Uma pequena pista!

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As próximas horas que se passaram foram um verdadeiro tédio. Sem TV, sem rádio, nada que pudesse me distrair para que eu não pensasse em mim mesma sendo uma completa inútil.
Já era noite de novo. De que dia? Não fazia ideia. Então deitada em minha cama direcionei minha cabeça ao redor da sala em que estava a procura de um calendário ou algo que me mantivesse informada.
Para minha alegria achei um calendário que parecia digital perto da parede próximo a uma das camas que dizia que era 2 de dezembro.

Um pensamento angustiante tomou conta de mim naquele momento. Pelo andar da carruagem, eu não passaria o natal nem a virada de ano com minha mãe.
Não vou nem entrar em detalhes de como eu amava passar as festas de final de ano com minha mãe, quer dizer, eu passava com ela o tempo todo. Mas final de ano era sempre especial para nós duas.

Enfim, procurei algo para me distrair daquela lembrança porque isso já estava se tornando deprimente. Me virei para o lado onde estava minha bolsa de viagem que eu trouxe e comecei a vasculhar em busca de algo que pudesse me alegrar. Era a primeira vez desde da viagem que eu estava mexendo na bolsa que Grover e Percy arrumaram para mim enquanto eu ganhava tempo para me despedir adequadamente de minha mãe. Já pode imaginar o jeito que estava a mala "arrumada " por dois garotos não é?
Enfim. Para minha felicidade, eles puseram meu amiguinho inanimado no meio da bagunça.

Dei um suspiro aliviada e comecei a me empolgar.

Querido diário,

Desde o dia em que saí da casa onde morava com minha mãe, minha vida tem desandado de uma maneira aceleramente chocante.
Para início de conversa, acho que ainda não lhe escrevi essa parte, no mesmo dia que sabotei meu passeio com minhas... Acho que amigas. Sei lá como chamo. Encontrei outro monstro que pareceu responder ao meu chamado. O que eu achei bem fácil de um jeito estranho.
Contei para minha mãe a primeira parte e ela ligou para a residência dos Jackson. Imediatamente veio o garoto mais atraente e fofo que eu já conheci.
Percy Jackson entrou na minha casa com aquele jeito de um garoto sarcástico que gosta de fazer piadinhas com coisas sérias. Ele não fez piadinhas sobre nada naquele momento, mas eu achei que fosse. Ele disse que era um semideus e eu também era uma semideusa e meu lugar era no acampamento meio sangue.
Agora cá estou nesse tal acampamento, que por sinal ainda não explorei para ver como é, pois acordei numa sala que parece ser de emergência e um doutor adolescente ordenou que eu não saísse.
Tudo culpa de uma bendita cobra voadora que me usou para chantageiar Percy e Grover.
Droga, isso é frustrante.
Eu estou presa sem poder me mexer e meus salva vidas estão lutando para salvar uma pobre donzela que precisa de ajuda e ao mesmo tempo lutando para chegarem vivos até ela. O que não deve ser nada fácil. Considerando que saibam com que tipo de monstro estão lidando.
Espero me recuperar logo!

Fechei o diário e coloquei-o de volta na bolsa.
Senti minhas pálpebras pesadas. Fechei os olhos e adormeci.

Acordei e tomei um susto com o lugar em que estava.

Era um lugar grande, cobertos de rochas e não havia luzes. A única coisa que iluminava minha visão eram as chamas que intensas que pareciam vir de algum lugar ali mais afastado de onde eu estava.

Em outras palavras, eu estava numa caverna.

Atrás de um dos arbustos,  que só notei depois que tinham naquele lugar, saiu uma figura de meio metro de altura, cabelos brancos encardidos e olhos vermelhos que pareciam iluminar o local e fazer com que fosse visto.

Ele se aproximou de mim.

–Está com fome amorzinho? –perguntou a miniatura esquisita em tom de zombaria.
– Prefiro morrer do que me alimentar nesse lugar fedorento. –respondi e percebi que minha voz saiu mais rouca e um pouco mais grossa do que o normal.

A criatura sorriu maliciosa amostrando os diversos dentes podres que tinha na boca.

– Está disposta mesmo a  se sacrificar e morrer antes de seus amiguinhos meios sangues chegarem para salvar você amorzinho? – continuou a criatura horrorosa com o tom carregado de sarcasmo.

Olhei para ele com ódio. Não tinha forças para levantar dali e socar aquele ser desprezível ali mesmo. Estava faminta. Mas o cheiro de carne podre estava me dando embrulho no estômago.

–Eu não vou morrer idiota! –me esforcei para gritar – E já disse para não me chamar assim.

A criatura deu uma risada de eliminar o mau cheiro de sua boca e saiu cantarolando em latim.

Olhei para meus braços que agora tinham uma cor mais pálida do que o normal e estava arranhada, como se tivesse me arrastado em arames farpados. Lágrimas caiam sobre as cicatrizes e eu soluçava fortemente.

A cena diante dos meus olhos desapareceu feito névoa.

Eu estava agora no alto de uma montanha que dava vista para a cidade de Kingston, em New York. Reconheci porque era a cidade onde meus avós moravam. Ao meu lado tinha um cão... Um cão enorme do tamanho de um rinoceronte devorando as maçãs da árvore alegremente enquanto dois garotos um pouco mais atrás ( eu me virei para vê -los) pareciam discutir sobre algo impacientes.

Um eu reconheci imediatamente. Era Percy Jackson. Ele agora usava a mesma blusa laranja que eu vi Will usando que percebi ser o uniforme do acampamento. Usava uma calça jeans surrada e a espada dourada estava amostra em uma das mãos que balançava de inquietação.

– Não posso mais ficar avançando de um em um degrau com a vida de Annabeth por um triz. Já quase a perdi uma vez, não posso perde-la de novo! –seu tom de voz era desesperador. Percebi o quanto essa garota significava para Percy. Ele devia ter passado por uns maus bocados com ela.
–Percy, ouça! – a voz do outro garoto era uma súplica – Nós precisamos ir com calma para entender com o que estamos lidando. Nós quase fomos mortos na semana passada nas mãos daquelas górgonas, se dermos mais um passo sem cuidado, não chegaremos vivos para salvar Annabeth.

O garoto supirou profundamente e começou a mexer em um anel de caveira que estava em seu dedo.

–Além do mais – tornou a falar o menino após uns segundos de silêncio – acho que tenho uma pista de onde Annabeth possa estar.

Percy levantou a cabeça rapidinho para encarar o menino.

– Uma pista? – perguntou ele.
– Um sonho na verdade. Annabeth entrou em contato com Clovis através de sonho e pediu para avisar que ela está presa em uma caverna.

Percy franziu as sombrancelhas em dúvida.

–Mundo inferior? –perguntou ele
O garoto balançou a cabeça em negativa.
–Se fosse eu saberia. Parece estar no subterrâneo.

O garoto virou- se e se aproximou do cão para acariciar suas longas orelhas. Só agora eu notava mais detalhes nele. Ele usava uma blusa preta com estampa de caveiras dançantes, suas calças jeans eram rasgadas e seus olhos eram miúdos e escuros. Ele parecia um anjo. Enquanto acariciava o cão seus cabelos negros bagunçava ainda mais.

–A propósito –continuou ele – precisaremos de Leo Valdez para nos ajudar a chegarmos ao nosso destino. Já viajei demais nas sombras. Não posso abusar.
Percy bufou em indignação.

Acordei. Estava de volta a minha realidade. Confinada na sala do acampamento meio sangue. Escutei vozes de várias pessoas gritando e correndo. Desejei que aquilo não fosse um sinal ruim. E principalmente, não tinha ideia do que se passara em minha cabeça enquanto dormia. Tão pouco sabia o que significava. Mas de uma coisa tinha certeza. Aquilo realmente estava acontecendo. E a garota em que no sonho parecia ser eu, machucada e faminta, era essa tal de Annabeth.

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