Diário de uma Semideusa

Uma orientação divina.

Levantei de um chão lamascento no meio de uma estrada. Quando percebi que estava literalmente no meio da uma estrada tomei um baita susto.
Como foi que eu parei ali? Não faço a menor ideia!
Algo lá no fundo da minha consciência dizia que eu estava no lugar errado. Mas meus pés assim que se firmaram no chão, começou a se movimentar de forma involuntária para a frente.

Será que eu despenquei do céu assim que adormeci?

Não. Piper havia me colocado entre ela e Leo por uma razão. Não me deixaria cair e ir embora junto com seus outros amigos sem constatar se eu sobrevivi ou não a queda.
Me encarei de cima a baixo a procura de marcas de machucado ou algo que justificasse que eu de fato despenquei do céu e fui parar ali, mas minha pele estava intacta. Até passei minhas mãos em volta de toda a minha cabeça e pescoço com maus pressentimentos, porém não havia nada assustador nas regiões também.

Eu estava no meio de uma rodovia em um local onde nunca coloquei meus pés na minha vida. Não havia carros passando, o que considerei um alívio,  caso contrário não daria tempo de prestar atenção em todos esses detalhes.

Mas logo após um suspiro aliviado, eu fui tomada pelo pânico.
Por que não havia nenhum sinal de carros passando? Por que não havia sinal de pessoas? Parecia que eu estava no meio do deserto em uma estrada que foi recém construída ou algo do gênero. Após a estrada que dava para notar ser bem longa, só via - se mato. Sem casa, sem lojas, shopping, estacionamento, nada. Nada que pudesse me ajudar, e mais uma vez me fiz a perguntinha clássica  que surgia com bastante frequencia ultimamente na minha cabeça: Como fui parar aqui ?

Todos esses reparos eu fiz com meus membros inferiores se mexendo sem que eu quisesse. Minhas pernas estavam por si, me guiando para só os deuses sabem onde.
De repente me vi dando a curva por um caminhozinho que parecia ter surgido ali naquele momento, no meio do mato. Havia um estreito espaço ladrilhado de pedras,  que com certeza foi feito para separar um pouco daquele matagal e dar espaço para alguém passar.

Minhas pernas pararam de se mover no momento em que avistei uma casa pintada de branco. Uma casa não, uma mansão. Tinha um formato que achei bem engraçado, parecia um castelo. Havia flores em volta das janelas. Das seis janelas que dava para ver logo de frente. A porta era de madeira e estava decorada com um desenho enorme de papai noel anunciando as boas vindas sorridente e banguela.
Quem mora nessa casa sem sombra de dúvidas tem péssimo gosto para decoração.
Devo bater na porta ou dar um fora daqui?

A segunda opção pareceu fora de cogitação, graças as minhas pernas que estavam agindo por si desde que acordei nesse lugar esquisito.
Quando fiz menção em bater na porta, ouvi passos no meu lado direito. Alguém estava vindo pela lateral da casa. Um calafrio tomou conta de mim. Não queria pagar para ver se a pessoa da casa tinha boa índole. Mas que escolha eu tinha já que minhas pernas estavam agindo como se não fossem minhas?

– Em que posso ajudar semideusa?
Ouço a voz calma e feminina falar ao meu lado. Quando olho para vê - la fico impressionada e ao mesmo tempo intimidada com a moça. Ela usa uma tiara de flor em torno de quase todo o seu cabelo loiro. Sua pele é clara. Entrando em um belo contraste com sua tiara de rosas e seu vestido salmão.
Ela não obteve uma resposta imediata no momento em que perguntou, então com um aceno de mão, ela invocou algumas flores que parecia ter vindo de uma das árvores, mas eu sabia que não foi isso que aconteceu. As flores vieram como um redemoinho em minha direção — na direção do meu peito. E por um momento achei que fosse para lançar sobre mim algum tipo de golpe que seria fatal. Até que materializou atrás de mim uma bela poltrona.

Após essa pequena demonstração divina não foi difícil saber quem era a mulher a minha frente.

– Você é Perséfone! – deduzi me acomodando na poltrona – A deusa da primavera! – acrescentei.