20.

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Ryan abanou-me os ombros, tentando prender-me à realidade, tentando manter-me acordada. Mas doía-me fortemente a cabeça e só me apetecia fechar os olhos e dormir, as pálpebras a pesarem-me como chumbo.

– Oh meu Deus! Fico tão feliz por estares bem! – exclamou, com um sorriso fraco na cara. Não consegui distingui-lo muito bem, os meus olhos um pouco desfocados. – Anda, temos de tirar-te daqui! – pronunciou, num tom mais grave e apressado.

Um braço passou por baixo dos meus joelhos e outro pelas minhas costas e, quando Ryan fez força para me levantar – soltando um som de esforço – agradeci ao facto de a nossa diferença de alturas ser tão grande, já que ele, depois de me ajeitar, conseguiu começar a andar compassadamente. Coloquei os meus braços em redor do seu pescoço, numa pequena tentativa de o aliviar, e ele olhou para o meu rosto, preocupação evidente na sua expressão. Ele não fitava os meus olhos, mas sim as minhas bochechas, a minha testa, o meu pescoço. Perguntei-me o que lá estaria escrito, mas não me importei muito, naquele exato momento.

Estava fraca demais para manter os olhos abertos. A minha cabeça doía na parte detrás e tinha comichão por toda a minha pele.

– Não me leves para casa, por favor – ainda consegui pedir, com uma voz fraca mas desesperada. Não podia deixar que a minha mãe descobrisse o que tinha acontecido. Ela não sabia de nada e tinha de continuar assim. Era demasiado difícil contar-lhe. Sabia que ela me diria para os enfrentar, para ser forte, para fazer queixa deles. Mas ela não saberia as consequências disso, não pensando em como era estar no meu lugar. – Manda mensagem à minha mãe, mas não a deixes ver. Ela não... Por favor.

E então as minhas pálpebras cederam ao peso do chumbo e eu mergulhei numa imensidão de sonhos que, mais tarde, não haveria de relembrar.


***


Um estrondo ecoou pelos meus ouvidos e despertei imediatamente. Levantei a cabeça da almofada confortável e uma dor atingiu-me o interior do crânio.

Que raio é que estava a acontecer? Onde é que eu estava?

Olhei em redor: encontrava-me deitada numa cama de lençóis brancos com um padrão comum, num quarto desconhecido. As paredes eram brancas e estavam revestidas por posters de bandas de que eu era fã. Mas aquele não era o meu quarto. O candeeiro que se encontrava pendurado no teto não me era familiar e a secretária branca também não.

Uma figura levantou-se do tapete, assustando-me com o movimento repentino, e olhou-me com preocupação.

– Desculpa ter-te acordado com o barulho... – disse Ryan, coçando a parte de trás do pescoço. – Tropecei no tapete. Esta coisa é mesmo escorregadia!

Não pude evitar rir da careta que ele fez quando olhou para o objeto de adorno, enviando uma dor forte para a minha cabeça. Recordações da tarde do dia anterior começavam a chegar à minha mente, o meu coração a acelerar.

– Onde é que eu estou? – perguntei-lhe, subitamente aflita. A luz matinal penetrava pelos cortinados da janela, inundando o quarto com uma luminosidade fosca mas suficiente.

– No meu quarto – afirmou, parecendo reticente. – Não sabia para onde te levar mais! – apressou-se a explicar, ao olhar a minha expressão chocada. – Tu disseste-me para não te levar para tua casa, para a tua mãe não te ver, estão eu trouxe-te para aqui.

– O que é que aconteceu? Que horas são? A minha mãe deve estar bué preocupada! – exclamei, desesperada. Só de imaginar o que ela devia estar a pensar! Provavelmente já ligara à polícia a participar o desaparecimento! Como é que eu podia ter sido tão irresponsável?! Raiva de mim própria brotou-me no interior e eu olhei Ryan com os olhos arregalados.

Nem Todos Os Espelhos RefletemOnde histórias criam vida. Descubra agora