16

0 0 0
                                    

    Os dias se passaram e Susie, sem a mínima vontade, resolveu ligar para Taylor, afinal alguma notícia ela tinha que dar para ela sobre o livro. Certamente deve haver alguma pista nele sobre essa casa e seus mistérios.
    Depois que Josh morreu, Susie decidiu que queria investigar o que realmente aconteceu e ela sentia que esse livro iria ajudar de alguma maneira. O problema era, e se não ajudar? E se esse livro não contiver absolutamente nada com que pudesse ajuda-la? É uma terrível possibilidade.
    Susie não queria viver o resto da vida sem saber o que houve com seu marido, porque e quem matou Josh. Talvez possa acontecer com outra pessoa da casa ou com a próxima família que vivesse ali. Não podia contar com a polícia, pois quem iria acreditar no que está acontecendo e no que aconteceu? As coincidências são incríveis, mas ninguém se importa direito com o que acontece em Nortevelly. Ás vezes parece que o caso nunca foi investigado, nem o dela e nem o de ninguém. 
    Já que não podia contar com as autoridades, então ela iria resolver isso. Custe o que custar.
- Sim? – disse Taylor do outro lado do telefone, com o seu mesmo tom de tranquilidade de sempre.
- Eu liguei porque precisamos conversar. – disse Susie seriamente. 
- Ok. Posso saber com quem eu falo? – disse Taylor.
- Você sabe muito bem quem está falando Taylor... – Susie estava um pouco irritada agora, parecia que Taylor sempre usava um tom de deboche quando se tratava de Susie.
- Há, é você Susie, querida! – Taylor parecia estar sorrindo enquanto deixava Susie ainda mais irritada. – Agora eu sei que é você. É a única que me chama assim.
- Assim como? – perguntou Susie.
- Nada, esqueça. O que você queria mesmo?
- Bom, eu... Nós precisamos conversar sobre aquele assunto. Já faz dias que não nos falamos e acredito que tenha alguma novidade.
- Eu não sei do que está falando, Su. – Taylor soou como uma amiga chata íntima de Susie, ás vezes dava impressão de que ela fazia de propósito esse tipo de coisa.
- Qual o seu proble... – Susie respirou fundo para não discutir com ela pelo telefone – Podemos conversar pessoalmente, pelo menos? Temos assuntos não resolvidos a tratar. 
- Acho que você está falando de um certo livro. – Olha, ela é inteligente! Como descobriu? – Sim, precisamos conversar. Eu sei como traduzi-lo, passo na sua casa em alguns instantes, pode ser? – Ótimo! Pensou Susie, assim ela não precisa sair de sua casa com aquele peso enorme até outro bairro desconhecido.
- Pode ser. – disse Susie insegura.
     
    Susie desligou o telefone e se virou em direção à porta de seu quarto, andou pelo corredor e escutou soluços quando passou em frente à porta de Martha. 
    Ela bateu na porta com as costas dos dedos e abriu ao mesmo tempo chamando por sua filha. Ela colocou somente a cabeça para dentro do quarto o suficiente para enxergar Martha apertando os joelhos contra o peito de cabeça baixa em cima da cama. Chorando.
    Susie entrou no quarto e fechou a porta.
- O que aconteceu querida? – perguntou Susie com seu tom doce. Martha subiu a cabeça e Susie pode perceber os seus olhos inchados de tanto chorar. As lágrimas escorriam pelo seu rosto fino e molhava sua calça jeans. Ela apertou os lábios e olhou para sua mãe tentando dizer alguma coisa.
- Queria. Você pode se abrir comigo. Diga-me o que houve. – perguntou Susie novamente.
- Eu... – Martha tentava dizer – Não se preocupe comigo, mãe, eu estou bem – Martha tentou sorrir e mostrar para Susie que não estava acontecendo nada, mas seu sorriso não ajudou em nada.
- Você quer me contar?
- É que... Eu gosto de uma pessoa. – Começou Martha um pouco nervosa ainda abraçada com suas pernas. – Ele é meu amigo, mas de um tempo pra cá eu percebi que não quero que ele seja meu amigo e sim namorado.
- Continue. – Susie segou a mão de Martha.
- Então – Ela fez uma pausa – nós nos beijamos. – Susie ficou um pouco surpresa pela notícia, mas tentou ajudar a filha.
- E isso não é bom? Talvez vocês possam namorar agora.
- Estava ótimo até aparecer uma garota. Ela disse para mim que ele pertencia a ela e a ninguém mais, então ele resolveu ficar com ela agora. – Martha chorou novamente e tentou esconder o rosto entre as pernas.
- Oh, meu amor. – Susie abraçou Martha e limpou suas lágrimas – Se ele escolheu ficar com ela, ele não sabe o que está perdendo. Você irá encontrar alguém melhor do que ele e irá ser muito feliz, acredite. – Martha retribuiu o abraça forte de sua mãe e limpou suas lágrimas.
    Depois de uma longa conversa, Martha adormeceu. Susie cobriu seus braços e ajeitou-a em sua cama, logo desceu as escadas e antes de chegar ao final delas, alguém bateu na porta.
    Taylor. 
    Susie abriu a porta e Taylor estava parada com seu vestido longo amarelo, bem extravagante acompanhada de uma pessoa.
    Era um homem alto magro e muito atraente. Susie teve uma sensação de que já o conhecia de algum lugar. 
- Podem entrar – as palavras saíram forçadas de sua boca. Ela o olhou de cima a baixo e se sentiu atraída por ele. Fechou os olhos tentando tirar aquela sensação estranha de dentro dela, enquanto os dois passaram por ela. Ele e olhou e sorriu. Ela sorriu de volta olhando seus lindos olhos negros e sua boca rosada.
- Eu trouxe um amigo – começou Taylor – ele disse que sabe falar línguas mortas e talvez possa nos ajudar, ou te ajudar. – Taylor sorriu para Susie que não conseguia tirar os olhos do rapaz.
- Me permita me apresentar – disse o rapaz levantado sua mão na altura da de Susie, com um sotaque encantador – me chamo Ian Parker.  – Susie estendeu sua mão para ele de volta. Ela se sentia lisonjeada.
- Me chamo Susie Korl – disse Susie um pouco nervosa.
- Sim, eu sei. Sua história saiu em todos os jornais dessa cidade, é bem difícil alguém que nunca ter ouvido falar na família Korl. – Susie se assustou quando ele disse que sua história havia saído em todos os jornais da cidade. Pois ela mesma não havia notado. Só viu uma vez uma notícia na internet. 
- Bom, vamos logo ao que interessa – Taylor puxou Ian para mais perto dela e usando seu mesmo tom de estraga prazeres que fazia Susie sentir muita raiva. 
- Hum, sim, eu... – Susie se sentiu um pouco tonta – Entre e podem se sentar enquanto em busco algo para beber.
- Sim e aproveita e traga o livro, não se esqueça de que viemos aqui para descobrir um mistério e não para tomarmos um chá. – Susie parou no meio do caminho antes do corredor para a cozinha e olhou para trás enquanto Taylor sorria irritantemente. Susie olhou-a com seu pior dos olhares e continuo andando sem dar à mínima. Ela voltou e deixou em cima da mesa de centro duas canecas de porcelanas com chá e ofereceu para eles.
     Susie virou-se em direção ao quarto. Abriu à porta de seu guarda-roupa a procura de seu livro, abriu outra porta falsa no fundo. E conseguiu ver um pedaço marrom velhos do livro. Ela fez força para tira-lo de lá de baixo e quase o deixou cair. Ele parecia mais pesado a cada dia que passava. Susie retirou o pedaço de pano que o enrolava e abriu-o novamente verificando se não havia nada de errado. Fechou o livro e foi em direção as escadas.
    Taylor estava segurando uma das canecas de porcelanas, enquanto Ian estava em pé em frente à janela observando algo lá fora.
    Susie desceu lentamente as escadas, carregando o pesado livro sobre os braços. Ela veio na direção dos dois e Ian correu para ajuda-la a carrega-la, Susie sorriu em agradecimento e ele retribuiu o sorriso. Ele segurou o livro com todo o cuidado enquanto observava sua expressão, ela olhou bem para aquele rosto macio e aqueles olhos reconhecíveis e se recordou de algo. 
    Um sonho. Ela tinha visto ele em um dos seus sonhos, tinha certeza que ele estava lá, mas era a primeira vez que ela sonhava com alguém e que se encontrava com a pessoa. Talvez possa ser um alerta. Pensou Susie enquanto eles trocavam olhares. Susie não conseguia tirar os olhos dele. Queria poder tocar aquele rosto, aqueles lábios, para ter certeza do que estava pensando. Ou sentindo.
- Susie? – Ela estava tão concentrada que nem se deu conta de que ainda estava segurando o livro e impedindo-o de pega-lo. – Será que eu posso ajuda-la? – Disse Ian um pouco confuso com a reação de Susie.
- Sim, hum, obrigada! – Susie se sentiu um pouco envergonhada por isso. Ela entregou a ele o livro e ele o deixou em cima da mesa do centro afastando as canecas de porcelanas.
     Ele abriu com muito cuidado até o sumário, Susie não havia notado que tinha um sumário naquele grosso livro. E ali mesmo ele começou a ler tópico por tópico sussurrando, Susie só conseguia ouvir algumas frases desconhecidas. Ele passou algumas páginas e parou em uma página. Havia um animal desenhado a mão, mas estava irreconhecível, talvez algum bicho que Susie não conhecia. 
- Mors per accidens... – Disse Ian lendo acompanhando com o dedo - In pluvias nocte. – Susie estava muito confusa querendo saber o que isso significava.
- O que está dizendo – disse Taylor apreensiva.
     Ele parecia não ouvir o que Taylor disse e continuou lendo, mas agora mais baixo e só conseguiam visualizar seus lábios se movendo. Susie se sentiu um pouco tonta. Ela estava parada em pé ao lado dele observando tudo, enquanto ele estava sentado na cadeira de frente para Taylor sem tirar os olhos do livro. Uma pequena lembrança veio a sua mente. Uma dança. Uma deliciosa e graciosa dança. Ela começou a se lembrar da mão dele envolvida na sua cintura e um sorriso encantador em seu rosto. Susie havia sonhado com Ian em alguma noite passada. Eles dançavam uma música lenta e ela sentia uma paz enorme enquanto isso. Como ela pode ter sonhado exatamente com ele? Talvez possa ser alguém muito parecido. E por que ele tinha esse poder de deixala encantada dessa maneira? 
      Ele continuou lendo enquanto Susie continuava a prestar a bem atenção em seu lindo físico e como e onde ela o conhecerá para poder aparecer desse jeito em seu sonho.
- Arcanum funera... – Ele continuava lendo sussurrando algumas palavras estranhas, enquanto Susie começava a sentir uma dor de cabeça e um mau pressentimento. 
- O que está escrito ai, homem de Deus – disse Taylor deixando transparecer seu nervosismo – você fica dizendo essas frases estranhas e não diz mais nada, além disso... – Taylor reclamava enquanto Ian parecia não dar à mínima. Susie parou de prestar atenção e se sentou ao lado dele olhando para o livro. Ela colocou sua mão no livro bem próxima da dele para analisa-lo também. Ele olhou para ela e para o livro de volta.
- Eu acho que o livro está contando alguma história sobre a morte de um homem, mas não acredito que possa ser verdade. – Ele dizia ainda analisando o livro.
- Onde você aprendeu essa língua? Não é todo mundo que sabe falar linguagem morta – perguntou Susie.
- Eu estivesse estudando linguagem morta por muitos anos, eu gosto desse tipo de linguagem, gosto do impossível. Sei que quase ninguém sabe, então decidi ser esse “quase ninguém”, se é que você me entende – pela primeira vez ela o viu sendo irônico, assim como Taylor é às vezes. Susie sorriu abaixando a cabeça.
- Mas, então você acha que a história desse livro é falsa? – perguntou Susie, enquanto Taylor, aquela que dizia que “viemos aqui para descobrir o mistério de um livro e não tomarmos um chá” estava se deliciando com a xícara nas mãos e nem parecia perceber o que estava se passando em volta nesse momento.
- Com certeza sim, não há como uma pessoa ter passado por tudo isso o que está escrito nesse livro. – Ele olhou muito preocupado para Susie.
- E o que está dizendo nesse livro então? – Susie olhou para ele e depois para o livro, imaginando o que de tão ruim podia estar contido nesse livro.

Segredos Da Escuridão Onde histórias criam vida. Descubra agora