Prólogo

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O coelho olhava em volta, tentando ver a garota de cabelos loiros e olhos cinza. Seu nome não era Alice, mas tinha a mesma coragem que a pequena Alice teve quando visitou o país. Mas sabia que não podia contar mais com ela, a pequena Alice já não era mais tão pequena, e sim uma mulher casada, e estava muito longe para poder ir buscá-la em tão pouco tempo.

Vinha observando essa jovem menina já fazia algum tempo, e até mandara uma carta para o chapeleiro, perguntando se achava correto levar essa completa desconhecida para seu país, mas não tinha muita escolha, seu tempo já se escorria como areia em seus dedos, logo a Rainha Vermelha sentiria sua falta, e iria pedir sua cabeça. E vai por mim, o coelho estava muito a fim de manter sua cabeça grudada no pescoço.

Tinha que pensar numa maneira de chamar sua atenção. Estava pensando em fazer igual fez com Alice na primeira vez que esteve ali, mas será que essa jovem seria tão esperta quanto Alice? Será que correria atrás dele só por curiosidade? Esperava que sim, não tinha muito tempo.

Olhou ao redor mais uma vez procurando pela menina dos olhos de tempestade, e a encontrou perto do jardim. Perfeito, pensou. Agora é só tentar um jeito de chamar sua atenção. Caminhou até ela, indo por dentro dos arbustos, mas sem tirar os olhos dela, para não perdê-la de vista. Era a única chance que tinha.

Ao chegar mais perto notou como se parecia com Alice, os cabelos louros longos, a pele branca como a neve, mas a semelhança parava por ai. Alice era mais baixa, e os olhos eram azuis, o rosto era mais inocente e o corpo mais suave como o de uma criança. Notou a mudança drástica das gerações, pois essa menina, um pouco mais velha que Alice era bem mais desenvolvida. Tinha mais curvas no corpo, e em seu rosto você via determinação, e os olhos como tempestade dava um ar de superioridade a ela, mesmo ela tendo a mesma humildade de Alice.

Conseguiu chegar mais perto ainda escondido nos arbustos, e ouviu parcialmente a conversa entre ela e uma mulher mais velha. Não entendeu direito a conversa, mas tinha algo a ver com repolho e vinagre. Horrendo.

Como de modo automático pegou em seu relógio. Droga! Estava atrasado – como sempre – e sem querer acabou soltando um grito.

−Merda!

A menina olhou assustada para os lados, e a mulher que estava ao seu lado também. Mas algo me diz que não foi por ouvir o coelho gritar.

−Ah que droga, eu falei para o Ethan colocar rosas-vermelhas e não brancas. Eu já volto. Não saia daí.

Por sorte do Coelho, a mulher junto com a menina, se afastou e então aproveitou a oportunidade e saiu de dentro dos arbustos e gritando, saiu correndo torcendo para que a menina fosse atrás dele.

−Estou atrasado, atrasado!

−Hei! – ouviu a menina chamar. – Ótimo! Isso mesmo, pensou o Coelho. Sentiu passos apressados atrás dele e foi direto para a entrada da floresta onde o portal ainda estava aberto. Olhou para trás por míseros segundos garantindo que a menina estaria atrás dele e logo saltou depois para a escuridão, torcendo para ela ir atrás dele.

A queda não foi tão longa considerando que já estava acostumado com ela. Assim que caiu de cara no chão, pegou a chave extra e abriu a pequena porta. Não podia interferir na ordem das coisas, a menina deveria achar a porta e entrar sozinha, só assim nós saberíamos que ela era digna de pisar os pés nas Terras das Maravilhas.

Assim que a porta se fechou atrás de si, desceu a pequena escada que ali se encontrava, e foi de encontro com seus amigos que ali estava. Tomou sua forma humana – detestava estar em forma animal, só o fazia quando necessário – e se juntou com o grupo que aguardava no grande portão.

Ouviu um grande baque e um pequeno sorriso se formou em seus lábios, a menina o seguira. Não podia ficar aqui esperando a garota entender como as coisas funcionavam para entrar no País das Maravilhas, mas se ele estiver certo ela é tão inteligente quanto Alice.

−Tludy e Bubly fiquem de olho na menina, e a leve até o Chapeleiro. Preciso contar para o Príncipe que a garota chegou.

−É claro, Coelho.

−E você, nada de assustar a menina, está ouvindo Rap?

−Mas porque o pequeno ratinho aqui é sempre o culpado? – Rap, o Rato se pronunciou totalmente indignado.

−Nada de espada, muito menos de fogo, está ouvindo? – o Coelho insistiu.

−Tudo bem, tudo bem!

−Ótimo. Já sabem, levem ela direto para o Chapeleiro. Encontro vocês lá.

O Coelho pegou sua cartola, olhou mais uma vez em seu relógio e se apressou a ir para o Palácio da Rainha Vermelha. Assim que estava perto do castelo, pegou seu Conderado* de Copas e colocou em seu paletó azul e vermelho.

Passou pelos guardas no portão, na entrada para o interior do palácio, e assim que atravessou o grande salão correu até o Jardim Real; era tarde, hora do jogo de golfe da Rainha. Tinha dó dos flamingos* nessa hora. Eles ficavam com uma dor de cabeça dos infernos depois dos jogos.

Sorrateiramente chegou perto do príncipe, ficando atrás dele, que assim que sentiu sua presença ficou rígido.

−Ela chegou, Majestade. Está a caminho da casa do Chapeleiro.

−Ótimo, Coelho, ótimo. Peça ao Chapeleiro que a leve até a Rainha Branca. Ela saberá o que fazer. – disse baixo, ainda de costa para o Coelho.

−Sim, senhor.

−E Coelho, garanta que nada aconteça a ela. Essa garota é muito mais que nossa salvadora, ela é dona do meu coração.

−É claro, senhor.

O Coelho se afastou discretamente, e o Príncipe voltou sua atenção ao jogo. Afastou-se do local, e logo viu uma coruja voando, com um papiro na mão. E não era uma coruja qualquer, era Magnus a Mensageira.

Pegou o papiro jogado por ela, e agradeceu enquanto via a mesma sumir de vista voando para longe. Abriu a carta e revirou os olhos. Porque eles nunca conseguiam realizar um simples pedido decentemente?

Respirou fundo e começou a caminhar sentido a casa de Hécate, a Lagarta.

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*Conderado - uma identidade real que dava acesso aos pódios governados pela Rainha Vermelha

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