O Herdeiro do Trono

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Eu andava de um lado para o outro, me sentia nervosa e não queria nem mesmo pensar no que aquilo ia dar. O Chapeleiro já devia estar tonto de acompanhar meus movimentos com a cabeça.

-Será que dá pra você sentar? Você vai abrir um buraco no chão se continuar a ir de um lado para o outro.

-Não quero vê-lo. - Acabei admitindo.

-O Príncipe? Ora, Annabeth, mas o que é que tem de tão mal que toda vez que nós o mencionamos você fica branca como um papel?

Parei de andar e olhei para ele ponderando se eu deveria ou não contar minha pequena história com o príncipe dele.

-Nós nos conhecemos há muito tempo, e digamos que vê-lo com a Duquesa não estava em meus planos.

-Você já esteve aqui antes? - me perguntou confuso.

-Não, né?! Acredite: Se eu tivesse vindo aqui mais de uma vez eu com certeza me lembraria! - afirmei me sentando na poltrona a sua frente. -Ele foi ao meu mundo uma vez. - eu disse aquilo e notei o quanto aquilo parecia ridículo. Meu mundo e o mundo dele.

-Ai caramba! Então é você a garota? - ele perguntou mais para ele mesmo.

-Que garota? - perguntei curiosa, mas não deu para ele me responder, já que a Rainha entrou na pequena sala que nos encontrávamos e disse que nossa visita tinha acabado de chegar e que precisávamos nos direcionar a sala do trono.

Eu queria dizer que estava passando mal e que iria me retirar para meu quarto, ou simplesmente queria sair correndo só para não ter que encara-lo. Ridículo, eu sei. Pareço uma criança. Mas fazer o que, né? Me disseram que eu sou "louquinha de pedra". Estou fazendo jus à frase!

Fiquei estática no lugar até o Chapeleiro me puxar pelo cotovelo e me fazer acompanhar seus passos. A Rainha que ia à frente elegante como ela era, parou e sorriu quando chegamos a Sala do Trono, e nos deu passagem para que entrássemos primeiro. Ela era uma boa anfitriã. Aposto que a tia Afrodite ia adora-la.

Como será que Piper, a Hazel, o Jason, Leo, Frank estão? Será que estão procurando por mim? E o vô Zeus? Pelos deuses! Estava tão preocupada em estar naquele lugar maluco que nem tinha pensado em minha família! E meus pais? Será que já sabiam de meu sumiço? Será que contaram para vovó em Londres? E se...

-Annabeth! - Chapeleiro gritou em meu ouvido me fazendo voltar à realidade. Olhei para ele e fiz uma careta me desculpando e seguindo ele sala adentro.

Ele estava de costas. Olhava o imenso jardim pela enorme janela que tinha ali, seus ombros largos e seu bom cheiro de maresia me invadiram e todas aquelas sensações que eu tanto amava me invadiram e aquele calor agradável tomou conta do meu corpo.

Percy...

Ele se virou ao notar nossa presença e seus olhos focaram em mim. Ficamos assim por minutos? Segundo? Horas? Não sei, mas foi como se não tivesse mais ninguém ali, somente eu e ele naquele lugar.

Desviei olhar quando o Chapeleiro ao meu lado se curvava em respeito e o saldava com "Sua Graça", e eu senti vontade de rir com aquilo. Me lembrou Game Of Thrones. Acho que o Chapeleiro esperava que eu me curvasse também porque ele olhou para mim com um olhar que dizia "O que você está fazendo ainda de pé!? Curve-se!" Não fiz isso, é claro, e continuei ali em pé olhando para ele.

-Annie... - meu coração bateu mais forte quando ele me chamou pelo meu apelido. Ele ainda se lembrava! -Fico feliz que tenha sobrevivido aos guardas. - disse se referindo ao seu ato nada heroico em tirar o Chapeleiro do Castelo Vermelho.

Sorri sem saber o que responder, e por sorte nem mesmo precisei, já que a Rainha pigarreou de leve nos chamando para tomarmos assento a grande mesa que tinha ali. Ela se sentou na ponta, Percy a sua direita e eu e o Chapeleiro a sua esquerda.

-Porque não começa, Percy, contando-nos o que sabe? - A Rainha com toda a sua sutileza disse direcionando toda sua atenção a ele.

-O Cassino é o problema. - ele começou e direcionou seu olhar para mim. -Ela prende as Ostras e as drena até o máximo que pode.

Olhei para ele horrorizada sem entender muito bem sobre o que ele está falando, mas as palavras "prende" e "drena" não foi exatamente uma coisa legal de se ouvir.

-Como assim: Ostras? E o que você quer dizer com "drenar"? - perguntei um pouco assustada.

-Me desculpa! Me expressei do jeito errado. As Ostras são as pessoas do seu mundo. Quando a Caravela dos Engravatados trazem as pessoas através do espelho, elas são marcadas pelo refletor de luz, que faz uma marca verde aparecer na pele de você. Eles as levam para o Cassino e te prendem por lá, fazendo você esquecer-se de tudo, e "drenam" seus sentimentos para que a Rainha possa experimentar novas sensações humanas.

-Então... Nada de "cortem-lhe a cabeça!" ou algo do tipo? - idiota, eu sei. Não era essa realmente a pergunta que eu deveria fazer.

-Acho que isso é um mal da família. Ela gosta de ver uma cabeça rolar. Sinto muito. - Ele me respondeu com um sorriso no rosto. Seus olhos tão lindo...

-E o que devemos fazer quanto ao Cassino? - perguntei. Não poderíamos só chegar lá e gritar "Vamos para com essa palhaçada e liberar todo mundo!" Muitas cabeças iriam rolar se fizéssemos isso!

-Antes de qualquer coisa, temos que encontrar a chave que ativa o Espelho. Enquanto o espelho estiver "ligado", não conseguiremos dar um fim no Cassino e parar de vez a louca da minha mãe. - Percy respondeu a minha pergunta passando seu olhar de mim para a Rainha. -Precisamos encontrar o Anel do País das Maravilhas.

-E você tem noção de onde possa estar? - questionei imaginando que tipo de anel seria aquele.

-Não. Ninguém sabe, mas diz a lenda que temos que vagar pela Floresta do Norte até a Cidade Abandonada dos Cavaleiros Brancos para encontrar a pedra encantada. - O Chapeleiro se pronunciou.

-Pedra Encantada?

-Sim, dizem que quando um desejo verdadeiro é feito a ela, ela reflete esse algo e mostra o caminho até ele. - Chapeleiro respondeu a minha pergunta.

-Muito bem. - A Rainha se pronunciou. -Parece que vocês três precisaram ir até a Floresta do Norte. Saiam pela manhã, por hora vão descansar, vocês terão uma longa viagem. - pronunciou dando o assunto por encerrado. Elegantemente se levantou de sua cadeira e se retirou chamando o Chapeleiro para que a acompanhasse.

E eu em vez de fazer o mesmo, fiquei ali, encarando aquele belo par de olhos verdes que por muito tempo me prenderam e me fez perder muitas noites de sono, aqueles mesmos olhos pelo qual eu ainda era apaixonada.

-Senti sua falta, Annie - Percy se pronunciou se levantando e se sentando ao meu lado onde minutos atrás era ocupado pelo Chapeleiro. Sorri ao ouvir aquelas palavras. Olhei para ele, para seu rosto lindo, e fiquei tentada a levantar a mão e acariciar sua bochecha, mas então me lembrei da cena dele com a Duquesa e me afastei.

-Não deveria. Afinal você já está bem acompanhado, não é mesmo? - respondi me levantando e seguindo para a porta, sem dar chance de ele me responder.

Fuji para a segurança do meu quarto sem me permiti chorar ou deixar meus sentimentos conturbados tomarem conta de mim. Afinal amanhã eu iria para a Floresta do Norte, e algo me dizia que ali não era uma floresta encantada.

No País das MaravilhasOnde histórias criam vida. Descubra agora