Vazio, era isso que me habitava no momento. Estava perdida em lembranças, sozinha em meu quarto, enquanto Fantine dormia no quarto ao lado. Ela decidiu continuar em casa depois de muita insistência de minha parte, já estava difícil demais lidar com seu silêncio, lidar com sua ausência seria meu fim.
Engraçado pensar na importância de Fantine na minha vida, eu sempre a admirei desde quando nos conhecemos, nós duas nunca fomos as melhores amigas, mas quando ela me permitia entrar na sua vida e ouvir suas histórias, seus desejos, seus sonhos, eu me sentia a pessoa mais especial do mundo. Ela tinha esse efeito e ainda o tem, ela é toda amor, toda carinho, e quando tudo isso é dirigido à você, não tem como resistir.
Era uma noite fria de inverno, quando Fantine nos convidou para uma noite de fondue em seu apartamento. Nossas vidas agitadas, compromissos atrás de compromissos, shows, entrevistas, divulgações. Era uma loucura, e quando tínhamos um tempo livre nos reuníamos só para sermos nós, sem uma câmera apontada para nossos rostos.
Lembro de ter sentido uma Fantine mais leve aquela noite, ela nos recebeu com uma felicidade radiante, naquela noite eu recebi o abraço mais acolhedor dela, depois daquele abraço eu tive a certeza de que eu queria receber um todo dia. Fantine nos fez sentir confortáveis, uma noite agradável e divertida com as meninas que eu tinha aprendido a amar. Mas, particularmente, naquela noite Fantine tinha toda minha atenção, como se ela tivesse despertado um sentimento novo em mim. Por um momento me permiti a olhá-la com outros olhos, e foi nesse momento que eu encontrei com aquele sorriso, aquele sorriso doce que ainda é minha perdição.
Eu não queria ir embora, queria poder ficar mais tempo com ela, então quando ela me convidou para ficar eu não pensei duas vezes em aceitar. Nos despedimos das meninas, e depois de arrumarmos um forte com muitos travesseiros e cobertas, nos deitamos para assistir a um filme que foi completamente ignorado. Naquela noite compartilhamos segredos, conversamos sobre tudo o que não tínhamos conversado antes, aquela noite foi a primeira vez que Fantine tinha sido completamente transparente, assim como eu.
As horas tinham voado, me perdi em seu olhar e no som de sua voz e quando dei por mim o amanhecer estava quase apontando. Lembro de ter mencionado partir, Fantine rapidamente me segurou pela mão pedindo para eu ficar, para eu dormir ali, com ela. Meu coração batia forte, seu sorriso convincente, não tinha como dizer não. Nos deitamos frente a frente, ela me olhava tão profundo, como se estudasse cada parte do meu rosto, sua mão acariciava minha bochecha levemente avermelhada devido ao seu toque. Sustentando seu olhar profundo sinto mais uma vez meu coração acelerar, sentir seu corpo tão perto do meu me deixava sem ar. Meu olhar automaticamente desvia para seus lábios, uma vontade de beijá-los me dominava, procurei nos olhos de Fantine se ela queria o mesmo, e quando a encontrei encarando os meus meu corpo se retraiu. Fantine percebendo a proporção que o momento tinha tomado se afastou cuidadosamente, trocamos um sorriso cúmplice e adormecemos. Lembro de ter acordado em seus braços, o calor de seu corpo me aquecendo naquela manhã fria. Depois daquele dia, tudo em Fantine despertava em mim uma vontade de tê-la por perto mais uma vez, o que não foi possível, não até reencontrá-la.
Desperto de minhas lembranças com uma saudade absurda dela. Os acontecimentos que nos trouxeram até aqui passam rapidamente pelos meus olhos, ter Fantine valia a pena, e eu lutaria por ela, como ela queria que eu fizesse. Levanto de minha cama e sigo até o quarto ao lado, abro a porta com cuidado, e a observo encarar o teto pensativa, me corta o coração pensar que eu a tinha magoado.
- Fanta. - Chamo baixo para não assustá-la. Ela me olha e um pequeno sorriso nasce em seu rosto me convidando para entrar. - Eu estou com saudades.
- Deita aqui comigo. - Ela me chama abrindo os braços para eu me acomodar neles. Subo na cama e depressa me aconchego em seus braços fazendo-a rir. - Eu também estou com saudades.
- Me desculpa por ter si..- Ela me corta com um beijo, um beijo que eu tanto precisava.
- Chega de desculpas. Eu te entendo, eu não vou mais te pressionar, tudo no seu tempo. - Ela termina de dizer e me beija mais uma vez. Ela só era muito incrível, e eu prometi pra mim que eu nunca mais a decepcionaria.
- Eu amo você.
- E eu amo você.
- Não quero mais ficar sem você, é muito solitário. - Digo me aprofundando mais em seu abraço.
- Eu também não, sem você é muito silencioso, e eu amo demais ouvir sua voz.
- Mesmo quando eu estou gritando igual a Aline? - Fantine ri de minha pergunta, e meu coração se aquece novamente com o som de sua risada.
- Principalmente assim.
Diria que essa noite tinha sido parecida com aquela noite, eu senti tudo aquilo de novo, como se fosse a primeira vez. A única diferença é que nessa noite Fantine me beijou, e eu a beijei, nossos corpos se encaixavam perfeitamente, como se ela tivesse sido feita para mim.
Eu estava amando o momento que estávamos vivendo, tudo era muito especial, tudo era muito importante, e era tudo muito melhor quando eu podia dividir esses momentos com Fantine. Ela estava tão feliz quanto eu, em relação ao grupo, e em relação a nós. Claro que ainda era complicado, que tinha muita coisa em jogo. A única coisa que eu precisava manter em mente é que Fantine está ao meu lado disposta a enfrentar qualquer coisa, então eu estava segura. Eu não precisava afastá-la, não como antes. Ela agora é essa mulher forte, poderosa, cheia de opinião, e eu a amava demais para deixá-la ir.
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Against All Odds.
RomantizmQuando um reencontro desperta sentimentos até então desconhecidos.