O Espelho do País das Maravilhas

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Quando chegamos, a Rainha aguardava junto a todos ali mesmo na entrada. Sempre altiva e elegante, conversava com todos acalmando os ânimos e quando nos viu veio falar comigo enquanto Percy ia até o Chapeleiro.

—Eu sabia que conseguiria! – Disse me abraçando. —Estou orgulhosa de você.

—Obrigada, Majestade. – Eu não me sentia exatamente vitoriosa, mas isso com certeza valia de alguma coisa.

—Venha, querida. Vamos a um lugar mais calmo.

Andamos até o jardim e por um longo tempo, ninguém disse absolutamente nada. Senti um djavu sinistro, pois era exatamente assim que eu estava antes de, literalmente, cair de cabeça naquele lugar.

—O que irá fazer, agora Annabeth? – A rainha me perguntou depois de colher uma bela rosa branca.

—Como assim, Majestade?

—Bem, você salvou o nosso mundo, e eu sou extremamente grata por isso, e eu retomei meu lugar de direito no trono, o que significa que Percy já não tem mais responsabilidades como herdeiro do trono.

—Ah, bem... não tinha pensado nisso. – E não tinha mesmo. Muita coisa tinha acontecido para eu realmente parar para pensar em pequenos detalhes como esse. Mas o que isso tem a ver comigo, como pode ser algo que eu deva fazer? Questionei isso a rainha.

—Não sei, Anna. Mas Percy arriscou até mesmo sua vida para traze-la até aqui, porque tinha uma fé imensurável em você. O que isso lhe diz respeito?

—Eu entendo, Majestade. Mas o que aconteceu entre nós foi a muito tempo, e mesmo que nossos sentimentos ainda estejam presentes, não cabe a mim decidir. Somos de mundos diferentes, literalmente falando. Não posso pedir que ele vá para o meu, só porque quero. Seria egoísmo, e eu posso ter muitos defeitos, mas ser egoísta, jamais.

Bem, de mundos diferentes nem tanto, principalmente quando se descobre que é parente de um cara que era para ser só um personagem de livro.

Saber que esse mundo era real ainda era algo que, apesar de tudo, eu não tinha exatamente processado.

Precisava mesmo ter uma conversa muito séria com a vovó Alice.

—Muito bem. Era exatamente isso que esperava de você. Venha, vamos abrir o espelho.

Quando voltamos para o pátio principal, onde todos estavam reunidos, a rainha gentilmente, pediu para Chapeleiro que trouxesse o espelho até lá.

Não sei como ele aguentou. O espelho era enorme. Dez vezes seu tamanho. Mas como nada ali funciona da maneira convencional, não me preocupei tanto com isso.

—Percy, querido, traga-nos o anel. - tirei o anel do bolso e entreguei a ele.

Assim que o anel foi encaixado na lateral do espelho, o mesmo começou a tremular, como ondas.

—Poxa! Isso é incrível! – Ouvi um rapaz dizer em algum lugar próximo de mim.

—Com certeza escreverei sobre esse lugar. Ganharei fortunas! – Ouvi outro dizer.

Mal sabe ele que já tem um livro sobre esse mundo.

Um a um, todos foram sendo jogados espelhos a dentro, todos voltando para seu país, para sua família, para seu lugar. De repente era minha vez!

—Vou sentir sua falta, Anna. – Chapeleiro apareceu ao meu lado. —Tente não crescer demais por lá, ok?

—Ah, Chapeleiro. Também vou sentir sua falta. Foi uma aventura e tanto, não é mesmo? – Me joguei em seus braços o abraçando bem apertado pelo pescoço.

—Sempre é uma aventura quando se trata de sua família. Não se esqueça de nós, ok? –Me deu um beijo na bochecha e se afastou.

—Não vou. Eu prometo.

—É bom mesmo, garota. Vamos dar um jeito de cobrar isso de você. – O Coelho falou ao se aproximar também. —E nada de seguir animais falantes e cair em buracos desconhecidos, ok?! – Ele me abraçou e me beijou na bochecha.

—Não se esqueça da hora do chá! – O Ratinho disse me abraçando. —Uma xicara de chá sempre resolve a maior parte dos problemas.

—Ah querida, nunca se esqueça de ter coragem, e de ser gentil. São coisas muito importantes em nossa vida. – A Rainha aconselhou me abraçando. —Seja sempre gentil e tenha coragem, que desta forma vai conquistar o mundo! E dê uma chance ao coração, na maior parte das vezes ele sempre está certo.

Corei de leve.

E então era a vez dele. E sabe aquele egoísmo que eu disse que não sentia, ele me agarrou com força. Não queria que ele ficasse, queria que ele fosse comigo. Nós poderíamos recomeçar. E então eu vi, uma vida toda com ele, em algum lugar aconchegante em Londres, com filhos, uma lareira quentinha e um bom chá inglês. Era isso que eu queria, e queria com ele.

Mas não disse nada. Não poderia. Essa decisão tinha que ser dele.

—Bem, parece que no final, tudo acabou bem, não é mesmo? – Falei quebrando o gelo que se instalou entre nós.

—Pois, é! Quem diria, que eu realmente estava certo sobre trazer você até aqui. Sabia que conseguiria.

—Vou sentir sua falta, Percy. – O abracei. Precisava disso uma última vez.

—Eu também vou, Anna. Mais do que imagina. – Ele me apertou um pouco mais e eu me senti segura. Ali era meu lugar, nos braços dele.

—Eu amo você. – Sussurrei para ele ainda com a cabeça enterrada em seu peito. —Amo você. Nunca se esqueça disso.

—Anna, você sempre foi a mulher da minha vida. Sempre será. Nada vai mudar isso. – Não fiquei chateada por ele não ter dito que me ama, porque na verdade o que ele falou valia ainda mais.

—Eu preciso ir. Minha família... – ele me soltou e um vazio, frio e sufocante se instalou em meu peito.

—Eu sei. – Ele me deu um beijo na testa e encostou a sua na minha. —Eu amo você.

Sorri, e uma lagrima escorreu pelo meu rosto.

—Não se esqueça. Mantenha as mãos e os pés juntos, não se preocupe, você não irá sentir a queda.

—Ah nem mesmo me preocupo mais. Já cai tanto que sou quase uma especialista. – Me gabei caçoando um pouco da situação.

—Claro, claro. Adeus!

E então fui empurrada espelho a dentro, e então eu estava caindo, caindo, caindo, caindo. E então abri os olhos e estava deitada no jardim da empresa de meu avô, e foi como se nada daquilo tivesse realmente acontecido.

Vi a tia Dalisa voltar com uma cara nada agradável. Mas do que é mesmo que estávamos falando?

—Ora, garota! O que faz aí deitada deste jeito no chão?! Levante-se!

—Me desculpe, tia. Me perdi em pensamentos. – Levantei e tirei a poeira do vestido.

—Então trate de se achar. Temos que voltar, o jantar logo, logo será servido.

Pois é, Annabeth, bem-vinda de volta a sua vida pacata que você estava tanto desejando!

No País das MaravilhasOnde histórias criam vida. Descubra agora