Confinada no tédio!

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Quando acordei a primeira coisa que visualizei foi : árvores.
Havia muitas árvores ao redor de onde me encontrei deitada, então concluí que devia estar no meio de uma floresta.

Não, não era isso. Havia um teto de vidro transparente acima. Como não percebi isso antes?
Tirei os olhos do alto e olhei para os lados a procura de outros sinais que me tranquilizasse de que não estava no hábitat daquelas serpentes malignas. Considerando é claro, que elas também vivessem na floresta.

Estava em algum tipo de sala espaçosa com várias decorações de flautas e saxofones nas paredes, que eram pintadas de amarelo com luzes que piscavam e mudavam de cor instantaneamente, em um verde, vermelho e roxo. Como se fosse um pisca-pisca de natal.
Havia diversas camas a minha volta, cerca de umas 50 ou pouco mais. A maioria desocupadas. Só depois que eu vi as camas que reparei que também estava deitada em uma.
Só tinha 2 camas ocupadas naquele lugar. (Contando com a minha 3)
Tentei me lembrar do que houve depois daquela onda gigante. Mas não havia nenhum flashback que pudesse me direcionar ao que acontecera depois. O máximo que consegui lembrar-me foi de Percy erguendo seu braço esquerdo para uma direção e com a mão direita, em que segurava a espada, ergueu-a e sacudiu acima de mim. Ele deve ter matado a girpêra que me fez de refém. Pensei com alívio por um instante, antes de ser tomada pelo medo e dúvida.

–Óh céus eu morri! – pensei mais alto do que pretendia. Tudo de que vi após a onda foi... Nada. Minha visão havia escurecido. Eu devia ter morrido pela falta de ar, disso não havia dúvidas. Mas aquela onda gigante com certeza devia ter matado Percy e Grover logo em seguida. Aquele pensamento fez os pelos do meu corpo se eriçarem.

Desperta com o pensamento atormentador levantei-me da cama num pulo a procura de sinais que contrariassem minha conclusão trágica. Até que ouvi uma voz.
– Finalmente!

Olhei para trás. Parado numa porta de madeira branca, havia um garoto loiro de cabelos curtos e lisos, jogados um pouco a beira de seus olhos azuis. Usava uma bermuda jeans, uma blusa laranja com um desenho de um centauro vestindo armado com uma flecha.  E por cima da blusa, um tipo de jaleco branco. Aquela veste o deixaria com cara de médico, se não usasse chinelos havaianas no lugar de sapatos.

– Quem é você? – perguntei desconfiada.
– Sou Will. – respondeu o rapaz aproximando -se de mim. – Eu estive cuidando de você durante os dias que esteve desacordada. Você deu um baita trabalho, colega.

Ele sorriu e deu tapinhas em meu ombro.

–Você disse que ficou cuidando de mim durante os dias? – perguntei com a voz já arranhando sem acreditar no que acabei de ouvir.

Will ficou sério.

–Você ficou apagada por 3 semanas.
–O QUÊ?! – berrei e fiz Will sobressaltar -se.

Ele suspirou lentamente antes de tornar a falar.

–Olha colega, eu sinto muito por isso está bem. – começou Will parecendo estar com medo de que eu o estrangulasse – Mas quando Grover trouxe você nos braços você já estava mole e quase não tinha mais cor. A única coisa que manteve nossas esperanças foi a temperatura do seu corpo que por incrível que pareça,  estava normal e as súplicas de sua mãe. Eva não é? Ela está arrasada.

Senti meu coração apertar.

–Mi... Minha mãe esteve aqui? –gaguejei.

Will sacudiu a cabeça.

– Não. As barreiras místicas não permitem que mortais atravessem. Só por isso sua mãe não esteve bem aqui.– informa Will dando fortes pisadas no chão,  como pra provar o que dizia.
– Mas ela tentou. – continuou ele,  abafando seu tom quase para um sussurro – O diretor das atividades do acampamento, o Quíron, ele a manteve informada pelo skype. Procurou tranquiliza -la de que estávamos fazendo o impossível para que você sobrevivesse.
–Oh minha mãe. – falei num sussurro quase inaudível. Minha mãe permitiu que eu a deixasse contra a sua vontade, por falta de escolha. Pelo tom como falara sobre a minha origem, pude notar que seu coração não aceitava eu ter sair de seu teto para viver como uma semideusa. E ela havia dito que eu encontraria obstáculos em meu caminho, pelas quais eu teria que lutar para permanecer viva.

Provavelmente tanto ela, quanto eu não imaginamos que isso fosse acontecer logo de cara.
Sem notar, percebi que encarava o chão já chorando.

Então eu sobrevivi. Por pouco, mas sobrevivi. E estava no acampamento meio sangue.

–Preciso entrar em contato com ela. – falei entre soluços –Preciso avisar que acordei e estou bem!
–Uma coisa de cada vez. Acabou de acordar, deve repousar até que faça os exames e eu tenha certeza de que pode se mover.
– Não, não posso esperar mais...
– Pode e vai! – o tom de Will era calmo e firme – Ordens médicas. Eu vou avisar a Quíron que você acordou e ele mesmo vai relatar a sua mãe.

Não gostei de ter que deixar que outra pessoa que eu nem se quer ainda conhecia falasse com minha mãe sobre eu estar viva ao invés de mim. Porém o tom de voz desse Will era como veredito. É claro que eu poderia ter discutido, ter passado por cima, afinal ele era só um garoto que devia ser pouca coisa mais velho que eu. Mas para minha infelicidade, descobri que ainda não tinha forças para andar sem correr o risco de cair. Quando tentei dar um passo a frente para enfrentar Will minhas pernas tremeram e quase caí. Graças a Will eu permaneci de pé.

– Está vendo porque não posso lhe dar alta? –disse ele com seu tom de voz normal de quem diz: Eu avisei. – É muito cedo para dizer se realmente está tudo bem com você ou não.

Não disse nada. Fiquei apenas me martirizando em meus pensamentos.
Maldita cobra gigante.  Como pude ser tão burra de me desconcentrar numa situação como aquela?

Tentei por o máximo de equilíbrio em meu corpo e ajudei Will a me por de volta na cama como um Bebezinho.

–Vou avisar os outros que você está bem. –avisou Will e saiu da sala.

Fui domada pelo tédio de ficar contemplando aquelas decorações de instrumentos músicas por um bom tempo após Will sair. De início aquilo até prende a atenção, entretanto, após tantas horas confinada naquela sala aquilo não me distraía mais.
Estava ficando sonolenta, mas a porta se abriu novamente e me despertou.

Will voltava com um cara de cabelos grisalhos barbudo numa cadeira de rodas. Ele sorriu educadamente ao me olhar nos olhos.

– Olá senhorita Dotts. Como se sente?
– Me sentiria melhor se pudesse falar com a minha mãe. – falei secamente.

O coroa continuou sorrindo e respondeu de um jeito calmo e apaziguador :

–Na hora certa você terá a oportunidade de falar com ela. Por enquanto deve-se preocupar com sua saúde.
–Tá. –falei amargamente –entendi.

Estava claro que era bem difícil passar por uns aqui.

Procurei me acalmar, mesmo contra minha vontade. Quanto mais eu me acalmasse mais cedo me recuperaria.
Então me veio a mente que as duas pessoas que estavam comigo ainda não estavam a vista.

–Percy Jackson e Grover. Onde estão?
Will e o homem se entreolharam.
–Tiveram que responder a um chamado urgente que não podia mais esperar. – Will respondeu encarando o chão de maneira lamentável.
–Como assim não podia mais esperar? Como assim chamado urgente?

O homem da barbudo suspirou profundamente antes de explicar.

–De acordo com as instruções que seguimos, haveria um semideus novato que seria importante na missão. Grover achou que era você, esperaram durante uma semana, mas você não acordou. E... –ele deu outra respirada profunda –nossa querida Annabeth não podia mais esperar.
–Quem é Annabeth?
–A namorada de Percy. –respondeu Will.
–Ah.

Fiquei arrasada por me sentir inútil pela segunda vez em tão pouco tempo. Desmaiar por 3 semanas? Absurdo!
E decepcionada em saber que Percy Jackson, o garoto que me encantou com seus olhos verde mar e salvou minha vida, tinha uma namorada.

Me virei para Will.

–Por quanto tempo você acha que eu ficarei em repouso?
Will coçou o queixo pensando no assunto.
–Talvez uns 3 ou 4 dias dependendo da forma como reagirá ao tratamento.
Ah ótimo. Pensei. Já desejando que os resultados do meu tratamento fossem positivos.
–O que foi mesmo que sequestrou Annabeth Quíron? –Perguntou Will dirigindo-se ao homem da cadeira de rodas.

Então é ele o imortal centauro Quíron? Pensei. Sem entender o porque de estar vendo pernas humanas em cadeira de rodas ao invés de bunda de cavalo.

Quíron olhou então para o teto como se o avaliasse e apertou o braço de sua cadeira.

–Ainda estou tentando montar esse quebra - cabeça. Mas estou com suspeitas de que sejam parte da criação de Tifão e Equidna.

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