17.

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A sua voz não estava zangada. Pelo contrário, parecia estar a rir-se.

A minha mãe observava-nos, de pé no relvado, aconchegada num grande casaco comprido e num gorro peludo.

Olhámos os dois para ela, completamente encharcados e ainda com amostras de sorrisos nos nossos rostos.

– Mãe, eu...

Ryan interrompeu-me.

– Peço imensa desculpa, a culpa foi totalmente minha e... – A minha mãe calou-o com uma gargalhada.

– Por amor de Deus! Não precisas de estar a desculpar-te, rapaz! Sabes há quanto tempo é que eu não conhecia um amigo da minha filha?! – perguntou-lhe, parecendo feliz.

Revirei os olhos, nadando até à beira da piscina e subindo com a ajuda dos braços. As minhas roupas estavam todas encharcadas e muito mais pesadas, dificultando-me a ação, mas rapidamente me coloquei de pé, a roupa totalmente colada ao meu tronco. Quando Ryan subiu, vi que a sua figura não estava muito diferente da minha, salvo que os seus cabelos se encontravam completamente despenteados, separados em inúmeros caracóis atafulhados uns nos outros, devido a ele lhes ter tentado remover um pouco da água.

Puxei o meu cabelo comprido todo para o ombro direito e apertei-o, espremendo-o o mais que consegui naquele momento.

Quando me endireitei novamente, vi Ryan dirigir-se à minha mãe e estender-lhe uma mão para ela apertar. Ela assim fez, sorrindo. O rapaz esboçou também um ar feliz, e eu percebi que a minha mãe gostara dele.

– Sou o Ryan – apresentou-se.

– Ana Santos, mãe da Alice. Acho que vocês se deviam ir trocar.

– Não tenho roupa... – disse Ryan, parecendo bastante nervoso e arrependido com a ideia de ter de caminhar encharcado até casa. De repente, senti pena dele.

– Há algumas roupas antigas do meu marido lá em cima. Podes vesti-las – ofereceu a minha mãe.

– Obrigado, mas...

– Não se fala mais de assunto! – interrompeu-o. – Ficas para jantar?

– Eu não quero incomodar.

– Não incomodas – intrometi-me, esboçando um sorriso e corando quando os seus olhos se prenderam aos meus por alguns segundos.

– Está bem, obrigado. Vou então mandar mensagem à minha mãe a avisar.

Assenti, feliz por ir ter uma refeição em casa diferente das usuais, após tanto tempo.

Seguimos ambos a minha mãe até dentro de casa, abraçando os nossos próprios peitos devido ao frio que o vento nos fazia sentir, e subimos as escadas depois de sermos obrigados a descalçar as meias à entrada. Entrei no meu quarto, ouvindo a minha mãe a guiar Ryan até à casa de banho e a dizer-lhe que demoraria apenas cinco minutos para lhe levar as roupas.

Sequei-me com a toalha de banho, vesti umas leggings e uma sweatshirt quente por cima da roupa interior e desci para a cozinha, as meias peludas de andar em casa e proporcionarem aos meus pés uma confortável experiência.

Ryan já lá se encontrava, sentado desconfortavelmente numa das cadeiras, a ouvir a minha mãe a falar, enquanto cozinhava, de como gostava que eu finalmente tivesse um amigo. Sentei-me ao lado dele, lançando-lhe um sorriso encorajador, tentando descontraí-lo.

– Não lhe ligues – pedi-lhe, num sussurro -, está demasiado entusiasmada com isto tudo.

– Acho que ela está apenas feliz por te ver sorrir – declarou, no mesmo tom baixo que eu.

Ela começou a pôr a mesa e nós ajudámo-la, distribuindo as tarefas e acabando em dois minutos.

Em menos de dez minutos, estávamos todos sentados a comer lasanha, feita no fim-de-semana anterior, acompanhada de salada.

– Acho que fiquei rendido a esta lasanha! – exclamou Ryan, limpando a boca com o guardanapo e, seguidamente, engolindo mais uma garfada.

– Se quiseres mais não hesites em pedir – disse-lhe a minha mãe, alegria estampada na sua cara.

Por mais que não gostasse de admitir, por toda aquela situação ser um pouco constrangedora, gostava de a ver feliz por conhecer o rapaz de olhos azuis e cabelo completamente despenteado. Era bom ver como eles se estavam a dar bem.

No final do jantar, Ryan foi-se embora e eu subi para o meu quarto, ainda feliz e com um sorriso no rosto. Queria evitar as perguntas da minha mãe.

Estava sentada na cama há pouco tempo quando o meu telemóvel vibrou.

Surpreendi-me ao ver o nome no ecrã. Pensava que ela já tinha apagado o meu número há muito.

Amanda.

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Nota de Autora

Em caso de se estarem a perguntar o porquê de alguns capítulos serem relativamente grandes e outros bastante pequenos (como este), tem a ver com a maneira como eu os escrevi à primeira. Na altura eu não ligava nada a isso do tamanho dos capítulos. Agora, como isto é a edição e eu acrescentei coisas, alguns acabam por ter 3000 e tal palavras enquanto outros nem chegam a 500... Sempre giro :p

Já agora, aposto que já tinham saudades da Amanda eheh

Nem Todos Os Espelhos RefletemOnde histórias criam vida. Descubra agora