18.

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Li a mensagem, de sobrolho franzido.

Vais pagar por te teres metido comigo.

Acho que nunca tinha conhecido nenhuma rapariga tão dramática! Porque é que ela não se limitava a deixar-me em paz?

Apaguei a mensagem, pousei o telemóvel e deitei-me enroscada nos cobertores, desfrutando da sensação do quente e das memórias das bem passadas horas anteriores.


***


Acordei, no dia seguinte, com o som do despertador a romper o descanso do meu ouvido esquerdo, sentindo o meu coração a acelerar com a surpresa do barulho completamente irritante.

Tomei um duche rápido e vesti-me com o que encontrei primeiro, não me preocupando realmente se estava bem ou não. Há muito que me deixara de preocupar, já que não gostava de me ver com qualquer conjunto que vestisse, por mais que a roupa fosse bonita. Era apenas o meu corpo. O meu corpo era o culpado e não podia deixar de me sentir mal por isso.

A minha mãe estava na cozinha já com o pequeno-almoço feito e, mal me viu, um grande sorriso iluminou o seu rosto madrugador.

– Não me vais contar? – perguntou, assim que me sentei e peguei na primeira torrada.

– Contar o quê? – Já sabia o que vinha aí, porém, quanto mais tempo me fizesse de desentendida, mais tarde a real conversa chegaria.

– Como conheces-te o Ryan.

– O que é que isso interessa? – Não estava mesmo com paciência para falar daquilo, e também não queria. Não era nada contra a minha mãe, mas a nossa relação há muito que tinha sido quebrada e não era agora, só por eu ter um amigo, que ela se iria restabelecer. Havia demasiada distância entre nós, demasiada culpa tanto no meu peito como no dela.

– Imagina que o conheceste num grupo de drogados! Preciso de saber! – ripostou.

– Ah sério, mãe? – repliquei, tendo a certeza de que o meu tom chegava para ela perceber como a sua pergunta fora ridícula. – Achas que ele tem aspeto de drogado?

O alarme do meu telemóvel tocou antes de ela responder e eu agradeci mentalmente a Ryan por me estar a ligar. Levantei-me rapidamente da mesa, já tendo acabado de comer, e atendi a chamada assim que me encontrei no corredor.

– Despacha-te, estou cá fora! – disse ele, do outro lado da linha, assim que eu atendi. Surpresa invadiu-me.

– O que é que estás aqui a fazer? – perguntei-lhe, subindo as escadas, entrando no meu quarto e colocando o telemóvel em voz alta.

– Vim buscar-te. Despachei-me cedo e não me apetecia chegar à escola e andar por aí sozinho pelos corredores.

Ri-me com a sua resposta, entrando na casa de banho ainda com o telemóvel na mão.

– Vou só lavar os dentes e já desço, sim? – informei-o, sorrindo com o facto de ele me ter vindo buscar. Sabia bem saber que havia alguém que se importava realmente comigo e em quem eu podia confiar.

– Na boa, até já – e desligou.

Lavei os dentes rapidamente, peguei na mochila e desci as escadas, gritando à minha mãe que tivesse um bom dia, antes de abrir a porta e sair para o jardim, avistando logo Ryan do outro lado do portão.

Caminhei até ele, destranquei a fechadura e saí, dando-lhe um beijo de bons dias na bochecha.

– Bom dia! – cumprimentou-me com um sorriso.

Nem Todos Os Espelhos RefletemOnde histórias criam vida. Descubra agora