9.

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Acordei com alguém a abanar-me suavemente. Abri os olhos.

– Mãe? – estranhei. Não era costume ela me ir acordar.

– Bom dia filha! – cumprimentou-me, animadamente, com um sorriso alegre no rosto.

– Bom dia...

Bocejei prolongadamente e espreguicei-me, virando-me ligeiramente na cama e fitando o rosto da minha progenitora com os olhos menos embaciados que da primeira vez.

– Estou à tua espera lá em baixo com o pequeno-almoço. Estava a ver que nunca mais acordavas! Nem sei quantas vezes ouvi o despertador tocar! É melhor despachares-te que já estás atrasada! – Quando ela acabou de dizer isto, o despertador tocou novamente. Desliguei-o no botão e fui até à casa de banho. Estava atrasada cerca de vinte minutos! Devia ter dormido que nem uma pedra, para não ouvir o som irritante que me costumava acordar todas as manhãs!

Despi-me, tomei duche e regressei ao quarto para me vestir novamente. Escolhi umas calças de ganga simples e uma sweatshirt larga de um simples tom de cinzento claro. Calcei os meus ténis brancos e desci para comer.

A minha mãe lançou-me um sorriso assim que entrei na cozinha. Sorri-lhe também e comecei a comer as torradas que ela me preparara. Ela sentou-se no lugar da mesa à minha frente e fitou-me, ainda sem deixar que o sorriso lhe desaparecesse do rosto.

– Posso saber qual era o sonho de que não querias acordar? – averiguou, com uma voz curiosa e brincalhona.

– Não me lembro. – E era verdade.

– Não te lembras? – pareceu não acreditar, franzindo o sobrolho. Era preciso fazer tanto drama por eu não ter ouvido o despertador? Que raiva!

– Sim, não me lembro! A sério, mãe, eu estava apenas cansada – disse, num tom que pôs fim à conversa.

Acabei de comer, fui buscar a minha mochila e saí de casa o mais depressa possível, já contando com ter de correr até à escola. Estava atrasadíssima. Apressei o passo, adotando um ritmo de marcha. Ao fim de alguns minutos, a parte de baixo das minhas pernas já doía, mas ignorei esse facto e continuei. Já me atrasara vezes suficientes para o resto do ano inteiro.

Quinta-feira. Nesse dia, as minhas aulas acabavam às 13:45h, por isso tinha a tarde toda livre, felizmente. Estava com saudades de escrever. Já não pegava na minha história há cerca de três dias e a minha necessidade por a continuar pulsava dentro de mim como um segundo coração.

Quando, finalmente, cheguei à escola, confirmei que ainda dispunha de cinco minutos. Já não tinha tempo para ir livrar-me da porcaria do pequeno-almoço, infelizmente, por isso limitei-me a dirigir-me ao meu cacifo, acabando por encontrar lá Ryan.

– Bom dia! – saudou-me, com uma confiança que, a avaliar pela postura tímida, não parecia possuir, apesar de eu não entender a razão.

– Bom dia. – Sorri-lhe também, destrancando o cacifo e guardando a mochila, apenas deixando de fora os materiais de Geografia.

Já tinham passado sete dias desde a guerra de água no parque. Tinha passado toda a semana com ele e estávamos a ficar cada vez mais amigos. Amanda ainda não me tinha feito mais nada e já não era empurrada tantas vezes nos corredores, surpreendentemente. Talvez as coisas estivessem a melhorar... Provavelmente já não tinha piada estarem sempre a gozar comigo, visto que já tinha alguém para me defender, para me dar força.

Sorri ao pensar no dia no parque. Tinha sido divertido e sentia-me agradecida por Ryan não ter referido o nosso «quase-beijo» depois do acontecimento. Se era constrangedor pensar nisso, quando mais falar do assunto!

Nem Todos Os Espelhos RefletemOnde histórias criam vida. Descubra agora