22.

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Depois de ir a casa, me trocar e mudar os livros e cadernos no interior da minha mochila (sem qualquer impedimenta, já que a minha mãe já saíra), eu e Ryan caminhámos descontraidamente até à escola, visto que, chegássemos mais cedo ou mais tarde, a professora de Inglês não nos deixaria entrar na aula.

– Comeste? – perguntou-me ele, assim que avistámos o portão já tão conhecido por ambos.

– Sim – menti. – Bebi um copo de leite e comi uma fatia de pão.

Ele assentiu, o que me fez sentir ligeiramente culpada, e, seguidamente, dirigimo-nos aos cacifos para eu guardar a mala e tirar os materiais de Físico-Química. Engoli em seco ao pensar no meu teste de diagnóstico anulado, mas rapidamente mandei os pensamentos embora, não querendo que o meu sorriso se apagasse. Precisava de mostrar a Amanda que eu não era fraca nenhuma.

Durante o tempo que nos restou até ao toque de entrada da aula seguinte, Ryan e eu falámos de música, acabando por descobrir que tínhamos gostos em comum (algo que eu havia percebido nessa manhã, ao ver os posters no quarto dele). Ambos éramos fãs dos Nirvana e dos Ramones, apesar de não haver muito mais de semelhante. Ele era um rapaz que não ligava muito a isso, maior parte das vezes ouvia o que dava na rádio.

Não vi Amanda no intervalo e também não a tentei procurar; contudo, na aula, já não foi a mesma coisa. Éramos da mesma turma e não nos cruzarmos era praticamente impossível, mas decidi ignorá-la quando me lançou um sorriso de desdém, estando pronta para me vingar mais tarde com qualquer coisa que aparecesse, tal como fizera com o batom.

Quando chegámos ao refeitório, à hora do almoço, o cheiro a comida invadiu as minhas narinas, provocando-me náuseas. Não jantara no dia anterior e também não comera de manhã e tinha a sensação de ter uma bolha de ar dentro de mim em vez de um estômago.

– Sabes o que é a comida hoje? – perguntei-lhe, com uma ligeira careta. Nem era por aquela ser a cantina da escola, mas sim por o cheiro da comida me estar a meter maldisposta.

– Não faço a mínima, mas tenho fome. Já tomei o pequeno-almoço há bastante tempo.

Para meu alívio, a sopa daquele dia era caldo verde e não uma pasta amarela qualquer. Não me apetecia comer, por isso iria optar apenas pelo caldo, só para ver se não desmaiava aí num sítio qualquer.

Peguei no meu tabuleiro, sem ligar aos olhares e aos risos do grupo de Amanda, que com certeza se encontrava a ser assolado por recordações da tarde anterior.

Fiquei um pouco feliz por ser Inverno. Assim podia esconder as palavras nos braços e pescoço sem parecer nenhuma anormal. Bem, para ser verdadeira, acho que, pela maneira como todos me tratavam, devia parecer uma esquesitóide na mesma, mas decidi não pensar nisso naquele momento.

Amanda estava sentada numa mesa ao fundo do refeitório, de costas para mim. Todavia, Rui e Tiago trocavam olhares de gozo e Beatriz sussurrava qualquer coisa ao ouvido da loira que a estava a fazer mexer os ombros, rindo-se.

Revirei os olhos, ergui a cabeça e caminhei pelo refeitório até encontrar uma mesa com lugares disponíveis, sendo seguida de perto por Ryan, que não dissera uma palavra desde que pagáramos a comida.

Ele sentou-se, mas eu limitei-me a pousar o tabuleiro, pegando numa das duas tigelas de sopa que levara para a mesa.

– Volto já – avisei-o, recebendo uma expressão confusa em resposta.

Senti o seu olhar nas minhas costas enquanto me dirigia à mesa de Amanda, tentando não pensar muito no que estava prestes a fazer. Quanto mais pensasse, mais provável era perder a coragem.

Nem Todos Os Espelhos RefletemOnde histórias criam vida. Descubra agora