nó na minha cabeça.

Ela percebe meu nervosismo, percebe que eu falei mais do que devia, percebo um leve sorriso no canto de sua boca. Um sorriso que dizia que ela queria ouvir aquilo, ou é minha mente pregando uma peça em mim?

- Relaxa Lu, eu te entendo. - Ela desvia o olhar, a olho um pouco confusa, me entende, como assim? Ela continua. - Eu venho me sentindo assim também quando estou perto de você, acho que sempre senti, mas antes eu quis te afastar, colocar esse sentimento de lado. Me fechei, fiquei com raiva de toda essa montanha-russa de emoções e acabei te afastando de mim. - Eu respiro fundo, ela está falando tudo isso mesmo? Nossas mãos ainda estão conectadas, dou um leve aperto para que ela olhe para mim de novo. Quando o faz, ela me encontra com um sorriso no rosto.

- Continua Fantine, diz para mim que não é loucura da minha cabeça.

Ela ri, respira fundo, fecha os olhos. - Eu não deveria estar falando tudo isso, foi quase uma garrafa de vinho, a gente não está com os pensamentos em ordem. - Ela levanta, sinto um vazio quando ela se afasta de mim. Continuo sentada olhando para ela andar de um lado para o outro do quarto.

- Você quer que eu vá embora? - Pergunto já me levantando.

Ela me olha com os olhos lacrimejados, e como se acordasse de um sonho, ela vem ao meu encontro segurando meus pulsos. - Não, fica. Está tarde, dorme aqui, não tem problema algum. Eu falei demais, me desculpa.

- Olha para mim, calma. Tudo bem, está tarde, estamos cansadas, amanhã a gente conversa, isso se você quiser. - Evito seu olhar, talvez tenha sido má ideia ter vindo pra cá, me pego pensando.

- Certo, você dorme aqui. - E como uma ordem, eu acatei. Não vou me fazer de besta, eu estava adorando ficar aqui com ela. Então, como num piscar de olhos a atmosfera tinha mudado, ela estava mais tranquila, me emprestou um pijama, riu de mim por ter ficado grande demais, conversamos e rimos mais um pouco, até que a última coisa que eu ouvi foi um "boa noite" e senti um beijo em minha testa.

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