19.

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Segui Ryan até ao pavilhão, depois das aulas da tarde. Ele falara com o treinador da equipa de basquetebol, durante um dos intervalos, e este olhara-o de alto abaixo – provavelmente avaliando a sua altura e constituição física -, para logo lhe dizer que aparecesse no treino daquele dia.

Uma leve brisa movimentava o ar enquanto caminhávamos na direção do local onde a equipa praticava. Estava esperançosa de que Ryan entrasse, já que, apesar de ser notório que se encontrava nervoso, um grande sorriso lhe preenchia o rosto.

Vestia o seu equipamento habitual de educação física e andava com passos acelerados, fazendo-me perceber o quão ansioso se sentia. Durante a hora de almoço tínhamos conversado um pouco mais sobre o seu gosto por basquete e, apesar de Ryan não parecer querer admitir, eu percebi que aquilo era algo de que ele realmente gostava; estava apenas demasiado medroso para tentar.

Logo que entrámos avistei a equipa de basquete reunida em roda, todos com o mesmo tipo de equipamento – calções compridos e uma T-shirt de manga cava com o emblema da escola.

Ryan olhou para mim, como que pedindo conforto, e eu assenti com a cabeça, encorajando-o.

– Podes ir lá para fora, por favor? – pediu, baixinho, antes de nos aproximarmos dos nossos colegas.

Fiquei um pouco surpresa, já que queria assistir ao treino. Ele deve ter percebido:

– É só que vou ficar ainda mais nervoso do que já estou se estiveres a olhar para mim. Faz demasiada pressão.

Soltei uma leve gargalhada nasal antes de fazer o que ele disse, retirando-me para fora do pavilhão gimnodesportivo.

Encostei-me à parede exterior do edifício e limitei-me a ficar à espera, vendo como os alunos abandonavam o recinto, ansiosos por saírem daquele lugar infernal. Eu própria gostava de já estar em casa, não fosse o teste que Ryan estava a fazer para ver se entrava na equipa. Sentir-me-ia mal se o deixasse sozinho depois de ser eu a encorajá-lo.

Olhei o céu: nuvens feias e cinzentas cobriam-no, não deixando que o Sol espreitasse como deve ser. Apenas finos raios conseguiam perfurar as camadas, transformando o céu numa coisa terrível para ser olhada. Aquela luz tosca causava dores de cabeça. Semicerrei os olhos, ainda com a dor a toldar-me a mente, continuando a observar o pátio. Ao menos, ainda não estava a chover. Pela humidade que se encontrava no ar, era praticamente óbvio que choveria à noite, mais uma vez.

Amanda apareceu algum tempo depois – talvez meia hora – com três raparigas e dois rapazes na sua peugada; duas delas eram da minha turma e os rapazes conhecia apenas pelo nome. Fitei-os, atenta, enquanto eles conversavam em grupo, acabando por parar no meio do pátio.

Franzi o sobrolho quando ela se encaminhou para mim, com o nariz levantado, sendo logo seguida pelo resto do grupinho. Já fora amiga de todas aquelas raparigas, em tempos, contudo, nunca falara com os rapazes, já que eles eram relativamente novos naquela escola. Quero dizer, ao pensar bem, pareceu-me reconhecer um deles de uma vez me ter empurrado no corredor.

Revirei os olhos.

– Não vais mesmo parar de me importunar a vida? – perguntei-lhe, tentando parecer cansada. A ameaça que ela me enviara ainda me pairava na cabeça, como um aviso em letras vermelhas e a negrito. Bem no fundo do meu peito (ou talvez bastante mais à superfície), sentia-me nervosa e com medo do que aquela rapariga loira e bonita me poderia fazer.

– Vim só cumprir a minha promessa – afirmou. E não consegui evitar engolir em seco. Todavia, recompus-me rapidamente, desencostando-me da parede e assumindo uma postura mais forte.

Fiquei ligeiramente surpreendida (não sei bem porquê, já sabia que podia esperar tudo vindo da parte dela) quando os dois rapazes avançaram e um deles me rodeou a cintura com um braço, tapando-me a boca com a mão livre.

Nem Todos Os Espelhos RefletemOnde histórias criam vida. Descubra agora