Distingui os contornos do seu nariz aproximarem-se dos do meu, cada vez mais perto, e, acho que sem conseguir evitar, fixei os seus lábios finos e bonitos por um momento, observando-os a ficarem cada vez mais próximos dos meus. Depois contorci-me, tentando libertar-me.
Ryan esboçou um sorriso triste, mas compreensivo. Seguidamente, levantou-se e estendeu-me a mão. Aceitei a ajuda e, ao ver-me de pé, olhei para o relógio de bracelete azul-turquesa: faltavam apenas sete minutos para a aula!
– Temos de ir. E rápido! – avisei-o, um pouco stressada.
Ele limitou-se a assentir, ao perceber que eu verificara as horas, e, após isso, começámos a correr, acabando por percorrer a distância do parque em metade do tempo do que havíamos percorrido antes.
Corremos pelas três ruas que antes passáramos descontraidamente e só abrandámos o passo quando avistámos o portão da escola. Olhei novamente para os números no ecrã do relógio digital e retomei o fôlego para avisar Ryan de que faltavam apenas dois minutos para a aula seguinte começar.
Olhámo-nos e rimo-nos das nossas roupas encharcadas e das nossas caras vermelhas. Consegui notar que os seus dentes brancos se encontravam perfeitamente alinhados, mas que o canino do lado direito se encontrava um pouco lascado. Provavelmente, Ryan tinha caído e partido um pouco o dente. Tentei formar uma imagem dele, na minha mente, a tropeçar sem apoio, imaginando a sua cara assustada e engraçada, e gargalhei mais um pouco.
– Ficas sexy de vestido molhado – comentou, dando um meio sorriso e voltando a fixar a sua atenção no portão, enquanto caminhávamos. Íamos chegar atrasados de qualquer maneira. Mais minuto menos minuto já não fazia diferença.
– Está calado! – disse-lhe, emitindo uma gargalhada e dando-lhe um encontrão no ombro.
Mal passámos o maldito do portão, partimos em passos acelerados outra vez, correndo até aos cacifos, para irmos buscar os materiais. Ryan, antes de irmos dar o nosso passeio, também arrumara a sua mochila no meu armário, por isso entreguei-lha antes de tirar as minhas próprias coisas, para ser mais fácil.
Conferi o horário e os meus olhos arregalaram-se ao perceber que ia ter Educação Física e ainda não vestira a roupa. Virei-me para Ryan, aflita.
– Que foi? – inquiriu, parecendo perceber que algo não estava bem através da minha expressão facial. Desconfio de que tinha os olhos mais arregalados que o necessário.
– Vamos ter Educação Física – disse, e, ao entender o problema da questão, Ryan apressou-se a ajudar-me a fechar o cacifo, tirando de lá, antes, a minha mala de desporto e ajudando-me a guardar a dos livros. – Não trouxeste a roupa de Física? – perguntei-lhe, ao vê-lo com a mesma mala que usara de manhã às costas.
– A roupa está aqui dentro.
Mal ele proferiu as palavras, eu assenti e voltámos a correr, desta vez até aos balneários. Cada um entrou no seu, Ryan tendo mais dificuldade a entrar por os outros rapazes da nossa turma se encontrarem a sair. Quando entrei no das raparigas, o espaço já estava deserto. Vesti-me à vontade pela primeira vez, se bem que com pressa, e, quando acabei, saí. O rapaz moreno saiu ao mesmo tempo.
Respirei fundo antes de voltarmos a correr e, ao chegarmos ao pavilhão gimnodesportivo, corremos até à nossa turma, que se encontrava toda sentada no chão, a ouvir o que o professor baixo e gordo tinha para dizer. Alguns dos nossos colegas estavam a falar em grupos. Apesar de isso ser uma falta de respeito, não tive pena do professor. Não gostava dele. O professor João tinha a mania de faltar muitas vezes, dando a entender que se estava a lixar para os alunos. Apesar de Educação Física não ser uma disciplina muito importante a níveis cognitivos, eu não gostava de faltar às aulas e, como tal, também não gostava que os stores o fizessem.
– Desculpe o atraso! – pedi, assim que o homem de barba olhou para mim. Foi só aí que percebi a quantidade de vezes que, desde que conhecera Ryan, já pedira desculpa por me atrasar.
O professor olhou-nos aos dois de alto a baixo.
– Porque é que estão todos molhados? – perguntou. A sua expressão não deixava transparecer o seu estado de espírito.
Os meus pensamentos baralharam-se durante um bocado e, depois, olhei para baixo, para a minha roupa, e, seguidamente, para a de Ryan. Apesar de termos mudado de camisolas e calças, as roupas colavam-se ao nosso corpo, devido a este se encontrar húmido, e os nossos cabelos estavam mais escuros que o tom normal, o penteado de Ryan arruinado.
Senti-me corar. Raramente usava coisas justas por não me sentir à-vontade com o meu corpo, e sentir que todos podiam olhar e notar a minha barriga devido à camisola estar colada era, no mínimo, vergonhoso e humilhante.
– Foi um acidente – respondeu Ryan, rapidamente, enquanto eu me encontrava demasiado intimidada para falar.
O stor lançou-nos um olhar desconfiado e depois mandou-nos sentar.
Sentámo-nos os dois juntos perto do grupo e o professor retomou o que estava a dizer, dando continuidade à aula, parecendo não se importar com o barulho que metade da turma fazia, concentrados nas suas conversas pessoais.
No fim de todos os tempos escolares desse dia e ainda com o facto de Amanda e as suas amigas terem gozado comigo no balneário, depois da aula de Educação Física, na minha mente, Ryan fez-me companhia até casa e despedimo-nos com dois beijinhos nas bochechas. Ele corou, as suas bochechas a ficarem levemente avermelhadas.
– Se um dia quiser tinta vermelha, já sei onde a encontrar! – brinquei, esboçando um pequeno sorriso.
Ele corou ainda mais e baixou a cabeça, envergonhado, coçando a parte de trás do pescoço.
– Até amanhã – despedi-me, rodando a chave no portão. Ele sorriu e, antes de entrar em casa, ainda consegui vê-lo a virar costas à minha pequena vivenda e a voltar para trás, já que a sua casa ficava um pouco mais perto da escola que a minha.
A minha mãe apareceu no corredor da entrada assim que fechei a porta da frente, cujo barulho deve, provavelmente, ter denunciado a minha presença.
– Olá! – cumprimentou-me, com o sorriso que lhe era característico.
– Chegaste cedo! – observei.
– Sim, tive um dia cansativo.
Depois ela reparou nas minhas roupas, que ainda não tinham secado completamente, devido à pouca existência de calor naquela época do ano. Mudara-me para aquelas roupas novamente após a aula de Educação Física. Apesar de estarem molhadas, sempre eram mais quentes e menos justas que o equipamento de desporto.
– O que é que te aconteceu?
– Foi um acidente.
Sorri e subi as escadas até ao meu quarto, a imagem do rosto de Ryan a aproximar-se do meu ainda na minha mente. Ele ia beijar-me, ele ia mesmo beijar-me! Todavia, estava aliviada por não o ter deixado; seria muito constrangedor depois disso e eu não estava preparada para tal coisa.
Entrei, atirei a mochila para o chão e saltei para cima da cama, não me preocupando se molhava ou não a colcha.
Que podia dizer? Estava cansada. Encostei a cabeça e acho que adormeci.
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Nota de Autora
Surpresa! Era suposto só atualizar isto amanhã, mas estou a ponderar começar a atualizar mais vezes (tenho atualizado apenas às terças e sábados). Não sei quanto tempo isto durará, mas vocês são uma parte importante no assunto. Quanto mais feedback receber, mas atualizações por semana faço :)
Para os que queriam beijo no fim do outro capítulo... Nope :p
Não se esqueçam de votar e deixar opiniões! :)
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Nem Todos Os Espelhos Refletem
Teen Fiction| ANTIGA "NERD POR SINAL" | OBRA INTEGRANTE DA LONGLIST DOS WATTYS 2018 [AMOSTRA - contém 23 de um total de 73 capítulos; livro físico e ebook já disponíveis na Amazon e o livro físico também com a autora, links na biografia do perfil e no instagram...