O resto do dia foi solitário. Ryan faltou a todas as aulas seguintes, provavelmente por ter ido tomar banho e não lhe ter apetecido regressar ao edifício onde ainda todos tinham nas suas mentes a imagem do Homem-Esparguete, como eu lhe tinha ouvido chamarem nos corredores.
O toque de saída da última aula da tarde soou e a minha única reação foi arrumar as coisas depressa, ir buscar a mochila ao cacifo e chegar o mais depressa possível a casa.
Quando cheguei e abri a porta da entrada, a minha mãe ainda não estava lá.
Fui até ao meu quarto – passando primeiro pela despensa para roubar um pacote de bolachas para petiscar – e liguei o computador. Tinha dois trabalhos escritos para fazer, dos quais os professores das respetivas disciplinas já tinham falado na semana anterior, por isso pus mãos à obra, apesar de serem para entregar apenas no início de março e ainda ser janeiro. Era sempre bom quando os professores davam logo nos primeiros dias de aulas a indicação do que iríamos fazer durante o período escolar. Assim eu podia fazer logo os trabalhos escritos e apresentações, começar a estudar a matéria antes mesmo de a darmos e fazer os exercícios dos manuais e dos livros de fichas para que não tivesse de os fazer na aula ou como TPC.
A minha mãe chegou por volta das sete, quando o céu já estava escuro e eu já tinha fechado as portadas do quarto.
– Olá filha! – cumprimentou-me, depois de bater à porta do meu quarto e espreitar.
– Hei. Se não te importares, preciso mesmo de estar concentrada – avisei-a, indicando-lhe o computador com um gesto.
– Mas eu hoje fui às compras e gostava que visses...
– Depois – interrompi-a, num tom que pôs fim à conversa.
Ela era uma ótima mãe e isso tudo, mas nunca me deixava estar descansada no meu quarto a estudar sem me interromper. Adorava os meus quatros e cincos no final do período e dizia sempre que estava muito orgulhosa, mas, provavelmente, o que ela queria dizer era que estava orgulhosa da minha capacidade de concentração mesmo depois de ser interrompida a cada cinco minutos, não das minhas notas!
Acabei os trabalhos de casa cerca de duas horas depois e decidi ouvir música e ler um pouco enquanto esperava pela hora da refeição.
Meia hora mais tarde, a minha mãe gritou que o jantar estava pronto e eu fechei o livro, tirei os auscultadores e dirigi-me à cozinha, para saborear outra das suas fabulosas receitas, mesmo que, durante a tarde, já tivesse ingerido uma quantidade considerável de bolachas.
Como sempre, perguntou-me como tinha sido o meu dia e, como sempre, eu respondi-lhe que fora igual aos outros: ótimo.
***
No dia seguinte, estranhamente, acordei com uma enorme vontade de chegar à escola mais cedo do que o habitual. Tomei duche, vesti-me, comi e lavei os dentes rápido, saindo de casa logo de seguida.
Fiquei feliz quando contemplei as nuvens cinzentas, inspirando o ar frio. As ruas ainda se encontravam incrivelmente desertas e o céu, apesar de eu não ter saído de casa muito tempo antes da hora a que me habituara, ainda não estava tão claro como o usual.
Quando cheguei à escola, os meus olhos percorreram todo o recinto quase que involuntariamente. Mas não encontrei quem procurava.
Dirigi-me ao cacifo e arrumei as coisas. As aulas só começariam dentro de uma hora, por isso ainda não precisava de andar carregada com o material escolar. Peguei apenas no telemóvel, nos auscultadores e numa pastilha elástica.
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Nem Todos Os Espelhos Refletem
Teen Fiction| ANTIGA "NERD POR SINAL" | OBRA INTEGRANTE DA LONGLIST DOS WATTYS 2018 [AMOSTRA - contém 23 de um total de 73 capítulos; livro físico e ebook já disponíveis na Amazon e o livro físico também com a autora, links na biografia do perfil e no instagram...