Capítulo 46

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Três meses

Ás vezes,quando paro para pensar,cogito a possibilidade de tudo isso ser um grande egoísmo meu.Eu não gostaria que você estivesse nessa situação,mas eu prefiro isso do que te perder por completo.Sim,pode ser egoísmo.Por que ninguém merece viver assim.Se é que isso é viver.

Você está sofrendo,Dereck. Eu vejo todos os dias o seu sofrimento.Durante esses três meses em coma,você não deu nenhum um sinal de melhora.Não responde aos tratamentos e não tem nenhuma mudança no seu estado clínico.Mas eu sei que está tentando.Seja lá onde você está,ou a onde sua consciência te levou,sei que está lutando para acordar.Mas tenho medo,medo de que todo esse sofrimento te consuma,e você desista de tentar.

Todas as noites eu converso com você,não sei se me ouve,ou se sente os meus toques e meus choros.Mas eu prefiro pecar pelo excesso.Então todas as noites desses três meses,eu rezei ajoelhada a sua maca.Eu conversei com você te pedindo para não desistir de lutar.Eu te pedi para ter forças mesmo quando eu já não tinha mais.Te pedi para não desistir de mim.

Existem dias em que estou cheia de otimismo e esperança.Meu peito se enche de fôlego e eu acredito que você irá acordar naquele mesmo dia.Mas quando se passa da meia-noite,quando amanhece,quando o sol raia do lado de fora,eu reconheço que não irá ser naquele momento,e confesso que a angústia me toma novamente e me desespero.

Mesmo todos tentando imaginar o que sinto,ninguém nunca chegará perto.É uma dor incalculável.É impossível por em palavras o que sinto dentro de mim. É impossível tentar explicar o medo que sinto de te perder.Esta sendo difícil demais.

Eu já não sou a mesma a muito tempo.Não lembro o último dia em que tomei um banho com mais de cinco minutos,si quer lembro o dia em que me arrumei e me produzi,ou o último dia em que sorri verdadeiramente.Hoje é tudo lembranças.

Recebo semanalmente a visita dos nossos amigos.Eles veem para saber como esta e para saber como me sinto.E sinceramente,eu já não consigo mais fingir,estou destruída.

O assédio da imprensa diminuiu consideravelmente, devido ao esquema de segurança que o seu pai organizou em todo o hospital.Esse andar que está,foi todo reservado para você.Para evitar que outras pessoas que não fossem da equipe médica,tivessem contato com você,e claro,evitar os furos de reportagem que os jornalistas tanto almejam.

Sim,eu me culpo.Eu sinto que poderia ter evitado tudo isso.Eu podia ter poupado tanto sofrimento.Não me importo,se você realmente me traiu.Eu realmente não ligo.Doeu,não vou mentir.Mas a dor maior é te ver incapaz de abrir os olhos.E nada se compara a isso.

Nesse dia em questão,eu recebi a visita de Martin.Ele estava abatido como da última vez que o tinha visto,mas ele tentava fingir que estava bem,na vã tentativa de me passar segurança.Mas as palavras que saiam na boca dele não refletiam na verdade que havia no olhar.Ele não me passava confiança,porque ele mesmo não a tinha.Ele não tinha aquele otimismo estampado no rosto como antes.Algo tinha mudado desde então.

-Você está bem,bela ?-Disse limpando uma lágrima que rolava pelo rosto enquanto segurava sua mão.

-Eu já não consigo fingir que estou.-Lamentei,abaixando os ombros em sinal de cansaço.

-Eu vejo.-Sussurrou parecendo não ter forças para falar.-Você está muito cansada,bela.Não dorme,não come,não se cuida.Assim não vai ter forças para cuidar do Dereck quando ele acordar.-Falou superficialmente.

-Sabe Martin,eu fiquei olhando para ele essa noite,e se você reparar bem,ele já está até coradinho,digo comparando a um mês atrás em que ele estava tão pálido e magro.Acho que ele esta melhorando,que ao poucos está voltando a como era antes,ele está até mais forte,percebe ?-Falei como se precisasse que alguém confirmasse as minhas constatações.Eu precisava que alguém lutasse comigo.Que me dissesse que acreditava que você iria acordar,por que eu estava cansada de sonhar sozinha. 

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